Ao longo dos
seus 24 anos de existência, o Programa Agrinho contabilizou números que
comprovam a capilaridade da principal iniciativa de responsabilidade social do
Sistema FAEP/SENAR-PR. São mais de 1 milhão de alunos e cerca de 80 mil
professores, das redes pública e privada, de praticamente todos os municípios
do Paraná, envolvidos anualmente no programa. Neste período, mais de 24 milhões
de materiais didáticos já foram distribuídos.
Muito do
sucesso do programa está na qualidade do material utilizado, que passa por
atualizações periódicas para garantir que o conteúdo trabalhado esteja de
acordo com a realidade das crianças e professores. Ao longo deste ano, o
material didático recebeu sua nona atualização, com o objetivo de contemplar as
inovações apresentadas na área da educação e trazer novos temas. A atualização
está sendo desenvolvida por um grupo de pesquisadores e especialistas de
diversos Estados e também do exterior.
“O Agrinho e
os seus materiais didáticos precisam acompanhar a evolução do campo e,
principalmente, da educação. Por isso que, periodicamente, realizamos essa
atualização, que permite ao programa sempre estar de interesse dos alunos e
professores”, destaca Ágide Meneguette, presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR. O
material didático do Agrinho compreende dois livros destinados aos docentes, um
técnico e outro metodológico. Já os alunos recebem uma coleção de livros, um
para cada ano letivo, do primeiro ao nono ano do ensino fundamental.
Com a
atualização, para o primeiro e segundo anos, serão distribuídas fichas com
encartes nos campos de alfabetização e psicomotricidade. Os alunos do terceiro
ao quinto anos receberão materiais no formato revista com composição de
mini-artigos, abrangendo os temas transversais. Já as turmas do sexto ao nono
anos serão contempladas com materiais no formato revista em quadrinhos.
O material
também estará disponível no site do Agrinho (www.agrinho. com.br). Na versão
online, os livros destinados aos docentes são em formato multimídia, ou seja,
contêm links que direcionam para outros conteúdos, animações e videoaulas dos
professores envolvidos na redação do material.
Além disso,
outros aspectos do Agrinho também passam por reformulações, como o regulamento
e a formação de professores, tanto presencial como à distância.
Novas tecnologias
A
pesquisadora Edméa Santos, especialista em cibercultura e professora da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), participa da elaboração
do material do Agrinho há mais de 10 anos. “O desenvolvimento do material
didático é um processo muito interessante porque envolve o que chamamos de
tripé da universidade, com ensino, pesquisa e extensão”, afirma.
Segundo
Edméa, para os professores da universidade, o Agrinho é um projeto de extensão
em que diversos grupos de pesquisa contribuem na produção dos livros e
fundamentam teoricamente a formação de professores do programa. “É a
universidade em comunicação com a comunidade, interagindo e dialogando com seu
entorno”, aponta. A pesquisa acadêmica, além de culminar na produção de novos
materiais para o programa, retorna para o ensino na própria universidade, visto
que os professores envolvidos utilizam estes conteúdos em sala de aula.
Nas
atualizações do material, além da introdução de novos conteúdos, são abordadas
as próprias metodologias de ensino, como a inovação pedagógica. Um dos pontos
considerados importantes é a abordagem das tecnologias digitais na educação no
contexto da cibercultura. “Pela minha experiência, a atualização do conteúdo é
sempre em relação à cultura contemporânea. A gente vive no momento da
cibercultura, que é a cultura contemporânea mediada pelo digital em rede, e
esse digital muda o tempo todo. Agora, por exemplo, temos as questões do Big
Data, dos algoritmos, das fakenews, problemas que há dois anos não existiam”,
explica.
Na inovação
pedagógica, a pesquisadora argumenta que, atualmente, o foco está no ensino
híbrido, que mescla o aprendizado online e offline, e nas metodologias ativas,
em que o aluno é personagem principal neste processo. “Essa própria educação
online já se transforma com o uso dos celulares. Por exemplo, no último
material, eu não falava de uso de celulares e do app learning, que é o
aprendizado por aplicativos”, aponta.
Ainda, Edméa
destaca o uso do lúdico no material destinado aos alunos, considerado
fundamental no processo de aprendizagem no ensino infantil. “É um material
construtivista que permite que o professor crie sua aula. A gente não quer
ensinar para quem já sabe, a gente quer dar um material que permita a melhora de
quem já sabe”, conclui.
Novos modelos de ensino
Diante de um
mundo cada vez mais conectado, o papel do professor em sala de aula também
passou por uma transformação, de acordo com a pesquisadora Lúcia Amante, da
Universidade Aberta, em Lisboa, Portugal. O docente deixou de ser a única fonte
de conhecimento, mas segue com função de orientar o aluno na busca e
processamento das informações.
“É preciso
orientar o aluno nessa pesquisa, na construção do conhecimento. Neste mundo
digital em que há uma sobrecarga de informações, o professor tem que estar lá
para guiar o aluno, ajudá-lo na direção correta para construir essa
aprendizagem e transformar informação em conhecimento”, explica Lúcia, que
participa do desenvolvimento do material didático do Agrinho desde 2012 e
utiliza os mesmos materiais em aulas em Portugal.
Nesse
sentido, a pesquisadora também aponta as mudanças em relação ao uso das
tecnologias na educação do receptor. Ou seja, o aluno passou por um processo de
transição e, atualmente, ocupa um papel mais ativo no seu processo de
aprendizagem, como mostra a metodologia da sala de aula invertida.
“Há 10 anos,
pensávamos sobre a utilização da tecnologia enquadrada naquilo que já fazíamos.
A grande mudança passa por uma utilização da tecnologia que transforma a
atuação pedagógica e transforma aquilo que se faz a partir da própria
tecnologia. Passa a haver uma utilização da tecnologia em que ela, por si, cria
novas formas de atuação pedagógica”, salienta.
Neste
contexto, professores e alunos também passam a ocupar o mesmo papel em relação
à produção de conteúdo, de modo que, nesta nova rede de disseminação de
informações, o uso da tecnologia permite ir além do simples consumo. “A
utilização da tecnologia deixa de ser exclusiva de aprendizado no contexto da
sala de aula para ter um sentido mais amplo”, ratifica Lúcia.
Para a
professora, ao trazer essa discussão para centenas de escolas paranaenses, o
Programa Agrinho ocupa a função de catalisador da mudança das práticas
pedagógicas, oferecendo suporte aos professores e fomentando a inovação. “É um
programa extremamente motivador que envolve professores e alunos tão fortemente
na aprendizagem e na vivência do dia a dia da escola”, ressalta.
Tecnologias móveis entram na atualização
pedagógica
O uso de tecnologias
móveis na educação é um dos temas de destaque no novo material didático do
Programa Agrinho. Especialista no tema, a professora Sara Trindade, da
Universidade de Coimbra, em Portugal, foi a responsável pelo desenvolvimento de
estratégias em relação a essas tecnologias.
“As
tecnologias digitais evoluíram, as plataformas, as ferramentas e os
equipamentos mudaram. Por isso, a atualização periódica é excelente e
fundamental quando falamos destas áreas de trabalho. As tecnologias móveis que,
talvez, não tivessem grande destaque nas edições anteriores do material, hoje
são praticamente incontornáveis”, esclarece a pesquisadora, que contribui pela
primeira vez com o Agrinho.
Apesar da
crescente presença de dispositivos móveis no dia a dia dos brasileiros, a
realidade das escolas nem sempre é a mesma. Por isso, é importante identificar
as diferenças e elaborar um material que possa ser adaptado, visto que o
Agrinho está presente em praticamente todos os municípios do Paraná.
“O professor
precisa saber contornar essa situação de falta de acessibilidade digital, como
pode fazer o uso offline desses equipamentos. É um conjunto de questões que
temos que pensar sempre adiante”, observa Sara. “Dentro da mesma escola podem
haver condições diferentes dentro das turmas. Então, o que procuramos fazer na
preparação desses materiais é criar algo que aborde determinados temas da forma
mais abrangente possível. A metodologia precisa servir a alguém que tem tudo ou
quase tudo”, complementa Sara.
Para a
pesquisadora, o Agrinho vem cumprindo essa proposta ao longo dos anos, dada a
quantidade de alunos e professores envolvidos no programa. “Uma das coisas mais
relevantes é o fato de, em uma área tão grande como o Paraná, o Agrinho
consegue pensar em uma lógica de ser adaptável às crianças e aos professores,
com uma base comum, criando mecanismos e estratégias que podem ser usados por
todos e beneficiar a todos. É tudo muito completo e, portanto, excelente”,
finaliza.
Pesquisa e inovação com responsabilidade
A atualização
do material didático do Programa Agrinho também traz conceitos inéditos a serem
trabalhados no âmbito da educação. Responsible Research & Innovation (RRI)
é uma abordagem criada pela União Europeia sobre processos de pesquisa
científica e desenvolvimento tecnológico que envolvem os potenciais impactos no
meio ambiente e na sociedade. A professora e pesquisadora Alexandra Okada, da
Open University, no Reino Unido, trouxe esse debate para o contexto do
programa.
Segundo
Alexandra, o RRI visa assegurar que avanços científicos de todas as áreas do
conhecimento sejam direcionados e alinhados com os valores, necessidades e
expectativas da sociedade, a partir de um trabalho em conjunto entre os atores
sociais. “O RRI envolve a pesquisa dentro da ética, desenvolvendo ciência com e
para a sociedade, de modo a criar condições para promover um futuro
sustentável”, destaca.
A
pesquisadora auxiliou na criação de um modelo de habilidades necessárias para o
RRI e expõe formas de trabalhar com essa abordagem na educação. “É um modelo
para os estudantes entenderem como a ciência é construída, por meio da
elaboração de perguntas, busca de dados e fontes, análise de dados, resultados
de pesquisas, desenvolvimento de soluções e respostas para as questões com base
em evidências. Todas essas habilidades precisam ser trabalhadas em parceria”,
explica.
A abordagem
RRI abrange seis dimensões: governança, acesso aberto, gênero, ética,
engajamento público e aprendizagem científica. De acordo com Alexandra, o
Agrinho, em sua maioria, já compreende esses elementos, por isso é importante
fazer com que os professores entendam o processo na prática. “Os alunos buscam
informações e trazem questionamentos dentro do Agrinho, que resultam em
projetos e, consequentemente, há o envolvimento de parceiros e da sociedade. Entender
o que é e como você faz o RRI permite explorar muito mais esse trabalho na
educação”, complementa.
A notícia A partir de 2020, Agrinho terá novo material didático apareceu pela primeira vez em Sistema FAEP.
Fonte: Sistema FAEP