Quem vê os
100 hectares cultivados com diversas espécies frutíferas, de Gilmar Boff, em
Arapoti, no Norte Pioneiro, não imagina que a primeira atividade empresarial
dele foi o comércio de calçados. Desde 2005, no entanto, além de zelar pelos
pés dos clientes, Boff também cuida de outros pés: de ameixa, pêssego,
nectarina, caqui, uva, goiaba, atemoia e pitaia.
Essa sinergia entre comércio na cidade e produção agrícola no campo foi possível graças ao Programa Empreendedor Rural (PER), desenvolvido em parceria entre o SENAR-PR, Sebrae-PR e Fetaep. Em 2005, Gilmar estava estabelecido com sua loja na área urbana quando apresentado ao projeto de Evaldo Feldhaus, participante de uma das primeiras turmas do PER, no ano anterior. Na ocasião, Feldhaus desenvolveu, dentro da formação, um projeto voltado à fruticultura.
“Eu vi o
projeto e gostei. Acabei fazendo sociedade com ele em 2004 e essa parceria
durou até 2017”, relembra Gilmar. “Nas duas chácaras, inicialmente plantamos
caqui. Com o passar do tempo houve uma diversificação com outras frutas, porque
a ideia é chegar a fazer o ciclo completo do ano, ou seja, quando termina a
colheita de uma fruta, começa a de outras”, acrescenta.
Há dois anos,
desde que encerraram a sociedade e separaram as propriedades produtoras de
frutas, Gilmar passou a trabalhar na reestruturação do negócio. E no médio e
longo prazos irá contar, novamente, com a ajuda do PER para tirar do papel os
novos planos. “Minhas duas filhas estão fazendo o curso. A ideia é que elas se
qualifiquem, se envolvam com os negócios e aprendam para que, aos poucos, eu
possa ir passando as coisas”, projeta.
Uma das
filhas, Fernanda Boff, programadora de softwares, está fazendo o PER em
Arapoti, em uma turma que começou em junho. “Fiquei afastada do agro por um
tempo, e vi no PER uma oportunidade de voltar a entrar em contato com essa
realidade. Minha expectativa era relembrar a pós- -graduação em gestão no
agronegócio, que eu já fiz. Mas foi bem mais prático. No próprio transcorrer do
PER, fazendo as atividades, está dando para se integrar melhor no ritmo dos
negócios”, comenta.
Para a
participante, os debates feitos nas aulas ajudam a criar proximidade com o
campo e com a família. “A parte que mais ajuda é a comportamental e de
comunicação, principalmente com a família. Nós até tentávamos conversar e nos
inteirar sobre os negócios antes do curso, mas a abordagem estava totalmente
errada e os resultados eram o oposto do esperado”, revela Fernanda. “Agora, o
PER criou uma base de diálogo comum para todos e imparcial, então nos ajuda a
tratar dos assuntos de forma mais organizada, objetiva e sem conflitos”,
completa.
Das frutas aos fungos
O
desenvolvimento da propriedade do pai é o foco de Fernanda dentro do PER. Já a
irmã, Caroline Bruna Boff Salomons, que também faz o curso, planeja, além de
ajudar na fruticultura, ampliar seu negócio próprio. Ela produz cogumelos do
tipo Shimeji, em um sistema que aproveita um barracão, até então, sem uso na
propriedade do pai. “Estou há dois anos no negócio. Após pesquisar bastante
descobri esse nicho. Fiz algumas adaptações e reformas e consegui viabilizar a
produção. Hoje, entregamos 100 bandejas por semana aos mercados Festval, em
Curitiba”, revela.
Para
Caroline, o PER será útil também para ampliar a produção. “Esse ano que
conseguimos acertar a produção, estou segura para crescer. Foram muitos testes,
pesquisas de mercado para saber como é a qualidade, de onde vem a maior parte
da produção. Eu aposto em qualidade e hoje tenho uma demanda maior do que
consigo atender. Com a ajuda do conhecimento que tenho acesso no PER, estou
fazendo as projeções para poder investir. Até o fim do ano eu pretendo dobrar a
produção”, projeta.
Empreendedorismo na veia
O marido de
Fernanda, Hendrikus Franz Salomons Junior, também é produtor rural. A família
dele atua há décadas na pecuária, com a produção de leitões, e na agricultura
com soja, milho, trigo e outras culturas.
O
agropecuarista também tem a missão de ajudar a profissionalizar alguns aspectos
do negócio da família. Por isso, apostou em fazer o PER junto com a esposa e a
cunhada. Seu foco, no entanto, é mais voltado a desenvolver um projeto para a
propriedade dos pais.
“O PER ajuda
bastante, principalmente porque discutimos muito para fazer o plano de ação. Por
serem atividades familiares diferentes, cada um no seu ramo, isso proporciona
uma troca de visões que abre novas perspectivas para pensarmos. E tem esse
aspecto bem prático, que já possibilita, por exemplo, fazer testes na
propriedade e ver o que funciona ou não na nossa realidade”, sintetiza.
Pioneiro do PER
Evaldo
Feldhaus é um pioneiro do PER em Arapoti e também no Paraná, já que participou
da formação em uma das primeiras turmas, ainda em 2004 (o PER existe desde
2003). “Eu produzia leite na minha propriedade de 18 hectares. Estava com uma
média de mil litros por dia. Eu queria fazer algo diferente e participei do
PER. O projeto foi voltado à fruticultura, aí mostrei para o Gilmar e acabamos
fazendo uma sociedade que durou até 2017”, conta o produtor.
Hoje, com a sociedade desfeita, Evaldo calcula que deve colher em torno de 200 toneladas de ameixa, 200 de caqui, 100 de pêssego e 50 de maçã. “Eu não me conformo com as situações, vou atrás das soluções. E também conta muito o fato que sou um apaixonado pela fruticultura. Experimento muitas cultivares diferentes, faço testes. Para mim, as cultivares são como senhas secretas que precisam ser descobertas para que frutifiquem. Uma variedade de ameixa que outros também plantam no município, fui eu quem descobri”, orgulha-se.
Feldhaus revela que uma das coisas que mais gosta de fazer na fruticultura é compartilhar o conhecimento com outros produtores. “No começo, não estávamos no zoneamento agrícola, não conseguíamos nenhum tipo de financiamento e nem seguro rural no município. Conquistamos isso graças ao trabalho junto com a FAEP, na Comissão Técnica de Hortifruticultura. Hoje, Arapoti está no mapa do Brasil quando o assunto é fruta de caroço. Somos referência. Devo muito disso ao PER, e isso se concretiza em palavras que tenho como mote na minha vida até hoje, como capital humano, social, determinação, controle e planejamento”, lista.
Leia mais notícias no Boletim Informativo.
A notícia PER ajuda família a tirar projetos do papel apareceu pela primeira vez em Sistema FAEP.
Fonte: Sistema FAEP