Em meio à pressão crescente sobre os preços do açúcar no mercado internacional, as usinas brasileiras têm segurado a negociação da commodity para exportação. Até o fim de junho, apenas 58,2% do açúcar que se estima que será exportado nesta safra (2019/20) teve seu preço de venda fixado – o ritmo mais lento das últimas oito safras, segundo levantamento da consultoria Archer Consulting.
Esse é o menor percentual de açúcar fixado para um mês de junho desde que a consultoria começou a realizar esse levantamento, na safra 2012/13. Até então, o menor percentual de fixação registrado em junho havia sido na temporada 2015/16, quando os preços internacionais do açúcar também estavam pressionados e as usinas do país direcionavam a maior parte de sua cana para a produção de etanol.
“A desaceleração na fixação de preços mostra que muitas usinas deixaram de fixar o açúcar em função de uma melhor remuneração do etanol hidratado no mercado interno”, avaliou Arnaldo Correa, diretor da Archer Consulting, em nota.
Em volume, esse percentual representa 11,22 milhões de toneladas e considera que o Brasil exportará cerca de 19 milhões de toneladas de açúcar nesta safra, que termina em março. Porém, o mercado de açúcar está tão fraco que o mesmo o ritmo de exportações observado até agora ainda está aquém do necessário para alcançar esta estimativa. Até o fim de junho, o Brasil havia embarcado 4 milhões de toneladas de açúcar bruto, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
De acordo com Correa, as usinas do país também estão trocando os contratos de referência de fixação de preços, apostando em uma melhora das cotações. Porém, ele alertou que “uma combinação de crise externa, que pode provocar a queda dos preços do petróleo, e a contínua fraqueza do mercado físico de açúcar, podem desconsiderar os fundamentos construtivos do açúcar e provocar vendas movidas pelo pânico”.
Ontem, os preços do petróleo “colapsaram”, o que foi o “beijo da morte” para o açúcar, afirmou o analista Robin Shaw, da consultoria inglesa Marex Spectron. No pregão na bolsa de Nova York, os contratos futuros para outubro recuaram 3,3%, a 11,34 centavos de dólar a libra-peso, enquanto os para março de 2020 recuaram 2,3%, para 12,48 centavos de dólar a libra-peso. Na semana, esses papéis acumulam quedas de 7,1% e 5,5%, respectivamente.
Para Shaw, a queda de ontem foi causada em parte pelo impacto que o petróleo pode ter sobre o mercado de etanol, mas, principalmente, porque estimulou os fundos a “venderem o que podiam”.
E a situação ainda pode piorar, segundo Matheus Costa, analista da consultoria INTL FCStone.
“A menor fixação [dos preços do açúcar brasileiro] este ano gera um impacto negativo para as cotações porque as vendas precisarão ser fixadas em algum momento, o que pressupõe um aumento de oferta”, sustentou.
Fonte: Valor Econômico