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Entrevista: “Na fazenda, pessoas são mais importantes do que as vacas”

Um amante dos lácteos em tempo integral, Lorildo Aldo Stock é um sujeito requisitado no Brasil e no mundo. Há mais de 30 anos, compõe o time de colaboradores da Embrapa Gado de Leite (principal referência da pesquisa em lácteos do Brasil), com sede em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Com o passar do tempo, na sua rotina, estreitou contatos com estudiosos dos principais países produtores de leite, como Nova Zelândia, Alemanha e Estados Unidos. Nessa entrevista, ele compartilha dados que permitiram a produção de um mapa do leite pós-pandemia da Covid-19, com avaliações e pontos que você confere clicando aqui.

Para conferir o mapa do leite pós-covid 19, clique aqui.

BI – Como começou a sua ligação com a pecuária de leite?

Lorildo Aldo Stock – Em 1990, fiz concurso na Embrapa e desde então estou sediado em Juiz de Fora, Minas Gerais. Em 1996, fui fazer doutorado em Oklahoma, nos Estados Unidos, e lá pude elaborar uma espécie de “minicenso” da atividade leiteira no Brasil. Trabalhei com 1 mil fazendas, de 10 Estados, e procurei ver o que faz uma fazenda eficiente de produção de leite. Me rendeu a tese de pós-doutorado.

Que portas esse contato com pesquisadores do exterior abriu?

Com o contato com pesquisadores
internacionais, quando voltei ao Brasil, em 2000, entrei numa rede
internacional de comparação de fazendas, que hoje é o IFCN. Trata-se de uma
rede mundial que começou como comparação de fazendas típicas. Hoje estou
completando 20 anos na rede. Colaboramos bastante com a rede mundial, porque
desenvolvi um sistema de planilhas, que compara sistemas típicos do Brasil.

Uma das dificuldades, atualmente,
é que o Brasil não é membro (categoria plena) porque o país não paga uma
anuidade do IFCN. Atualmente, juntamente com a equipe de socioeconômica do
leite da Embrapa Gado, estamos montando as bases de um projeto, nas bases de um
consórcio de empresas e entidades do setor, com o objetivo de viabilizar a
participação do Brasil como membro efetivo, pagante, do IFCN. Estamos otimistas
de que vamos conseguir. É uma questão de tempo.

Como você avalia a evolução dos lácteos brasileiros nessas três décadas
nas quais teve contato direto com o setor?

Hoje, no Brasil, a estrutura
produtiva mudou bastante. Houve uma melhoria significativa do rebanho, com
Paraná e São Paulo, principalmente, puxando o setor para sistemas de alta
produtividade. Hoje, o número de fazendas leiteiras, pelos meus cálculos, está
em torno de 1 milhão no país. Mas quem de fato produz 80% do leite são 200 mil,
digamos mais tecnificadas. O restante é subsistência. A questão da qualidade está
vindo bastante forte. O produtor, por sua vez, mudou muito, tem caminhado para
ser, antes de tudo, um empreendedor.

Hoje, a disponibilidade de dados na internet é grande, mas difícil de
transformar em informação de qualidade. Como você enfrenta esse desafio?

Oriento muitos alunos, participo
de bancas de mestrado e sempre digo que hoje tem dados demais. Apesar disso, eu
acredito em menos de 10% do que vejo na internet. Infelizmente, vemos muita
gente pegando número de qualquer jeito, fazendo análise, sem confiabilidade.
Quem quiser fazer algo diferente dessa enxurrada de informações sem
credibilidade precisa se engajar em uma rede organizada, séria, com história,
para buscar a precisão das informações nos detalhes.

Que conselho você deixa para os jovens que estão se engajando agora na
produção leiteira?

Na atividade leiteira temos um
sério problema de sucessão e isso não só no Brasil. Para o produtor de leite,
em especial, digo que ele não precisa entender de leite, precisa ter as pessoas
que vão fazer a gestão da atividade. O mesmo vale para a indústria. Dentro da
fazenda, as pessoas são mais importantes do que as vacas. Afinal, as pessoas é
que vão cuidar das vacas. Os animais, por sua vez, são mais importantes do que
o leite. Eles são as estrelas. Mas antes das estrelas, tem as pessoas. Se você
tem uma boa equipe, organizada, sabendo o que cada um faz, assessoria na hora
certa, de tempos em tempos, a chance de sucesso é muito maior. E é preciso
também abrir os horizontes, procurar ter boas informações, não só de preços.
Olhe para o mundo, não estamos mais em condições de fazer nada sozinhos.

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Fonte: Sistema FAEP



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