A crise está aí e os números comprovam. Pelo quarto mês seguido, o Brasil registrou saldo negativo na geração de empregos. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, divulgados na última semana, em julho as demissões superaram as contratações em cerca de 157 mil vagas. Já no acumulado do ano, o saldo é de 494 mil postos de trabalho fechados. Na contramão dos números nacionais, as 10 maiores cidades do Sul de Minas fecharam os sete primeiros meses do ano com saldo positivo de 1.749 vagas. E esse contraste tem explicação: a agropecuária, em especial a colheita de café.
Nos sete primeiros meses do ano, a agropecuária foi responsável pela geração de 5.346 vagas de trabalho nas maiores cidades do Sul de Minas. Destaque para Três Pontas e Alfenas, que geraram respectivamente 1.555 e 1.172 vagas no ano. Os números fizeram com que esses municípios ficassem entre os 50 que mais geraram postos de trabalho no país, juntamente com Machado (+1.428), Monte Belo (+1.292) e Carmo da Cachoeira (+1.089).
- A atividade agropecuária é sazonal. Ela tem seu ciclo produtivo e a colheita este ano começou mais tarde. A tendência é de que as contratações permaneçam até por volta de novembro. Certamente a agropecuária voltada para o café vai continuar porque começou atrasada e logo já começam os procedimentos para o ano que vem – analisa o gerente regional do Ministério do Trabalho em Varginha, Mário Ângelo Vitório.
Se a agropecuária ainda segura a geração de empregos no Sul de Minas, o mesmo não pode ser dito de outros setores importantes da economia, como a indústria de transformação e o comércio. Esses foram os vilões do desemprego nos primeiros meses nas 10 maiores cidades da região. A indústria de transformação fechou 1.866 vagas, enquanto o comércio, foi responsável pelo fechamento de 1.775 postos de trabalho. Itajubá e Varginha foram as cidades da região que mais tiveram saldo negativo na indústria: 659 e 542 respectivamente. Já Poços de Caldas e Pouso Alegre fecharam 577 e 335 vagas no comércio.
- Eu estou percebendo que a crise está mais voltada para o segmento automotivo, empresas que prestam serviços para o setor automotivo. É claro que essas empresas carregam consigo outros segmentos. Já o comércio, a qualquer informação de crise, ele se ressente. O comércio é um pássaro muito arredio. Nem sempre o problema é em torno da crise, mas o comércio gira em torno dos comentários e boatos. Se um comerciante fala para o outro que tem crise, ele tende a comprar menos. Comprando menos, ele vende menos e faz o processo cognitivo de demitir – disse o gerente do Ministério do Trabalho.
Números de julho e comparação com 2014
Seguindo a tendência nacional, o mês de julho de 2015 terminou com o fechamento de 1.605 postos de trabalho levando em consideração as 10 maiores cidades do Sul de Minas. Três Pontas registrou saldo positivo de 155, puxada mais uma vez pela colheita do café. No entanto, Pouso Alegre foi a cidade que mais demitiu, com saldo negativo de 406, puxado por 282 vagas fechadas na indústria de transformação.
Na comparação com o mesmo período de 2014, fica ainda mais clara a desaceleração no ritmo de geração de emrpegos. Nesta mesma época, no ano passado, as 10 maiores cidades do Sul de Minas apresentavam saldo positivo de 6.316 vagas, contra 1.749 de agora. Se em 2014 a indústria de transformação gerava 397 vagas até julho, neste ano a atividade encolheu em 1.866 postos de trabalho. O comércio já não andava bem das pernas desde o ano passado. Em 2014, até julho, o setor já havia fechado 744 vagas. Neste ano, o saldo negativo já chega a 1.775 vagas.
Segundo o gerente regional do Ministério do Trabalho em Varginha, a indústria deve continuar sofrendo com o momento atual, mas outros setores devem continuar salvando a balança.
- Em cidades médias como Varginha, que tem parque industrial, aquelas empresas que estão voltada para o parque automotivo talvez demorem um pouco até que a cadeia produtiva volte a funcionar. Elas devem sofrer um pouco com o ajuste. Mas outros setores, como serviço e agropecuária, devem apresentar bons resultados. Nós somos uma região exportadora de café e essa tendência deve continuar – disse Mário Ângelo Vitório.
Maior fiscalização e programa de proteção ao emprego
Um outro dado que pode explicar o bom desempenho da agropecuária entre as maiores cidades do Sul de Minas é uma maior fiscalização que o Ministério do Trabalho vem fazendo no campo. Segundo Mário Ângelo Vitória, uma força-tarefa tem atuado diretamente nas fazendas para exigir que as carteiras de trabalhadores sejam assinadas, conforme a lei determina.
- Nós estamos com essa força-tarefa no Sul de Minas, não só nas regionais, mas também com o reforço da Superintendência do Trabalho de Minas Gerais e Brasília para exigir a assinatura da carteira e o lançamento dos dados nos sistemas do Caged que aferem a contratação. Os empregadores que não o fizerem, estão sujeitos a multa. Nós percebemos que a atividade rural possui o dobro da informalidade urbana. Enquanto na urbana ela é em torno de 31%, na zona rural esse número é de 62%. As entidades estão mais combativas, acompanhando mais. Há uma pressão solicitando mais ações do Ministério do Trabalho. Tudo isso é um ciclo que resultou neste número – afirma Mário Ângelo.
Em relação às indústrias, que foram as que mais apresentaram números negativos de geração de empregos neste ano, o delegado regional lembra que o governo federal lançou há pouco tempo o PPE, o Programa de Prevenção de Empregos, que pode ajudar empresas que estejam passando por dificuldades. Segundo ele, até o momento, nenhuma empresa da regional de Varginha procurou o serviço.
- Esse plano é para que sejam mantidos os postos de trabalho, sem a necessidade das empresas demitirem. Um dos setores mais atingidos é o automotivo. Elas podem aderir ao programa para ter uma redução da jornada, ter um limite e os empregados também são beneficiados com um abono que será pago com o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) – disse o delegado.
Fonte: G1 do Sul de Minas