A produção brasileira de grãos cresce a cada safra e vem batendo recordes ano a ano, mas convive com grandes dificuldades de armazenagem, um problema caro e complicado enfrentado pelo setor rural. Na última safra, a colheita ultrapassou as 200 milhões de toneladas. No entanto, neste cenário, o Brasil tem capacidade estática de armazenamento próxima de 160 milhões de toneladas de grãos, o que gera um déficit de cerca de 40 milhões de toneladas.
Neste sentido, uma ideia inovadora foi criada por uma startup do campo. A Silo Verde, empresa incubada no Tecnosinos, polo tecnológico da Unisinos, em São Leopoldo, utiliza um sistema de armazenagem de rações e grãos constituído a partir de matérias primas poliméricas recicladas de garrafas PET. Além do ganho ambiental, o custo estimado é 75% inferior aos produtos atualmente existentes no mercado.
Segundo o criador da empresa, Manolo Machado, a Silo Verde tem dois grandes mercados impactados: um é o agronegócio e o outro é o meio ambiente.
- O primeiro aumenta a rentabilidade, qualidade de vida, praticidade e ergonomia no trabalho do campo em virtude de todos os benefícios gerado pela oferta de silos acessíveis a todas as faixa de produtores. O segundo beneficia diretamente o meio ambiente, retirando e destinando de forma correta toneladas de matérias-primas que se tornariam resíduos poluindo o meio ambiente por centenas de anos – observa.
A estimativa é que para cada silo, com capacidade de armazenagem de 8 metros cúbicos, sejam utilizadas até 6 mil garrafas pet. Machado ressalva, entretanto, que uma única garrafa leva aproximadamente 450 anos para se decompor no meio ambiente.
- A Silo Verde gera impacto não só na vida do agricultor, mas também impacta o meio ambiente. Temos que pensar em um produto para ingressar no mercado e, posteriormente, abrir. Por isso, o produto inicial será de 8 metros cúbicos com possibilidade de expansão para 16 metros cúbicos. Isso seria feito de maneira complementar, com o mesmo sistema, mas um adicional de volume – salienta.
A ideia do empreendedor é atingir especialmente o mercado da agricultura familiar, com produtos para a armazenagem de rações animais para aves, suínos e gado leiteiro, além do armazenamento de pequenos volumes de grãos. O objetivo é em cinco anos atingir também o mercado internacional com a exportação da tecnologia para outros países produtores.
- Pretendemos ser a maior armazenadora de pequenos volumes de rações e grãos do País, com forte atuação na sustentabilidade, com vasto impacto ambiental e social – projeta.
De acordo com Machado, a empresa já possui patente nacional e internacional. Em médio prazo, a meta é iniciar o cadastro dos primeiros representantes no exterior para a comercialização do produto. No radar estão países como a China, os Estados Unidos e a África do Sul, que é um player que desponta no setor.
- Além disso, o foco são os países assessorados pelo programa do Mais Alimentos internacional – comenta.
A Silo Verde foi selecionada pela Endeavor, uma das principais organizações de fomento ao empreendedorismo no mundo, para o programa Promessas Endeavor.
A organização, que tem alguns dos principais empresários do País entre seus líderes, seleciona e apoia empreendedores de alto impacto, compartilha suas histórias, além de promover estudos e pesquisas sobre o cenário do empreendedorismo.
Produto deve chegar ao mercado no próximo ano
Após um ano na incubadora do Tecnosinos, a Silo Verde entra na reta final para o lançamento efetivo do produto no mercado. Para isso, os próximos dias podem ser decisivos. Ao longo da Expointer, um protótipo escalonado que utilizou cerca de 2 mil garrafas pet estará em exposição no estande 26 do Pavilhão do Gado Leiteiro, no parque Assis Brasil, em Esteio.
Manolo Machado explica que o objetivo é finalizar a preparação do terreno para iniciar a produção em 2016. Antes, será necessário vencer um período de captação. Não há uma cifra a ser prosseguida, pois os recursos necessários para alavancar os negócios dependem da demanda e dos mercados prioritários. No entanto, os primeiros contatos com bancos de fomento, como o Badesul, e até mesmo empresas de maior porte já se iniciaram.
- Temos uma captação programada, mas o valor é relativo. Vai depender da demanda, de quantos produtos vamos produzir e o mercado que iremos atingir. Isso oscila. A captação não está engessada. Não sabemos se virá de um fundo de investimentos de um banco de fomento. Está em aberto. O objetivo é optar pela melhor articulação com a estratégia da empresa – analisa.
Neste contexto, a estratégia montada para feira é ampliar a rede de contatos.
- A nossa expectativa é estruturar mais o relacionamento dos canais da empresa para preparar a entrada do produto ao mercado no segundo semestre do ano que vem. Este é o foco, fazer parceiros – afirma.
Fonte: Jornal do Comércio