Falta matéria-prima para moer cana
Ricardo Arruda Pinto, diretor da RPA, disse que essas usinas não vão moer cana por falta de matéria-prima. Um exemplo é o grupo Raizen que tem 26 usinas, mas as de Araraquara (SP) e Dois Córregos (SP) não vão operar nesta safra. A cana dessas regiões está sendo redirecionada para outras unidades do grupo visando reduzir custos.
O número de unidades que entraram em recuperação judicial também aumentou no último ano, de 68 para 80. Só nos últimos 30 dias, duas companhias sucroalcooleiras passaram a esse status jurídico por não conseguir pagar seus credores. São elas: a Itajobi Açúcar e Álcool, da região de Catanduva (SP), e o grupo Santa Terezinha, do Paraná, que vai paralisar três de suas dez usinas. Outras 19 plantas, segundo Ricardo Pinto, podem entrar em recuperação até o final do ano.
Usinas falidas vão produzir
Há quatro casos excepcionais de unidades falidas que irão moer cana nesta safra. Uma delas é a Usina São Fernando, em Dourados (MS), de José Carlos Bumlai, que responde a processo na Lava Jato. A operação está a cargo do administrador da massa falida.
No Nordeste, duas usinas falidas reativadas pelo modelo de cooperativismo receberam nesta semana o incentivo da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que esteve em Petrolina (PE). A outra unidade falida que está funcionando é a Pau D´Alho, de Ibirarema (SP).
O diretor da RPA afirmou que uma das causas da crise do setor é que, de 2004 a 2010, as usinas aumentaram em 40% sua capacidade de moagem de cana. O excesso de oferta industrial, no entanto, não teve reflexo na demanda porque não vingou a política de vender etanol para o mundo.
Canaviais velhos derrubam produtividade
Outro problema é a idade do canavial, que está aumentando e derrubando a produtividade ano a ano. A renovação deveria ocorrer após o quinto corte, mas já se estende para 6,4 cortes. “A questão é custo. Renovar o canavial custa cerca de R$ 8.000 o hectare. Só tratar custa R$ 1.800.”
Segundo o especialista, 2019 ainda não é ano de recuperação do setor. Para isso acontecer, seria necessário ter preços bem melhores do álcool e açúcar.
Governo vai interferir no preço da gasolina?
A perspectiva para o etanol é boa, se não houver repetição da política de interferência no preço da gasolina, mas o preço do açúcar está baixo há um ano e meio, tornando a safra mais alcooleira. Nenhuma usina, no entanto, tem capacidade de fazer 100% etanol ou 100% açúcar. Chega ao máximo a 70% e 30%.
Evandro Gussi, diretor-presidente da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), afirmou que o setor ainda sofre sequelas da política intervencionista de preços da gasolina do governo Dilma Rousseff, que levou quase 120 usinas a fechar naquele período.
“Mas hoje temos mais de 50% do setor com baixa alavancagem e alta capacidade de buscar recursos.”
Segundo o executivo, a perspectiva de o Renovabio (nova política nacional de biocombustíveis visando segurança energética e redução de emissões de gases causadores do efeito estufa) começar a rodar em 2020 é o fator de maior estímulo para o setor no médio prazo, porque vai consolidar o Brasil como referência global de mobilidade sustentável, garantir previsibilidade aos investimentos e premiar a eficiência, o que acarretará um setor sucroenergético maior e melhor.
Gussi disse que uma das maiores demandas do setor, o aumento da produtividade agrícola, pode ser resolvida com o Renovabio porque, para cumprir as metas de descarbonização, vai haver uma demanda de mais 50% ou 60% de etanol.
“Isso vai inspirar e atrair investimentos também para o perfil agrícola.”
Fonte: UOL Notícias