A partir deste importante marco, se desenvolveu no Brasil não só a adição do etanol à gasolina, mas também a sua aplicação como combustível exclusivo em veículos. A adição de etanol anidro à gasolina evoluiu de uma mistura de 2% em 1931, para 10% a 12% em 1976, sucessivamente passando a uma faixa de 18% a 20%, 22%, 25%, atingindo os atuais 27% a partir de março de 2015. As vendas de veículos equipados com motores a etanol, que chegaram a atingir 96% das vendas totais de veículos leves em 1985, somaram desde 1979 mais de 4,98 milhões de unidades.
O veículo a etanol foi o precursor do carro flex, capaz de utilizar qualquer combinação de gasolina C (mistura de etanol anidro e gasolina, ou gasool, atualmente E27) e etanol hidratado (E100). O veículo flex, lançado em março de 2003, desde então acumula vendas de mais de 30 milhões de veículos, constituindo a maior frota mundial de veículos com tecnologia flex do mundo.
Os impactos positivos do uso de etanol em mistura com a gasolina automotiva e como combustível puro são inúmeros, em termos econômicos, sociais e ambientais.
Embora o etanol seja utilizado no Brasil como combustível desde a iniciativa pioneira do USGA da Usina Serra Grande, de Alagoas, em 1924, o seu consumo intensificou a partir do Programa Nacional do Álcool de 1975. De 1976 a 2018, foram substituídos o uso e a importação de mais de 3 bilhões de barris de gasolina, um marco significativo para o Brasil que possui reservas provadas de petróleo e compensados de 12,6 bilhões de barris, incluindo o Pré-sal. O valor econômico da gasolina substituída, calculado pela DATAGRO, equivale a mais de 506 bilhões de dólares (constantes de Dez/2018), incluindo de forma conservadora o impacto da dívida externa evitada.
Neste período foi absorvido um contingente expressivo de mão-de-obra, absorvida por empregos gerados de forma descentralizada no interior, reduzindo de forma expressiva os investimentos públicos em infraestrutura nos grandes centros, e a pressão nos cofres públicos. Posteriormente, com a mecanização do plantio e da colheita, o emprego foi reposicionado, através de um grande esforço de treinamento e requalificação. Ao longo de todo esse período ficou comprovado o impacto positivo do emprego relacionado à produção de cana-de-açúcar no IDH dos municípios onde a atividade se instalou.
Em termos ambientais, o fato do etanol de cana ser praticamente neutro em emissões de gases causadores do efeito estufa, transformou o etanol de cana numa das fontes de energia mais limpas para alimentar a mobilidade eficiente do ponto de vista energético e ambiental.
O Brasil se transformou na indiscutivelmente reconhecida referência internacional na utilização de combustível líquido limpo e renovável. O etanol utilizado em mistura com a gasolina, e puro pela frota flex, no primeiro semestre de 2019 substituiu 45,7% de toda a gasolina consumida.
Por sua elevada octanagem [116 AKI, ou (R+M)/2] comparado à média da gasolina de 87 AKI, com o uso de etanol em mistura na gasolina, o Brasil foi pioneiro no mundo na eliminação do uso do venenoso chumbo tetra-etila, anteriormente utilizado como aditivo elevador de octanagem, causador do saturnismo e de contaminação cerebral que afeta principalmente as crianças.
O etanol tem substituído compostos aromáticos cancerígenos contidos na gasolina, reduzindo também emissões de material particulado e outros compostos nocivos à saúde como o monóxido de carbono, formaldeídos, e compostos orgânicos voláteis geradores de smog fotoquímico. Enquanto a gasolina emite formaldeídos, que são próximos do formol utilizado para conservar cadáveres, o etanol emite acetaldeídos, que são primos do nosso conhecido vinagre.
Por conta do uso de biocombustíveis e medidas como o rodizio de veículos, embora a cidade de São Paulo tenha uma frota de mais de 8,5 milhões de veículos, não tem a mesma poluição do ar que metrópoles como Pequim, Deli e Cidade do México.
Com o RenovaBio, o Plano Nacional de Biocombustíveis, desenvolvido no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética, e aprovado pelo Congresso brasileiro em 2017 por larga maioria parlamentar de 299 votos a favor e apenas 9 contra na Câmara dos Deputados, e por aclamação no Senado Federal, sem subsídios ou novo imposto sobre carbono foi criado um mecanismo de certificação que irá incentivar eficiência energética-ambiental, e terá como resultado redução de preço dos biocombustíveis ao consumidor, levando a uma precificação do carbono pelo mercado, e não pela caneta de um burocrata de governo. As metas de descarbonização aprovadas pelo CNPE devem levar a uma redução acumulada de emissão de 686 milhões de toneladas de CO2e até 2029, o que corresponde a mais de um ano de emissões totais de carbono de um país da dimensão e a expressão econômica da França.
Com o etanol, o Brasil tem uma opção tecnológica de mobilidade muito superior à que vários outros países tem perseguindo, ao pretenderem substituir motores de combustão interna por outras motorizações que não utilizam fontes limpas, de baixa pegada de carbono, de energia para transporte, numa falsa ilusão de que desta maneira estão gerando emissão zero.
É por esse motivo que dirigentes de montadoras europeias tem alertado que até os atuais carros movidos a diesel são mais limpos do que outras opções tecnológicas que, embora estimuladas por enormes subsídios, pouco interesse tem capturado nos consumidores.
Por conta da pegada de carbono quase neutra do etanol, a emissão de gases do efeito estufa dos atuais veículos equipados com motores de combustão interna utilizando etanol, embora ainda não-otimizados, é de apenas 58 gCO2e/km. E graças a novas tecnologias a serem em breve implantadas como resultado da Lei do Rota2030 aprovada em 2018, estamos indo na direção de 47 gCO2/km. Estamos, também, indo na direção da eletrificação com biocombustíveis com o novo hibrido flex a etanol, que já é considerado o carro mais limpo do planeta, pois emite apenas 39 gramas por km, e à célula a combustível a etanol que já tem protótipo pronto, e quando chegar às ruas emitirá apenas 27 gramas por km.
Praticamente na mesma semana em que o Brasil comemora 40 anos do Protocolo do Carro a Álcool, é lançado no País o primeiro veículo híbrido flex a etanol. Uma feliz coincidência, e mais um motivo para que seja celebrada a oportunidade e o acerto desta medida, que recebeu a acolhida e, deve receber de forma permanente, o aplauso do povo brasileiro.
Fonte: Datagro