De acordo com o Climate Prediction Center, há previsão de um novo episódio de La Niña que vai influenciar todo o clima global no segundo semestre deste ano. As informações são da agência federal dos Estados Unidos, um dos Centros Nacionais de Previsão Ambiental e fazem parte do Serviço Meteorológico Nacional da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, o NOAA.
Neste momento ainda estamos passando por um verão com neutralidade climática, sem El Niño ou La Niña em todo o hemisfério Sul. Existe ainda um viés positivo das temperaturas na superfície do oceano Pacífico Equatorial como mostram as figuras que representam a previsão de temperatura da superfície do mar de fevereiro a maio. De acordo com os meteorologistas, o viés ainda é positivo, mas as projeções feitas para o trimestre junho, julho e agosto já indicam uma enorme área de resfriamento em todo o oceano Pacífico Equatorial, caracterizando o fenômeno. Esta informação já deixa cenários previsíveis tanto para a safra americana, quanto para o Brasil, Austrália e até mesmo Ásia.
A previsibilidade de uma La Niña é bem mais assertiva do que de um El Niño, dizem os especialistas. O processo de resfriamento é bem mais consistente do que o aquecimento que acontece com uma maior inércia e não chega a ser tão abrangente, caracterizando El Niños clássicos, com grande parte do oceano aquecido e El Niños Modokis, quando apenas um trecho do Pacífico apresenta temperaturas acima do normal.
“El Niños tendem a ter um diagnóstico mais demorado e com áreas de aquecimento mais concentradas. O que vemos no segundo semestre é 90% de probabilidade para um resfriamento do oceano e de 70% a 80% da configuração total de um La Niña. Portanto, os produtores já devem se preparar 100% para os seus efeitos”, garante Paulo Etchichury, climatologista da Somar.
Este cenário favorece de imediato a safra americana e traz preocupações severas para o Sul do Brasil. Embora o efeito do La Niña seja falta de chuva para ambos os locais, os americanos vêem o La Niña como uma boa notícia e os produtores do sul do Brasil como um péssimo cenário. O plantio da safra americana no ano passado aconteceu sob os efeitos do El Niño, o que trouxe chuva acima da média na hora do plantio, provocando alagamentos nas planícies e atrasou todo o calendário agrícola. Para este ano, acontece o contrário.
O tempo mais firme deve favorecer a instalação da safra americana já que o excesso de chuva não será um problema. As complicações podem vir na fase de floração e enchimento de grãos no meio-oeste americano entre julho e agosto quando o La Niña traz riscos para estiagens regionalizadas. Os produtores americano sofrem menos com este tipo de problema por conta da condição geográfica dos campos mais planos e da captação de umidade no solo. Enquanto o solo americano tem a capacidade de armazenar de 300 a 700 milímetros de chuva, no Rio Grande do Sul, o relevo diminui esta capacidade de armazenamento para 100, 140 milímetros de água aproximadamente. Nossos desafios são maiores, sem dúvida, em um cenário de La Niña.
Para o Rio Grande do Sul já há um alerta. Enquanto o El Niño é sinônimo de safra cheia por conta das chuvas volumosas, o La Niña é o pior dos cenários para os produtores gaúchos. A safra 2019/2020 acontece sob neutralidade climática o que, por si só, já trouxe irregularidades da distribuição do volume de chuva principalmente para o Rio Grande do Sul.
Com a confirmação de um La Niña, o risco de estiagens aumenta para a próxima safra de verão 2020/2021 no Sul do Brasil. Os problemas que hoje são vistos em parte do Rio Grande do Sul, mais na porção sul do estado que apresentou quebras significativas nas lavouras de milho, podem ficar mais generalizados no próximo ciclo inclusive para Santa Catarina, Paraná e no nosso país vizinho: a Argentina. Por outro lado, o resfriamento das águas do oceano Pacífico, mesmo sem caracterizar La Niña ainda, favorece as culturas de inverno este ano no Rio Grande do Sul , já que os riscos de excesso de chuva na hora da colheita do trigo, por exemplo, diminuem drasticamente. A fruticultura também será beneficiada com as temperaturas mais baixas que mantém a sacarose mais elevada nos frutos.
Preocupação no sul e expectativa positiva no Nordeste
O cenário climático deste ano no Brasil está sendo comparado ao ano de 2007, quando no primeiro semestre tínhamos também uma neutralidade no oceano Pacífico com viés positivo e no segundo semestre uma configuração de viés negativo que culminou em uma transição para o La Niña. Com esta base, podemos comparar também a safra de 2021 com desempenhos semelhantes à safra de 2008. É importante desde já saber que se o ano foi de dificuldades para os gaúchos, o próximo pode ser ainda pior e de uma forma mais generalizada. Já para boa parte do Nordeste, incluindo o Matopiba, a próxima safra poderá ser bem promissora.
Para a Ásia, o cenário também é positivo em relação à safra de cana de açúcar, por exemplo, porque o La Niña traz mais chuva para este continente. As projeções também favorecem a Austrália que registrou problemas severos por conta dos incêndios de proporções catastróficas no País e este ano promete ter mais umidade para amenizar a situação das queimadas.
Segundo Paulo, definir sorte ou azar nas safras vai um pouco além do clima e dos ciclos interanuais. É algo que está mais ligado ao quanto se está preparado ou não para os riscos e atento às oportunidades.
“O clima pode ser estabelecido com muita antecedência. Como usamos esta informação é que faz toda a diferença e pode refletir na produtividade das lavouras em qualquer local do planeta”, finaliza Paulo. O La Niña, assim como o El Niño, não consegue agradar todo mundo.
Fonte: Canal Rural