Palavras como “salsicha” e “hambúrguer” só devem ser usadas para descrever alimentos que contenham carne?
Sob a ótica de uma proposta da União Europeia apresentada em abril, a resposta é sim – o Reino Unido marcou uma audiência sobre o tema para quarta-feira, 26 de junho, na Câmara dos Lordes, em Londres.
Na ocasião, ativistas e especialistas devam levantar objeções ao plano.
Ativistas vegetarianos e veganos dizem que, se a proposta se tornar lei em setembro, os produtores de alimentos teriam de adotar nomes de produtos alternativos bem desagradáveis, como “tubos de vegetais” ou “discos de vegetais” para se referir a salsichas ou hambúrgueres, por exemplo.
Eles dizem que isso faria perder consumidores em um momento de alta do interesse global pela redução no consumo de carne.
Mas, de acordo com David Lindars, diretor de operações técnicas da Associação Britânica de Processadores de Carnes (BPMA, por sua sigla em inglês), a lei traria muita clareza.
“Termos como salsicha, bife, hambúrguer e escalope são sinônimos de carne e isso deve ficar claro no rótulo.”
“Se você é um produtor de salsicha, vai gostar deste projeto”, diz ele.
Linguagem comum
A proposta – conhecida como Alteração 41 – foi apresentada pelo Comitê de Agricultura do Parlamento Europeu como parte de um projeto de lei mais amplo para atualizar a Política Agrícola Comum do bloco.
Os deputados que o apoiam dizem que a medida contempla o “bom senso” e evita confusões. Eles também dizem que a intenção do projeto é estender as proteções já existentes para laticínios, após a Corte Europeia de Justiça proibir a venda de leite de soja como “leite” em 2017. O produto agora deve ser rotulado como “bebida de soja”.
Lindars admite não ter evidências de que os consumidores se confundem com termos como hambúrguer vegetariano e admite que tais frases tenham caído no senso comum.
Mas ele diz que as pessoas precisam saber o que está em sua comida e o plano da UE tornaria as coisas “cristalinas”.
“Eu acho que quanto mais clara a rotulagem, melhor, especialmente se o produto tem alérgenos. Normalmente, você tem de virar o produto para ver quais são os ingredientes. Se estiver na frente, é mais útil.”
O Sindicato Nacional de Agricultores do Reino Unido, que discursará na quarta-feira, também apoia o plano, embora tenha ressalvas.
“Gostaríamos de proteger termos tradicionais baseados em carne. Por isso, nos opomos a termos como ‘carne moída sem carne'”, disse um porta-voz.
“Mas não achamos que palavras como hambúrguer e salsicha caiam nessa categoria.”
Mas a Vegan Society diz que proibir termos como hambúrguer vegetariano e salsichas vegetarianas vai realmente “criar confusão”, enquanto faz a indústria de alimentos com base vegetal recuar.
“Isso teria um impacto sobre a capacidade dos veganos de escolher alimentos de acordo com suas crenças facilmente”, diz Mark Banahan, diretor de campanhas e política da organização.
Ele diz que termos como hambúrguer e salsicha transmitem mais do que o produto – eles também transmitem a forma, o sabor, como você deve cozinhá-los e com o que eles devem ser servidos – por exemplo, batatas fritas com hambúrgueres ou um pão.
Lynne Elliot, presidente-executiva da Sociedade Vegetariana concorda, acrescentando que, se o novo projeto se tornar lei, os produtores de alimentos enfrentarão enormes custos para mudar sua marca, marketing e embalagem.
“O McDonalds tem um hambúrguer vegetariano há muito tempo. Greggs apresentou sua receita vegana de salsicha e o KFC lançou seu hambúrguer vegano esta semana. Eles estão satisfeitos com esses termos porque isso significa algo para seus clientes.”
A lei vai passar?
De acordo com uma pesquisa feita pela Waitrose no ano passado, um em cada oito britânicos é vegetariano ou vegano, enquanto outros 21% afirmam ser flexitarianos, o que significa que eles comem carne apenas ocasionalmente.
A UE prevê que o consumo de carne per capita cairá de 69,3 kg por ano para 68,6 kg nos próximos 12 anos.
Talvez, não surpreendentemente, alguns deputados e instituições de caridade afirmam que a Alteração 41 está sendo usada para proteger a indústria da carne.
Mas Lindars não acha que o plano – se for adiante – beneficiará os produtores.
“As pessoas que buscam produtos baseados em plantas saberão a diferença, isso não afetará as vendas.”
Segundo relatos, há uma boa chance de o Parlamento Europeu aprovar a Alteração 41 quando votá-la em setembro – embora seja possível que a legislação não chegue tão longe, diz Banahan.
O Parlamento acaba de realizar eleições, diz ele. Então, o Comitê de Agricultura será reconvocado e não está claro se o novo grupo apoiará a proposta, devido a todas as críticas.
A Grã-Bretanha também estaria livre para ignorar a lei depois que ela deixar a UE – embora Banahan afirme que os regulamentos ainda afetaria os produtos do Reino Unido vendidos para a UE.
“Muitos fabricantes podem ter de adotar novas linguagens de qualquer maneira… Assim como tudo relacionado ao Brexit, é complicado”, diz ele.
Fonte: G1