Mesmo atravessando períodos
desafiadores do ponto de vista climático, causados sobretudo por uma severa
estiagem, o agro paranaense continua alcançando cifras cada vez maiores. Em
outubro deste ano, o Departamento de Economia Rural (Deral) da secretaria de
Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) divulgou o relatório do Valor Bruto
da Produção Agropecuária (VBP) de 2019 (ano agrícola 2018/19). O documento
revela que naquele ano a riqueza produzida dentro da porteira somou R$ 98
bilhões, novo recorde em valores nominais.
O VBP considera tudo aquilo que é
produzido dentro da propriedade, somando os preços recebidos pelo produtor
rural. “É o somatório da produção da parte animal, vegetal e florestal pelos
produtores rurais paranaenses”, analisa Salatiel Turra, chefe do Deral. A
evolução de 2018 para 2019 foi de 9% em termos nominais e 3% em termos reais. O
percentual também é superior à média brasileira, de 2,6% no ano passado,
segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A análise tem por base o
levantamento realizado em 23 núcleos, com a colaboração de 72 técnicos da Seab
distribuídos por todas as regiões do Estado. O exame é minucioso e revela
detalhes interessantes. Este ano, o trabalho mostrou que nove municípios
ultrapassaram R$ 1 bilhão de VBP (veja o gráfico na página 10). Em 2018 eram
apenas quatro.
O município que registrou o
crescimento anual mais expressivo foi Guarapuava, na região Centro-Sul do
Estado, com aumento de 31% em relação a 2018, fechando 2019 em R$ 1,28 bilhão.
Ou seja, em torno de R$ 300 milhões a mais do que o resultado do ano anterior –
R$ 981 milhões. Toledo foi o município com maior VBP em 2019: R$ 2,21 bilhões.
Na opinião do presidente do
Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolpho Werneck Botelho, os resultados trazidos
pelo Deral evidenciam dois aspectos. “O primeiro é a questão do agronegócio em
si, que vem sustentando não só o Brasil, como o Paraná e várias cidades do
Estado. É um resultado que reflete mais tecnologia e mais informação no campo.
O segundo aspecto é que algumas regiões têm crescido em função das
agroindústrias, que vêm agregando valor a esta produção”, observa.
Trata-se de um círculo virtuoso,
no qual o desenvolvimento na ponta da agropecuária irradia seus efeitos
benéficos para os outros elos da cadeia. A eficiência na produção primária
permite a instalação e abastecimento das agroindústrias, que por sua vez,
empregam, geram divisas para o poder público e mantém a demanda agropecuária. O
ciclo se completa quando o campo consegue reinvestir e melhorar a própria
atividade, tornando-se mais produtivo. “O produtor faz a parte dele buscando
conhecimento. O sindicato rural faz par te disso levando tecnologia e
informação para o homem do campo, por meio dos eventos e cursos do SENAR-PR”,
destaca Botelho.
Arrecadação
Para o secretário municipal de
Agricultura de Guarapuava, Ademir Fabiane, também ajudam a contribuir para os
números pujantes do VBP a eficiência da arrecadação municipal. “Ganhamos mais
eficiência e contamos com mais comprometimento do próprio agricultor. A
secretaria de Agricultura, junto com a Arrecadação Municipal e a secretaria de
Finanças, contatou a Receita Estadual e conseguimos fazer um trabalho mais
apurado e afinado”, revela.
A percepção do secretário atenta
para um outro detalhe importante: um VBP maior indica maior arrecadação de
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Parte deste imposto
retorna para o interior do Estado por meio do Fundo de Participação dos
Municípios.
Força das carnes
Palotina, no Oeste, também esteve
entre as cidades com VBP bilionário em 2019, com o crescimento de mais de R$
140 milhões na comparação com o ano anterior, passando de R$ 908 milhões para
R$ 1,04 bilhão. No caso, o frango de corte respondeu pela maior parte do
resultado, com mais de R$ 422 milhões. O município é endereço da CVale, uma das
maiores cooperativas agroindustriais do país, o que explica a vocação pela
pecuária.
“Esse resultado só foi possível
devido à grande diversificação da nossa produção de proteína animal. No VBP de
2019, R$ 718 milhões se referem à produção pecuária e R$ 320 milhões foram
grãos”, analisa o vice-presidente do Sindicato Rural de Palotina, Edmilson
Zabot.
Segundo o dirigente, a produção
de aves, suínos, peixes e leite vem crescendo com força no município, fruto do
trabalho e dedicação dos agropecuaristas. “O grande responsável nesse processo
é o produtor rural aliado às cooperativas, como a CVale, que apoia e incentiva
investimentos”, afirma Zabot.
Outro expoente no time das
bilionárias, Dois Vizinhos, no Sudoeste paranaense, também tem seus números
ligados à produção de aves. O VBP do município somou R$ 1,05 bilhão em 2019,
sendo R$ 305 milhões correspondentes a frango de corte, R$ 287 milhões a
pintinhos e outros R$ 152 milhões a ovos fecundados (no somatório, 72% do
total). Também lá a produção do campo tem destino certo, por meio das
agroindústrias, como a BRF.
“Um fator positivo é que o nosso
produtor investe, se qualifica. O pessoal está muito tecnificado. Vejo várias
granjas com potencial grande de produção. E o melhor é que não sai um pintinho,
um ovo, sem nota fiscal. Para a tributação ajuda bastante”, comemora o
secretário de Desenvolvimento Rural, Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Dois
Vizinhos, Mauri Ferreira dos Santos.
Segundo o chefe do Deral,
Salatiel Turra, a proteína animal se sobressaiu em 2019 com participação de 50%
na composição do VBP. “Quem sempre se destacava [nos levantamentos anteriores]
eram os grãos. Mas nesse ano, grãos, frutas, flores e hortaliças somaram 46% e
florestas, 4%. Foi um ano atípico”, analisa. “O câmbio favoreceu esse valor
relevante da proteína animal. Outro fator foi a falta de disponibilidade de
bovinos para os mercados interno e externo. Com isso, os preços se elevaram,
levando os consumidores a buscar outros tipos de proteína”, avalia Turra.
Outro fato que chamou a atenção
dos analistas nos resultados de 2019 foi o bom preço obtido pelas commodities.
“O milho que nunca ultrapassava R$ 20 chegou a R$ 40. Naquela safra tivemos a
produção de 3,4 milhões de toneladas menor de soja por conta da estiagem. Mas
mesmo com redução de produção, o preço compensou”, observa o chefe do Deral.
Expectativa futura
Para o próximo ano, a expectativa
é de outro resultado positivo no campo paranaense. Mesmo diante de uma estiagem
prolongada, a produção de soja na safra 2019/20 no Paraná foi superior à
anterior. “Além de produção e produtividade boas da soja, o milho safrinha foi
bem também. A expectativa para 2020 é ultrapassar R$ 100 bilhões de VBP.
Arrisco dizer até R$ 110 bilhões”, analisa Turra.
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Fonte: Sistema FAEP