Assegurar a qualidade ambiental das áreas de cultivo de ostras e mariscos tem sido o enfoque da pesquisa em andamento, realizada em parceria por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), e Professores do curso de Oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), no Parque Aquícola da Enseada do Itapocoroy, em Penha, no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, e na Praia de Fora, em Palhoça (SC).
Entre os dias 22 e 26 de outubro, aconteceu a 4ª campanha de coleta de amostras no âmbito do projeto BRS Aqua, para a avaliação da qualidade ambiental das áreas de cultivo de moluscos e a influência dos cultivos nos fluxos de Gases de Efeito Estufa (GEE), com observação das interfaces de sedimento, água e atmosfera.
De acordo com os cientistas, os dados não demonstraram impactos resultantes da atividade de maricultura nos locais investigados. Todos os parâmetros apresentaram valores inferiores aos estabelecidos pela legislação ou próximos a valores de literatura, não indicando, portanto, prejuízos à qualidade de água em função da presença das atividades do cultivo. As análises dos fluxos de GEE mostraram que a produção de moluscos também não apresentou impactos no balanço natural de GEE nas áreas investigadas.
A área de Penha é que apresentou a maior emissão de GEE quando comparada ao Ribeirão e Palhoça, mas uma análise mais apurada indica que o aumento está relacionado a alterações de fatores biogeoquímicos na área, a serem determinados em análise posterior. Outro fator apurado é que há uma diferença nos parâmetros analisados entre as localidades estudadas, uma vez que a Armação do Itapocoroy (Penha), por possuir uma dinâmica oceanográfica maior, apresenta comportamento diferente em relação aos cultivos de Palhoça e do Ribeirão da Ilha, que estão localizados na Baía Sul de Florianópolis.
Esta foi a quarta campanha realizada nas áreas de cultivo de moluscos em Santa Catarina e os resultados que estão sendo apurados são pioneiros no Brasil. Para 2020, mais duas coletas já estão programadas, uma vez que os cientistas incluíram novas variáveis ao estudo ambiental.
As pesquisas no mar catarinense são uma ação da Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP), financiada pelo Projeto BRS Aqua, por meio da Rede Nacional de Pesquisa de Monitoramento Ambiental da Aquicultura em Águas da União. O BRS Aqua é o maior projeto de pesquisa em aquicultura já realizado no Brasil, fruto da parceria entre Embrapa, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da SAP.
Segundo a pesquisadora e chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Meio Ambiente, Paula Packer, os resultados deixam claro que a produção de moluscos emite muito menos GEE, se comparado à outras cadeias produtivas de proteína animal, como a bovinocultura, suinocultura e avicultura.
“A geração desses dados é de grande importância para o conhecimento científico e para o viés de sustentabilidade ambiental da atividade na região. É em Santa Catarina que se produz a quase totalidade da produção nacional de mexilhões, ostras e vieiras e em um contexto de mercado altamente globalizado, o conhecimento dos parâmetros de produção no ambiente vai possibilitar, inclusive, embasar os planejamentos setoriais da atividade no estado, ” explicou.
O grupo
O grupo que conduziu a coleta foi formado pelos professores da Univali, Gilberto Manzoni, Kátia Naomi Kuroshima, com o apoio dos colaboradores Heluiz Renato Leal, Ana Paula Stein Maria Leticia e Pedro H, Marques. Pela Embrapa, participaram os pesquisadores Paula Packer, Marcelo Gomes e Viviane Maximiliano.
Os docentes José Gustavo Natorf de Abreu, Mauro Michelena Andrade e Tito César de Almeida, da Escola do Mar, Ciência e Tecnologia da Univali, também contribuíram no processo com informações sobre à composição da sedimentologia, fauna bentônica e dinâmica oceanográfica dos locais e do entorno, dados que permitiram o entendimento integrado da interação do cultivo de moluscos com as condições ambientais da região e no balanço dos gases de efeito estufa (GEE).
Fonte: Embrapa