A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) espera ter até 2020 quase toda a produção certificada segundo critérios de sustentabilidade e boas práticas. Atualmente, essa proporção está em 86% da colheita anual, o que confere ao país a posição de maior fornecedor global de fibra certificada, com 31% de participação no mercado, de acordo com estimativas da entidade.
“É para atender uma demanda que vem do consumidor. Para o mundo todo, a Europa, que são consumidores preocupados em, ao adquirir uma peça de algodão, não estará contribuindo com degradação, ter essa comprovação. A Abrapa vem trabalhando desde 2005 e hoje estamos em um processo de maturidade, com metas claras”, afirmou o diretor executivo da Abrapa, Marcio Portocarrero.
No âmbito da Abrapa, a certificação é feita através do programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR). Segundo Portocarrero, o cotonicultor deve ter sua produção em conformidade com 224 critérios sociais, ambientais e econômicos. A adesão é espontânea. Quando decide certificar seu algodão, o produtor recebe visitas técnicas na fazenda. Depois de corrigidas eventuais não conformidades, são feitas auditorias e, caso passe dessa fase, é feita a certificação.
“No início, é entendido como gasto extra, mas, depois, ele percebe um ganho e um retorno do investimento. Ao final, ele tem um programa de gestão eficiente da sua produção”, ressaltou Portocarrero. Além da certificação ABR, o cotonicultor pode obter o licenciamento Better Cotton Iniciative (BCI), de âmbito internacional.
Nas estimativas da Abrapa, apresentadas pelo diretor executivo durante o painel no Congresso, as propriedades certificadas têm apresentado, em média, 7% a mais de produtividade em relação às não certificadas. Na mesma comparação, a redução de custos é estimada em até 20%.
“Para o mundo todo, a Europa, que são consumidores preocupados em, ao adquirir uma peça de algodão, não estará contribuindo com degradação, ter essa comprovação””
Pegada hídrica
O painel em que foi discutida a sustentabilidade na cadeia produtiva do algodão teve a participação de Chiara Gadaleta, fundadora do portal Ecoera, que promove a discussão sobre práticas consideradas sustentáveis em setores como moda, beleza, design e gastronomia. Segundo ela, a moda um setor que, até alguns atrás, estava desconectado do debate sobre as boas práticas e a sustentabilidade.
“A mudança de mentalidade já é um grande ganho. A moda é um retrato do seu tempo”, disse ela, acrescentando que, há pelo menos dois anos, vem fomentando discussões sobre o uso da água na produção de roupas.
Em parceria com a indústria têxtil Vicunha, a Ecoera fez um estudo para estimar quantos litros de água são utilizados na produção de uma calça jeans no Brasil, desde o plantio do algodão até o descarte do produto final pelo consumidor. Baseada em uma metodologia global chamada de Water Footprint Network, o trabalho concluiu que o consumo chega a 5,196 mil litros por peça.
Portocarrero participou de painel de discussões sobre a sustentabilidade na cadeia produtiva da pluma no 12º Congresso Brasileiro do Algodão, realizado pela entidade, em Goiânia (GO). Explicou que a meta é ter pelo menos 95% da produção certificada. Segundo ele, é difícil chegar aos 100% porque a metodologia pressupõe o plantio por vários anos seguidos e existe uma parcela de produtores que podem semear a fibra em um ano e em outro não.
Fonte: Globo Rural