O temor em relação a uma bolha de inadimplência no Brasil modificou a tomada de crédito em duas das principais linhas agrícolas do governo federal – Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e Moderfrota. Com receio de a lista de maus pagadores engrossar, os bancos públicos e comercias elevaram os critérios para aprovação de cadastros, resultando na menor liberação de dinheiro.
Na contramão, as instituições financeiras das montadoras de máquinas agrícolas e implementos aproveitam para ocupar o espaço aberto pela concorrência por meio de crédito farto e relativamente fácil. A medida ajuda a desovar ao menos parte do maquinário que lota os pátios das fábricas em um ano de consecutivas quedas nas vendas (leia na página 4).
O bolo do dinheiro do PSI e do Moderfrota praticamente mudou de mãos neste ano. De acordo com dados do Banco Central (Bacen), as instituições das montadoras concentram 57,6% dos R$ 4,14 bilhões liberados entre janeiro e agosto de 2015. No ano passado, a parcela era de 26,9% do montante. Por outro lado, as entidades públicas e comerciais que, juntas, detinham 61,6% das operações nos primeiros oito meses de 2014, viram a participação despencar para 37,3%.
- Com a atual conjuntura, a tendência é de que os bancos públicos sejam mais criteriosos, o que dificulta o crédito. Nisso, os bancos das marcas facilitam para escoar a produção que se acumula nas fábricas – afirma Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O diretor para clientes produtores rurais do Itaú BBA, Antônio Carlos Ortiz, defende a análise de risco mais criteriosa, não só por parte das instituições financeiras. O próprio produtor deve monitorar as variáveis relacionadas ao crédito que põem seu negócio em jogo.
- É importante reconhecer os riscos e definir a linha até onde se pode ir com cada um deles. Em seguida, a forma de monitorá-los – orienta. Cada produtor tem seu perfil, mas não é difícil definir esses limites – considera.
Além do crédito facilitado, as entidades das montadoras têm a vantagem adicional de estarem conectadas à cadeia do negócio, favorecendo a agilidade na aprovação dos processos e entrega do produto.
- Tomou crédito para compra de maquinário, automaticamente terá liberação para outras linhas para custeio, expansão de área, capital de giro – observa Jucivaldo Feitosa, diretor comercial do Banco CNH.
Inadimplência
Do ponto de vista das financeiras das marcas, o setor apresenta baixo risco de não arcar com os compromissos. Um dos motivos é o fato de o agronegócio brasileiro não apresentar o mesmo grau da crise econômica. “Atuamos em uma fatia de mercado que não está tão em crise.
- Além disso, grande parte dos negócios é com clientes conhecidos – destaca Feitosa. Mesmo assim, existe a leitura de possibilidade de aumento da inadimplência. Mas no cenário atual [de queda nas vendas de máquinas] tem-se que correr mais risco – complementa.
Fonte: Gazeta do Povo