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Onda de frio espalha prejuízos por diversas regiões do Paraná

O frio mais intenso de 2019 acendeu o alerta em diversos setores da produção agropecuária do Paraná. Foram pelo menos quatro dias (6, 7, 8 e 9 de julho) com registros de geadas pelo Estado, com mais intensidade nas regiões Sul, Sudoeste, Oeste, Centro-Sul, Sudeste, Campos Gerais e Região Metropolitana de Curitiba. Os dias de paisagens congelantes agora cobram seu preço, principalmente com prejuízos em plantações de trigo, erva-mate, café, hortifrútis, feijão e pastagens. Embora já se saiba que as perdas são inevitáveis, apenas nas próximas semanas se terá a real noção do tamanho do rombo nas contas dos produtores rurais.


Até agora, um dos cultivos, nos quais mais se projetam perdas é o trigo, em especial as lavouras que estão na fase de florescimento ou enchimento de grãos (cacho), mais concentradas em uma faixa que abrange Oeste, Sudoeste e Centro Oeste. “O frio é benéfico nas fases iniciais do desenvolvimento do trigo, inclusive com geadas. Mas as geadas tardias, nas fases de floração e de enchimento de grãos, por exemplo, causam prejuízos”, explica a engenheira agrônoma Flaviane Medeiros, do SENAR-PR. O Paraná dedica, nesta temporada, mais de 1 milhão de hectares ao cereal, conforme estimativa do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab).

O produtor Marcos Antonio Esquicato, de Ivaiporã, plantou cerca de 170 hectares de trigo. Segundo o agricultor, a geada deve causar perdas entre 80% e 90% nas suas lavouras. “Fazia tempo que não geava forte dessa maneira. Vemos várias pessoas acionando seguro agrícola e Proagro. A agência do banco estava lotada. Estamos conversando com os agrônomos e achamos que as perdas no município devem ficar em torno de 60% a 80%. Isso porque tem trigo que foi plantado mais tarde, que está em estágios mais iniciais e escapou”, conta Esquicato.

A regional de Cascavel, líder na área dedicada ao cereal no ciclo atual, enfrentou temperaturas próximas aos -4ºC, no sábado, dia 6 de julho, de acordo com o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar). Além disso, os produtores locais foram alguns dos que semearam suas lavouras de modo mais precoce. “O pessoal que teve perdas com a soja por conta do clima na safra de verão, plantou o trigo mais cedo, em abril. Esses estavam com as lavouras de trigo em florescimento ou com cachos já. Alguns produtores vieram ao sindicato e relataram problemas até de perdas totais em algumas áreas”, conta Paulo Valini, diretor do sindicato rural do município.

Há vários relatos de produtores do município São João, no Sudoeste do Paraná, que tiveram lavouras afetadas de forma significativa. “Já havia muitos anos que não via um frio com essa intensidade. A geada foi forte nas baixadas e pegou até as regiões altas, nas quais é muito difícil gear. Não temos um número fechado, mas o que se percebe hoje pelas conversas com técnicos na região é que vamos ter de 40% a 50% de perdas sobre o total plantado no município”, revela Arceny Bocalon, presidente do Sindicato Rural de São João.

Panorama estadual

O engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho,  revela que é preciso aguardar algumas semanas para se ter a real noção do volume de perdas no Estado. “Temos informações que nos levam a crer que várias lavouras vão pontualmente apresentar perda total. Em uma faixa que vai de Ivaiporã até Campo Mourão e se estende por todo o Centro Oeste, Oeste e Sudoeste, tivemos  emperaturas negativas. E quanto mais para o Oeste, mais problemático, pois é onde eventualmente se planta mais cedo”, avalia. Um relatório do órgão estadual deve ser divulgado até o fim de julho.

O presidente da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP, Nelson Paludo, ratifica que as perdas são certas, mas que é preciso aguardar ao menos duas semanas para se ter
uma ideia mais precisa. “A geada foi realmente muito forte e vai causar estragos significativos ao trigo, principalmente na nossaregião [Toledo], que adiantou o plantio por conta dos problemas
com a soja na safra de verão. O milho safrinha já estava praticamente todo colhido, então não teremos problemas [no caso desta cultura] ”, aponta.

Outras culturas

Além das perdas no trigo, relatos de prejuízos são constatados em diversas culturas, como hortifrútis e erva-mate. Pastagens foram bastante afetadas, o que vai trazer reflexos tanto para a bovinocultura de corte quando à produção de leite.

De acordo com Narciso Pissinatti, produtor rural de Londrina, o Norte deve registrar problemas com o café. Em plantações pontuais, segundo o líder sindical, houve a formação de geada. “Não foi uma coisa generalizada, mas temos relatos de algumas lavouras com prejuízo. Temos que esperar de 10 a 15 dias para ter uma noção exata”, previu.

Há lavouras de feijão da terceira safra que podem sofrer com danos, o que pode ter impacto nos preços até o fim do ano. No Paraná são apenas 2 mil hectares, nas regiões Norte Pioneiro, Norte e Noroeste. Mas a geada atingiu algumas áreas importantes de produção, nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, no Sudeste brasileiro, segundo Marcelo Lüders, presidente do Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe). “O feijão carioca pode subir forte. Em todos os grupos recebemos imagens de lavouras perdidas com a geada”, revelou.

Mais frio pela frente

O meteorologista Luiz Renato Lazinski alerta que apesar de o frio intenso ter demorado a chegar no Estado, a partir de agora as passagens de massas de ar frio devem ter uma certa regularidade. “Tivemos essa massa de ar frio extremamente forte no início de julho. Vamos ter um inverno com intensidade”, prevê.

Lazinski explica que, apesar de ter se propagado que estamos sob efeito de um El Niño, o tempo está mais condizentes com um ano de neutralidade. “Em anos de El Niño, o tempo fica mais chuvoso, as massas de ar não são tão intensas. O que nós estamos observando, de fato, é um ano em uma situação que chamamos de neutralidade. Tanto é que nós tivemos um mês de junho praticamente sem chuva e um mês de maio extremamente chuvoso. Isso é típico de um ano neutro”, enfatiza.

Para o meteorologista, os produtores precisam se preparar para outras ondas de frio, que têm potencial inclusive para trazer geadas mais tardias do que a média. “Os modelos de previsão climática de mais longo prazo continuam com essa tendência de clima neutro pelo menos até o fim do inverno. Até o fim de setembro temos chance de ter essas massas de ar  fortes chegando no Paraná e com potencial de geada. Principalmente nas áreas mais altas do Estado”, alerta.

Leia mais notícias sobre o agronegócio no Boletim Informativo.

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Fonte: Sistema FAEP



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