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Levantamento da FAEP mede economia de produtores que adotam MIP

Por Antonio C. Senkoviski

O curso Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Soja, promovido pelo SENAR-PR em parceria com a Embrapa Soja e a Emater, completa três temporadas no ciclo 2018/19. A cada safra, mais produtores buscam a formação. Desde que a capacitação foi implantada, o time de sojicultores que aderiram à tática de monitorar preventivamente suas lavouras mais que dobrou.

Com uma dinâmica de trabalho consolidada, o Sistema FAEP/SENAR-PR resolveu ir a campo para medir, em números e de forma detalhada, os benefícios do MIP, que já estão consagrados entre os produtores. Os primeiros resultados permitem afirmar que a economia com defensivos que deixaram de ser pulverizados passa de duas sacas por hectare. (Veja os gráficos no Boletim Informativo).

O produtor Sandro Canteri, de Ivaí, no Sudeste do Paraná, fez parte do levantamento. O agricultor plantou um total de 21 hectares de soja no ciclo 2018/19, sendo que aplicou MIP em nove deles – no restante o manejo ocorreu sem MIP. Canteri lamenta o fato de as condições climáticas nessa temporada não terem ajudado e a produtividade média geral (incluindo área com e sem MIP) ter fechado abaixo das 40 sacas por hectare. Mesmo assim, na área de MIP o produtor conseguiu economia significativa, pois passou o período de desenvolvimento das plantas sem aplicar inseticidas. Diferente do que ocorreu na área sem MIP, onde precisou entrar quatro vezes com o produto na plantação.

“O clima realmente atrapalhou nesse ano em termos de resultado final. Mas, mesmo assim, vimos que dá uma diferença considerável no manejo. O SOJA MIP diminuiu bem o número de aplicações. Nós vamos continuar fazendo o monitoramento na próxima safra. Ainda não sei se em 100% da área porque tem algumas partes mais difíceis de acessar”, explica.

“Esse trabalho serviu para conhecermos o que de fato estamos fazendo, a época certa de aplicar, a hora que realmente precisa. Não adianta aplicar onde não tem praga”, complementa. É possível constatar, por exemplo, que no ciclo atual na área de não MIP o produtor do Sudeste do Paraná teve que desembolsar 1,7 saca de soja por hectare em inseticidas. Na área com MIP, não houve gasto com o produto.

Levantamento

A equipe de técnicos do Sistema FAEP/SENAR-PR percorreu oito municípios e mobilizou 16 produtores que tiveram os dados analisados. Por questões de exigências metodológicas, os resultados de sete serão divulgados e fazem parte desta matéria. Os demais não atenderam as exigências de dedicar parte da área com MIP e outra sem e utilizar a mesma tecnologia de semente em ambas as áreas. “O projeto foi no estilo estudo de caso. Fomos in loco, levamos para o produtor uma planilha de custos. Curiosamente, coincidia em alguns locais de ocorrer o levantamento de custos exatamente no dia da aula prática [do curso do SENAR-PR], a batida do pano na lavoura”, compartilha Luiz Eliezer Ferreira, economista do Sistema FAEP/SENAR-PR que integrou a equipe que reuniu e compilou os dados para esse levantamento.

Como aspecto prático de mudança na rotina dos produtores, ocorreu a adoção de uma planilha a ser usada pelos produtores, com a opção do papel ou na forma digital. “Nas últimas visitas, o produtor já estava preparado, sabia dizer ‘usei tal produto e gastei tanto’. Antes, o produtor não conseguia fazer isso na prática. Foi interessante esse contato direto, de ir ao produtor e calibrar o documento, pois o objetivo é que seja algo que ele use nas atividades do dia a dia daqui para frente”, detalha o economista.

Metodologia

O levantamento, junto com a planilha, ajudou a resolver uma história que se repetiu por inúmeras propriedades nos últimos anos. Em todas as edições, boa parte dos produtores começou o curso aplicando o MIP em uma pequena área da propriedade. Logo que os resultados positivos apareciam, com a redução no número de aplicação de inseticidas, o MIP passava a ser replicado em toda a área.

O que era um aspecto positivo do ponto de vista de sucesso do curso, gerava um problema na base de comparação necessária (testemunha) para comprovar resultados. Problema que a metodologia utilizada nesse novo levantamento do Sistema FAEP/SENAR-PR, em parceria com a Embrapa Soja e a Emater, resolveu.

André Steffens Moraes, pesquisador da Embrapa Soja, ratifica que essa maior aproximação com o campo deu base para planejar outras iniciativas de forma a popularizar o controle de gastos nas propriedades rurais nos próximos anos. “Teve um caso emblemático. No primeiro levantamento tinha um produtor que precisava pegar a nota fiscal quando perguntávamos quanto tinha gasto em certo item. Quando voltamos na segunda vez, já estava com tudo anotado”, conta. “Esse levantamento foi muito positivo, crescemos com os produtores, evoluímos nas ideias. A gente vê que gerou interesse em fazer um controle de custo, saber o quanto se deixa de gastar quando se faz o MIP”, completa o pesquisador.

Ferramenta de controle

O mercado agropecuário como um todo é um ramo no qual os agropecuaristas não têm o poder de ditar qual o preço pelo qual querem vender seus produtos. Por isso, é fundamental que a estratégia de ação leve em consideração o custo de produção. Neste ano, por exemplo, a engenheira agrônoma do SENAR-PR Flaviane Medeiros lembra que as condições climáticas causaram frustração na estimativa inicial de produção. “É aí que o MIP entra como vantagem, porque o produtor consegue diminuir o número de aplicações de inseticida, fazendo o monitoramento de forma correta e, com isso, diminui custo. Nisso que temos trabalhado em relação ao MIP com os produtores. Nas condições climáticas, não temos como interferir, mas no custo de produção é possível”, reforça.

Nelson Paludo, presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP, também cita a economia financeira como diferencial e acrescenta os ganhos ambientais trazidos com o programa. “Os proprietários que fizeram o curso aprovaram 100% as tecnologias trazidas com o MIP. Todos reduziram o número de aplicações em suas propriedades, o que reflete em redução de custos e menos inseticida pulverizado no ambiente. Então estamos ganhando duas vezes, no plano econômico e ambiental”, aponta.

Da soja para o feijão

O produtor Airton José Boller, de Mangueirinha, no Sudoeste do Paraná, dedicou 18 hectares à soja, sendo 14,5 hectares com MIP. Na área sem MIP foi preciso aplicar duas vezes o inseticida. Por outro lado, sem a necessidade de aplicar na área com MIP, a economia chegou a 2,1 sacas por hectare com o insumo (ver Produtor 5 no gráfico). “Eu recomendo o curso para todos os produtores. A economia é muito boa. Eu mesmo vou aplicar as técnicas em toda a área de soja no ano que vem”, prevê.

O sucesso do Manejo Integrado de Pragas na soja foi tão grande, que Boller resolveu replicar os conhecimentos aprendidos também em uma área de feijão. “Além da soja, plantei 12 hectares de feijão preto. Fui colocando em prática aquilo que aprendi no MIP, vi quantos e quais insetos tinham em cada área de monitoramento. Nas três primeiras vezes, vi que não tinha nenhum risco e não apliquei inseticidas. Apenas na reta final, por conta do número de lagartas que estavam causando danos, resolvi fazer a pulverização. Se não fosse o MIP, teria aplicado três vezes mais inseticidas, sem necessidade”, reflete.

O que é o MIP-Soja

O MIP-Soja é um curso do SENAR-PR, em parceria com a Embrapa Soja e a Emater, que está a campo desde o ciclo 2016/17. A iniciativa tem por objetivo ensinar agricultores a monitorarem suas lavouras de forma a promover o uso racional de defensivos agrícolas para o controle de pragas. As aulas se estendem durante os meses de desenvolvimento do ciclo completo de uma safra, com um total de 52 horas de atividades. Após uma parte teórica, produtores e instrutores realizam a prática em cada propriedade. Nesta segunda etapa, os participantes aprendem a reconhecer os principais insetos-praga, seus inimigos naturais, além de técnicas de amostragem dos insetos, níveis de controle e manejo de pragas. Interessados em participar precisam procurar o Sindicato Rural mais próximo ou um dos escritórios regionais do SENAR-PR. Os endereços e telefones estão disponíveis em www.sistemafaep.org.br/sindicatos

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Fonte: Sistema FAEP



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