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NOVAS POSSIBILIDADES PARA O GRÃO DE BICO

O grão-de-bico é uma leguminosa de clima temperado, mas não havia no Brasil cultivares adaptadas para a faixa tropical, o que tornava o país dependente de importação para atender seu consumo interno de oito mil toneladas anuais. Em 2015, a Embrapa Hortaliças (Brasília, DF) lançou a cultivar de grão-de-bico BRS Aleppo, que apresenta ótima adaptação às condições ambientais brasileiras, bem como elevado nível de tolerância aos fungos de solo. Além disso, a cultivar tem dupla aptidão, tanto para o processamento industrial (grãos reidratados e conservas) quanto para o consumo de grãos secos.

A BRS Aleppo é um  dos destaques do Balanço Social 2018, estudo divulgado anualmente Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que aponta o seu retorno social para a sociedade, que também revela que para cada real aplicado na Embrapa no ano passado, foram devolvidos R$ 12,16 para a sociedade. A novidade será anunciada no próximo dia 24, na solenidade dos 46 anos da estatal agropecuária, que registrou também um lucro social de R$ 43,52 bilhões em 2018. Esse valor foi obtido a partir da análise do impacto econômico de 165 soluções tecnológicas e de cerca de 220 cultivares desenvolvidas pela Empresa.

Indicada para o Brasil Central, o grão-de-bico BRS Aleppo produz entre 2.500 a 3.500 kg/ha, com custo de produção 30 a 40% menor, quando comparado ao feijão. Como resultado, a área plantada que era de 200 hectares em 2015 passou, em 2018, para 9 mil hectares e o país deixou de depender de importações, além de ter boas perspectivas para comercializar o volume excedente para os mercados asiáticos.

Outro impacto positivo é que a maior oferta de grão-de-bico nacional pode aumentar seu consumo interno, o que traz vantagens nutricionais, pois é um alimento de alto valor proteico (em torno de 21,2 gramas por 100 gramas do grão), alta digestibilidade e tem conquistado espaço na culinária, especialmente entre adeptos da dieta vegetariana.

Vantagens

Devido ao aumento nos custos de produção e à perpetuação de pragas e doenças nas plantações, em razão de cultivos sucessivos da mesma espécie, produtores rurais de Mato Grosso buscavam uma cultura alternativa ao milho para a segunda safra do ano, conhecida como “safrinha”, no período que dispensa irrigação, assim como produtores de Goiás miravam uma nova opção de cultura para a estação do inverno, sob pivô irrigado, em substituição ao feijão e ao trigo. Em ambos os casos, o que norteava a busca desses agricultores era uma nova cultura que pudesse ser mais barata (com menor custo de produção) e mais rentável, o que faria com que eles ganhassem duplamente em termos econômicos.

Nessas localidades, em áreas de elevada altitude e em períodos de temperatura mais amena e baixa umidade relativa do ar, espécies leguminosas apresentam bons resultados de produção, vide o exemplo da soja. Apesar do Brasil não possuir tradição no cultivo de grão-de-bico, visto ser uma espécie de clima temperado ou subtropical, com o desenvolvimento de pesquisas lideradas pela Embrapa, em parceria com agricultores e a iniciativa privada, essa leguminosa passou a ser uma opção de cultivo para tal perfil de agricultores de Goiás e Mato Grosso, já sinalizando a possibilidade de conquistar a autossuficiência e também vislumbrar a exportação para mercados estrangeiros consumidores do grão, como os países da Ásia, em especial a Índia.

Após os testes de validação que comprovaram a viabilidade do grão-de-bico como opção de inverno em Goiás e como “safrinha” (ou segunda safra) no Mato Grosso, coube à pesquisa desenvolver uma cultivar que pudesse ser competitiva e resistente. Até então, a única disponível era a cultivar Cícero, lançada pela Embrapa Hortaliças em 1994 e, apesar de ter grãos de boa qualidade, era muito vulnerável a doenças de solo, em especial, a uma doença fúngica chamada fusariose, que causava o tombamento das plantas e, em casos severos, a perda total da lavoura.

Assim, em 2015, foi lançada a cultivar de grão-de-bico BRS Aleppo, que apresenta ótima adaptação às condições de clima e solo do Brasil, bem como elevados níveis de tolerância a um complexo de fungos de solo. Além disso, a nova cultivar possui dupla aptidão, tanto para o processamento industrial (grãos reidratados e conservas) quanto para o consumo de grãos secos. As plantas da cultivar BRS Aleppo, por apresentarem um porte mais ereto, podem ser colhidas de forma mecanizada, recomendando-se para isso a sistematização da área de plantio.

A validação da cultivar de grão-de-bico BRS Aleppo ocorreu entre os anos de 2012 e 2014, com ensaios realizados em áreas de produtores de Goiás e do Distrito Federal, em escala comercial, em pivôs de 50 a 100 hectares, em parceria com empresas privadas. Os testes iniciais focaram em produtividade e resistência a doenças e, a partir do lançamento, novos ensaios vêm sendo realizados para consolidar o melhor sistema de produção para a cultura, com definições sobre época de plantio, controle de plantas daninhas, espaçamento, exigências nutricionais e irrigação. Os recursos utilizados para o desenvolvimento da cultivar foram financiados pela Embrapa, com o apoio do CNPq, da FAP-DF e da iniciativa privada.

Fonte: Embrapa



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