O mercado de suínos e aves, depois de passar por momentos de instabilidade nos últimos dois anos, vive agora um cenário de perspectivas positivas. Em junho, o Brasil embarcou 55,7 mil toneladas de suínos e 357,74 mil toneladas de aves para outros países, aumento de 100% e de 18%, respectivamente, na comparação com o mesmo mês de 2018. Em termos financeiros, a suinocultura movimentou 128,1 milhões de dólares e a avicultura totalizou 581 milhões de dólares. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
No acumulado de janeiro até junho deste ano, a suinocultura do Brasil vendeu ao exterior 247,4 mil toneladas, contra 207,8 mil toneladas em 2018 (+19%). No caso do frango, no mesmo período, foram 1,55 milhão de toneladas, contra 1,49 milhão de toneladas no ano passado (+3,62%).
A China é um dos grandes destaques nessa relação comercial que tem gerado esses números positivos. No frango, por exemplo, o gigante asiático foi responsável pela compra de 18% de todo o produto do Brasil.
Jacir Dariva, presidente da Associação Paranaense de Suinocultura, projeta um período de mais 12 meses de pressão positiva na produção brasileira de suínos, principalmente pelo efeito China. “É a hora de o produtor repor os prejuízos, que foram terríveis nos últimos 20 meses. Com os problemas que a China vem registrando com a peste suína, com abates antecipados dos animais para evitar perdas maiores e, até mesmo, a eliminação de matrizes, isso vai gerar reflexos positivo para o Brasil. Acredito em uma demanda forte”, avalia.
Além disso, no segundo semestre há um fator doméstico a mais que influencia na dinâmica do mercado de suínos. “Temos um panorama bem ajustado de oferta e demanda. E nos próximos meses há a preparação para as festas de fim de ano. Os frigoríficos já começam a trabalhar nos cortes especiais, e o mercado externo também querendo comprar carne. Algo que, até certa altura, resulta em uma pressão na cotação. Mas é algo a ficar atento, porque se for pensar bem, nós brasileiros já não temos muita carne para vender para fora”, aponta Dariva.
Edmar Gervásio, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), ratifica que o grande fator de influência no caso da suinocultura é esse aumento da demanda por parte da China. “Nos suínos, possivelmente vamos ter um aumento até 20% nas exportações saindo do Paraná, dependendo da movimentação do mercado. Nesse ano, vamos superar tranquilamente a marca das 100 mil toneladas e, quem sabe, bater próximo das 150 mil”, estima. Para termos de comparação, no ano passado o Paraná exportou 107 mil toneladas de carne suína.
O aumento da demanda chinesa mexe com o ajuste de oferta e demanda internos, além de ter um efeito sobre outros setores de proteína animal. “No mercado doméstico, a diminuição do estoque pressiona os preços e acaba desencadeando uma redução da disponibilidade para o varejo, que fica com estoque limitado e toda a cadeia traz essa recuperação de preços”, explica Gervásio. “A parte de aves, por exemplo, tem a mesma tendência, uma expectativa de crescimento nas exportações de mais de 5%”, pontua.
Aves
Na avicultura paranaenses, a estimativa é um aumento em 5% nas exportações neste ano. “O mercado internacional está altamente favorável ao frango paranaense. Somos os maiores exportadores, respondemos por 38% de todas as aves exportadas pelo país. Com as viagens que têm sido feitas pelo governo federal para vender nossos produtos lá fora, estamos com a possibilidade de habilitar novas plantas. Um total de 28 no Brasil e cerca de 14 no Paraná”, revela Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar).
Esse possível aumento na procura não traz preocupação para a avicultura paranaense. Martins reforça que o setor está preparado para esse aumento de produção. “Em termos de produção, apostamos em um crescimento de 6%, em uma situação em que há previsão de estagnação do PIB. A indústria brasileira está estagnada, mas o agronegócio, não. Temos no mínimo uns cinco anos pela frente de um crescimento sustentável na avicultura. Além do natural, pelo aumento da nossa população. Isso também será puxado pelo mercado externo, onde nós ocupamos cada vez mais espaço, pela qualidade, capacidade produtiva, alinhamento de produção e verticalização na integração”, enumera.
ENTREVISTA
Boas perspectivas, mas com cautela
Confira um panorama sobre a conjuntura aos próximos meses para frango e suíno na entrevista com a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, Maristela de Mello Martins.
– Quais as expectativas para avicultura e suinocultura para os próximos meses nos mercados interno e externo?
As expectativas são de que as exportações de carnes de frango e suína continuem aquecidas, principalmente para atender ao mercado chinês. Como ambas as cadeias escoam parcela significativa da produção ao front externo, é o desempenho das exportações que ditará o ritmo no mercado doméstico.
Atualmente, a velocidade das vendas tem sido superior a produção. Consequentemente, os preços no mercado doméstico estão se elevando, alterando a competitividade entre as proteínas. Apesar de a atual situação gerar expectativas positivas aos produtores, eles estão comedidos quanto aumentar a produção. Vale lembrar que 2018 foi bastante difícil para avicultores e suinocultores, o que gera cautela nas cadeias. Apesar de neste ano o preço recebido pelos produtores estar maior, muitos deles estão pagando dívidas contraídas no ano passado, o que limita novos investimentos.
Nesse sentido, espera-se que os preços no mercado doméstico continuem em patamares maiores do que os registrados em 2018. Para as indústrias que não são habilitadas para exportar, os valores mais altos podem reduzir a liquidez das carnes no Brasil.
– Nos últimos meses, quais os principais fatores que têm influenciado na melhora/piora do cenário para essas duas cadeias?
A melhora observada nas cadeias de suínos e aves nos últimos meses está bastante atrelada ao problema sanitário enfrentado pela China. Os casos de Peste Suína Africana [PSA] no país têm refletido na redução do rebanho de suínos e, consequentemente, na menor produção da proteína. Nesse cenário, os chineses estão aumentando o volume de importações de carnes para poder suprir parte da queda na produção doméstica. Vale lembrar que a carne suína é uma das proteínas mais consumidas na China, que tem uma população gigantesca, demandando um grande volume para abastecer o mercado local.
O Brasil, que é um dos principais produtores e exportadores de carnes, tem se beneficiado desse contexto. Neste ano, a China se tornou a maior importadora da carne suína e de frango brasileiras [tradicionalmente as vendas da proteína avícola tinham como principal destino a Arábia Saudita]. Além de os chineses ampliarem o volume das importações, eles estão pagando mais pela proteína oriunda do Brasil.
O ritmo aquecido das exportações tem impulsionado os preços ao longo das cadeias, do pintainho até os cortes de frango e do leitão até os cortes de suíno.
– Quais são os principais aspectos merecem atenção e podem influenciar as cadeias de aves e suínos nos próximos meses?
O mercado externo tende a continuar contribuindo positivamente para o desempenho das cadeias. Espera-se que a recuperação do rebanho chinês não seja tão rápida, uma vez que os suinocultores locais têm receio de que o vírus da PSA possa acometer os animais novamente. Além disso, o acordo de livre comércio firmado entre o Mercosul e a União Europeia trouxe expectativas aos agentes do mercado e é importante no sentido de diversificar os destinos que recebem a carne brasileira.
De janeiro a junho, as exportações de carne suína com destino à China representaram 25% do total. Se consideradas as vendas feitas para Hong Kong, esse percentual chega a 48%. Para a carne de frango, os percentuais são de 13% e 17%, respectivamente. Essa forte concentração das vendas para os mercados asiáticos, principalmente para a carne suína, é um fator que merece atenção por parte agentes. Quanto mais pulverizadas as exportações, menores são as chances de o Brasil ser fortemente impactado pela suspensão/redução dos embarques para um único destino.
Além disso, os agentes que atuam na avicultura e na suinocultura precisam delinear estratégias de longo prazo quanto ao escoamento, uma vez que o impulso das compras chinesas, devido aos casos de PSA, deve se dissipar conforme a produção for se normalizando.
Um outro fator que demanda atenção por parte dos produtores e das agroindústrias é o custo de produção. Recentemente, as exportações de milho aumentaram com força, reduzindo a disponibilidade do grão no Brasil e elevando os preços. Segundo a Equipe de Grãos do Cepea, a expectativa é de que os embarques ao front externo continuem aquecidos, uma vez que o cereal brasileiro está mais competitivo do que o norte-americano e o argentino. Além disso, há a possibilidade de que o desenvolvimento das lavouras de milho nos Estados Unidos seja prejudicado por conta do clima adverso.
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Fonte: Sistema FAEP