Por Bruna Fioroni
O plantio da safra de verão 2019/20 começou com clima de apreensão no Paraná. O término do vazio sanitário, dia 10 de setembro, veio acompanhado de um período de estiagem que atravancou o planejamento da atual temporada. Após um maio bastante chuvoso, com precipitações de até 400 milímetros em algumas partes do Estado, os meses que se seguiram foram marcados pela seca, que impactou a reserva hídrica do solo para início da semeadura dos grãos, principalmente a soja.
Mesmo com o plantio liberado desde a segunda semana de setembro, a maioria dos produtores paranaenses preferiu não arriscar em lançar a semente na terra seca. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), até meados de setembro, o plantio da soja atingiu pouco mais de 20 mil hectares, correspondentes a menos de 1% da área projetada (5,5 milhões de hectares). Em comparação com o mesmo período de 2018, cujas condições climáticas do último quadrimestre do ano foram marcadas pelo fenômeno El Niño, a área semeada atingia 9%.
O início da
primavera, dia 23 de setembro, trouxe previsão de chuva para praticamente todo
o Paraná e, consequentemente, mais ânimo aos produtores. Porém, meteorologistas
alertam para irregularidades nas precipitações ao longo dos próximos meses de
2019.
De acordo com o agrometereologista Luiz Renato Lazinski, essa falta de regularidade nas precipitações é um fator esperado em um cenário de neutralidade climática, ou seja, sem a influência de fenômenos como o El Niño e La Niña. “Essa situação persiste pelo menos até o final do ano. Por isso, nós temos períodos em que chove muito, com intervalos de tempo marcados pela estiagem ou pouca chuva. Também existe a irregularidade no volume pluviométrico entre as regiões”, aponta.
Lazinski
também alerta sobre as chances de veranicos (períodos de estiagem acompanhados
por calor intenso) até o final do ano. “No ano passado tivemos veranicos entre
novembro e dezembro, mas é difícil prever quando começam e quanto tempo duram.
Isso não vai se regularizar até o início de 2020”, complementa.
Exemplos
desta irregularidade climática estão espalhados pelo Paraná. Enquanto alguns
municípios receberam um volume de chuva de 30 milímetros no início deste mês,
outros permaneceram na expectativa, com apenas 10 milímetros, de acordo com a
Somar Metereologia. Nesse período, registros apontavam que o teor de umidade do
solo atingiu a marca dos 80% nas áreas mais próximas a divisa com Santa
Catarina. Já em regiões como o Oeste e o Norte paranaense, a umidade ficou
abaixo dos 50%.
A meteorologista Heloísa Pereira, da Somar, avalia que, com o avanço da frente fria na Costa Sul do Brasil, as chuvas voltam a aparecer nesta reta final de setembro, mas haverá uma janela de seca em outubro. “No ano passado, quando ocorreu o El Niño, a safra começou bem, com chuva engrenando rápido, mas no alto verão, principalmente em janeiro e fevereiro, faltou chuva. Este ano vemos o oposto. A expectativa é que as chuvas demorem para engrenar, com previsão para novembro em diante, e no alto verão estarão mais regulares e bem distribuídas”, destaca.
“A soja é a principal cultura para o Paraná, então é natural que os produtores fiquem em estado de alerta com as condições climáticas, ainda mais com a quebra da safra passada. A expectativa é que a rentabilidade se recupere e que o desenvolvimento das lavouras de soja não atrase o milho safrinha”, reforça Ana Paula Kowalski, engenheira agrônoma do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP.
Expectativa e preocupação
De acordo com
a primeira estimativa do Deral, divulgada em 23 de agosto, a safra de soja
2019/20 deverá resultar em uma colheita de 19,8 milhões de toneladas, chegando
ligeiramente perto do recorde de 19,9 milhões de toneladas da temporada
2016/17. A perspectiva é que a nova safra recupere a produtividade e supere as
16,2 milhões de toneladas da anterior (2018/19), que sofreu com a estiagem e as
altas temperaturas. Ainda, a projeção é colher 3.612 quilos por hectare (60
sacas por hectare), ante os 2.985 quilos por hectare (49,7 sacas) da safra
2018/19, aumento de 21%. Dessa forma, o Estado volta a disputar com o Rio
Grande do Sul a segunda posição entre os maiores produtores de oleaginosa do
país.
Segundo o
economista do Deral Marcelo Garrido, mesmo com o período de estiagem que se
estendeu até meados de setembro, ainda é cedo para falar de possibilidade de
perda de produtividade e quebra de safra. “O produtor está segurando o plantio
em relação às expectativas de chuvas. O que está frustrando é a intenção de
plantar cedo para conseguir plantar o milho safrinha em janeiro”, observa.
Em
decorrência dos riscos de geadas a partir de maio, regiões como Oeste e
Sudoeste possuem a janela de plantio da segunda safra de milho mais curta. O
presidente da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP e do
Sindicato Rural de Toledo, Nelson Paludo, adianta que a safra de milho safrinha
ficará comprometida caso os produtores não consigam iniciar a semeadura da soja
ainda em setembro. “A época ideal é agora, mas sem chuva é um risco muito alto.
O produtor sempre tem expectativa de colher uma safra boa, então estamos com
esperança que o tempo se normalize”, diz.
Além disso, as regiões Oeste e Sudoeste figuram entre as principais produtoras de grãos do Estado, o que causa ainda mais inquietação entre os produtores para seguirem com o calendário planejado. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Pato Branco, Oradi Caldato, alguns agricultores deram início ao plantio no dia 11 de setembro, data posterior ao término do vazio sanitário, mesmo com a estiagem. “Estamos bastante angustiados. Alguns começaram a plantar, outros ainda estão com medo. Como choveu pouco, os produtores que já plantaram estão apostando nas chuvas de acordo com a previsão. Se correr como previsto, o que foi plantado irá germinar. Mas se não, preocupa bastante”, afirma.
Ainda que as
perspectivas apontem para a ocorrência de chuvas em setembro, na opinião de
Caldato, o início de plantio é preocupante devido às particularidades da
região. “Mas estamos apostando todas as fichas que as previsões se confirmem. O
milho primeira safra está germinando, mas também precisa de mais chuva com
urgência para confirmar esse plantio, para não ter perdas”, complementa.
Em algumas
localidades do Paraná, o milho safrinha é inviável devido às características
climáticas, principalmente baixas temperaturas. Por isso, esse não é um fator
generalizado de preocupação para todos os produtores paranaenses. No entanto,
os receios em relação ao desenvolvimento da safra de soja são os mesmos. De
acordo com o presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, Gustavo Ribas
Netto, a decisão no município é aguardar pela chuva.
“Nesta última
safra já tivemos prejuízos, ainda mais que não temos o milho safrinha. O
produtor já não está muito capitalizado, inclusive alguns em recuperação
judicial. Com as cooperativas com endividamento, ele não tem margem para
sustos”, diz.
Embrapa alerta sobre riscos de plantio no
pó
A redução do
volume de água no solo é prejudicial para o desenvolvimento das plantas.
Segundo o pesquisador da Embrapa Soja José Salvador Foloni, especialista na
cultura da soja, a recomendação é que o produtor não arrisque a semeadura nas
condições do solo sem a umidade ideal. Se realizado o plantio na terra com
baixa umidade, resultado do período de estiagem, a semente não irá absorver a
água necessária durante o primeiro estágio da germinação.
“É importante
que o produtor espere por um volume acumulado de chuvas para recompor a umidade
do solo, formando autonomia de reserva hídrica. Assim, no decorrer do
desenvolvimento da soja, chuvas com pouco volume já serão suficientes para
manter a água do solo e para que a lavoura se desenvolva”, orienta.
Caso o
produtor insista em realizar o plantio na terra seca, podem ocorrer falhas no
estande, subdesenvolvimento da planta e aumento do aparecimento de plantas
daninhas, acarretando em perdas de produtividade significativas. Ainda, a
cultura pode perder a viabilidade e o produtor terá que fazer o replantio,
gerando mais custos operacionais.
“O risco é
muito alto. A semente da soja perde a viabilidade muito rapidamente. Se o
produtor colocar a semente na terra e ela ficar no solo durante dez dias em
desidratação, a probabilidade de perder o vigor ou mesmo morrer é muito
grande”, explica Foloni.
O pesquisador aconselha o produtor a pensar em alternativas em caso de estiagem prolongada, ocasionando o atraso da colheita da soja e inviabilizando a janela de plantio do milho safrinha. “O produtor ainda tem a opção do trigo, que é uma cultura importante, por mais que a remuneração não seja igual à do milho. É uma opção mais recomendável do que arriscar o plantio da soja na seca”, aponta.
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Fonte: Sistema FAEP