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Suinocultura: alta no preço não significa ganho dentro da porteira

A suinocultura nacional vive um
bom momento. Influenciada por fatores internos e externos, como o câmbio e o
apetite internacional pelos produtos brasileiros, a atividade passou
praticamente ilesa pela crise do novo coronavírus. Mais que isso, viu o suíno bater
recordes, tanto no preço pago, quanto nos volumes embarcados para outros
países.

Segundo o Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em maio deste ano, o volume exportado
foi o maior de toda série histórica iniciada em 1997, atingindo 101,1 mil
toneladas. Em julho, a instituição computou o segundo recorde histórico, com
embarques na casa das 90 mil toneladas.

Entre janeiro e julho, o setor
suinícola embarcou 511,5 mil toneladas, volume 42,4% superior ao exportado no
mesmo período de 2019, e a maior quantidade de carne suína in natura já
exportada nos sete primeiros meses de um ano, segundo dados da Secretaria de
Comércio Exterior (Secex). Desta forma, se os embarques continuarem neste ritmo
até setembro, o Brasil terá exportado mais em nove meses de 2020 do que durante
todo ano de 2019.

Do ponto de vista dos valores
pagos, o cenário também é favorável. No Paraná, a média de preços do suíno vivo
em julho ficou em R$ 5,51/kg na praça acompanhada pelo Cepea (região Sudoeste),
mas chegou a atingir R$ 6,20/kg, recorde nominal de preço. Para efeito de
comparação, na mesma época de 2019, o quilo do animal era cotado em R$ 4,56.

A alta nas cotações sofreu
influência de fatores externos – demanda aquecida de importantes países
consumidores – e internos – elevação do preço do boi gordo no mercado doméstico
-, que acabou por direcionar os consumidores para uma opção mais barata de
proteína animal (troca do bife pela bisteca), reduzindo ainda mais a
disponibilidade de suíno no mercado interno.

Porém, o dólar é o principal
fator para que os valores pagos pelo suíno brasileiro chegassem nestes
patamares. “O real está muito depreciado (em relação ao dólar). Com isso, você
tem pressão exportadora muito forte, logo o preço interno segue para o mesmo caminho”
explica Matheus Andrade, sócio consultor em comércio internacional da BMJ
Consultores Associados.

Segundo Andrade, desde a explosão
dos surtos de peste suína africana na China, que obrigou a dizimar parte dos
rebanhos de suínos, existe um “déficit mundial” deste tipo de proteína. “No
auge da crise, se dizia que a China poderia importar toda carne suína do mundo
e não atenderia toda a sua demanda”, comenta.

Independentes e integrados

A conjuntura que permite que o
preço pago pelo suíno chegue nestes patamares beneficia mais os produtores
independentes do que aqueles que atuam no sistema de integração. Isso porque
aqueles ligados à indústria recebem insumos e assistência, depois tem a compra
da produção garantida por um preço acertado previamente.

“No caso do [suinocultor]
integrado, o preço-base oscila muito pouco. Nesse momento ele não está tendo um
ganho compensatório como estão tendo os independentes, pois as integradoras
estão segurando o preço pago”, avalia Reny Gerardi, presidente da Comissão Técnica
de Suinocultura da FAEP. “Exportações em alta e consumo interno são fatores
para as integradoras remunerarem melhor os produtores”, completa.

A análise do consultor Matheus
Andrade também segue na mesma direção. “O produtor integrado aproveita o bom
momento de forma menor. No geral, ele está menos exposto ao risco, mas algumas
vezes esse produtor não vê tanto esses ganhos”, observa.

Cotações dos insumos da ração exigem planejamento

Quem observa unicamente a
valorização do suíno no mercado pode imaginar que os pecuaristas estão tendo
uma alta rentabilidade. Essa percepção, porém, não contempla todas as facetas
da atividade. Se o preço do suíno bateu recordes no mercado, o mesmo também
aconteceu com o milho e com a soja, principais insumos para a alimentação dos
animais.

“O preço [do suíno] está bem
alto, mas o custo de produção também está indo para as nuvens”, analisa o
suinocultor Reny Gerardi, presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da
FAEP. “Hoje a rentabilidade está um pouco melhor, mas não sabemos onde vai
bater o preço do milho e da soja. Por outro lado, o preço do suíno já está
saturado, chegando no teto”, avalia.

O dólar hipervalorizado e as
exportações recordes de grãos têm causado apreensão nos setores que dependem
destes produtos no mercado interno para fazer seus negócios girarem. “A
principal preocupação do suinocultor independente é a falta de milho e soja até
o final do ano. A soja está em um preço extraordinário, então quem tem está
exportando”, observa Gerardi.

Quando não é exportada, a
oleaginosa atinge preços altos no mercado interno. De acordo com análise do
Cepea, as boas margens para o esmagamento de soja e os baixos estoques estão
levando algumas empresas domésticas a pagarem o preço do produto colocado nos
portos por novos lotes da matéria-prima.

No caso da produção da Biriba’s,
empresa localizada em Cascavel, na região Oeste do Paraná, estes dois insumos
(milho e farelo de soja) representam 65% do custo de produção. De acordo com o
diretor de produção da companhia, Luiz Roberto Miotto, a tonelada do farelo de
soja era adquirida por R$ 2.092 no início de agosto deste ano. No mesmo período
do ano passado, o valor era R$ 1.260. Da mesma forma o milho, que em agosto de
2019 a empresa adquiria por R$ 34,30 a saca, este ano estava valendo R$ 56,60.

“No
Oeste, o valor do suíno trabalha no valor de R$ 7,30 o quilo. Ano passado
estava na faixa de R$ 4,40. O preço subiu 70%, mas a rentabilidade subiu apenas
10% por conta do custo de produção. Atividade é rentável, mas com custos
bastante pressionados”, analisa Miotto.

Leia mais notícias no Boletim Informativo.

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Fonte: Sistema FAEP



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