Em um dia
chuvoso, numa região montanhosa da área rural de Arapoti, na região Centro
Oriental do Paraná, Anderson Aparecido Alves escova com cuidado o pelo de um
poldro (cavalo com cerca de dois anos) de pelagem castanha escura. A névoa, que
ora cobre e ora mostra o topo dos morros, dá um ar de mistério ao motivo de ele
dedicar tanto zelo no cuidado com o animal. “Este vai ser o futuro garanhão
daqui”, revela o apaixonado por cavalos, que com a ajuda do SENAR-PR encontrou
nos animais um meio de ganhar a vida.
Essa paixão,
que surge da conexão entre ser humano e animal, brota não se sabe bem de onde,
mas faz o coração de algumas pessoas bater mais forte. E pela forma de se
conectar com os cavalos, Alves demonstra que esse vínculo começou há décadas,
mais especificamente em 1996. Na época, seu pai trabalhava como funcionário da
Colônia Holandesa do município, e a família toda morava na propriedade. Lá, ele
tinha uma égua, sua companheira inseparável. “Por falta de espaço, naquele
tempo, eu fui obrigado a vendê-la”, recorda com um tom embargado na voz.
O tempo
passou, Anderson cresceu, mas a paixão pelos equinos seguiu firme. Foi o que o
levou a trabalhar em alguns haras (locais destinados à reprodução e seleção de
cavalos) da região. Aprendeu bastante nesses estabelecimentos sobre a lida com
os bichos. Entre as lições, por exemplo, como cuidar dos animais, praticar os
manejos necessários e também como ser um bom professor na hora de ensinar
outras pessoas a montar. E assim, a vida seguiu seu curso por vários anos.
Mas como
dizem por aí, um dia a oportunidade do “cavalo encilhado” passou em frente a
Alves. Em 29 novembro de 2014, quando chegou no haras em que trabalhava para
mais um dia de labuta, uma das éguas, prenhas, estava em trabalho de parto e
prestes a dar à luz. Não demorou muito, nasceu um potro, batizado como
“Eleito”. “Sabe quando você sente uma coisa diferente, eu não sei explicar. Sei
que quando ‘caiu’ o potro, eu tive uma sensação de que ia acontecer algo
positivo”, revela.
Nas idas e
vindas da rotina, o pressentimento daquele dia praticamente tinha caído no
esquecimento. Então, cerca de um ano depois, o gerente de uma cooperativa de
crédito da cidade procurou Anderson. “Ele me disse: ‘estou querendo comprar um
cavalo. Se fosse para você comprar um, qual você compraria’? Eu nem pensei,
disse na hora que compraria o Eleito, aquele potro que tinha visto nascer”,
conta.
Mas havia um
problema, afinal, o futuro comprador do potro não tinha onde deixar o animal
para que fosse cuidado. Então, o gerente da instituição financeira ofereceu a
Anderson a possibilidade de um empréstimo, para que fosse possível a construção
de uma estrutura para começar seu próprio negócio. “Foi assim que tudo começou,
com um empréstimo de R$ 4 mil. Eu construí a estrutura nessa propriedade, que
pertence aos meus pais. Hoje, minhas contas são pagas com dinheiro dos
cavalos”, orgulha-se Alves.
Conhecimento
Não foi só o
dinheiro do financiamento, no entanto, que viabilizou a montaria de Alves em
seu “cavalo encilhado”. A combinação perfeita aconteceu porque ele fez diversos
cursos do SENAR-PR nos últimos anos. Alguns na área de manejo especificamente,
como casqueamento, ferrageamento, doma e outros na parte de administração.
A sua busca
por conhecimento segue num galope acelerado. Agora, por exemplo, está
participando como aluno do Programa Empreendedor Rural (PER). “Eu controlo todo
o fluxo da propriedade, pois passei a ter uma visão mais rigorosa sobre
planejamento e controle. O PER ajuda muito a pensar nos próximos passos, de ampliação”
revela, ao apontar as partes da propriedade em que pretende construir novas
instalações.
Alves, hoje,
possui dois tipos de serviço principais. O primeiro é o alojamento e doma de
cavalos. São sete animais em doma, três em sistema de pensão e sete próprios,
com um total de 17 em seu espaço.
Os animais próprios são usados para a segunda atividade: aulas de equitação. Para desenvolver este último aspecto, possui uma pista completa para a montaria, redondel e outras benfeitorias. “O SENAR-PR já realizou alguns cursos aqui. A ideia é colocar esse espaço à disposição, para que outras pessoas possam ter a mesma oportunidade que eu tenho para me desenvolver”, compartilha.
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Fonte: Sistema FAEP