Os altos preços da carne bovina dão espaço para o aumento de consumo de outras proteínas, mas no caso do suíno isso não se consolidou. A diminuição no poder de compra das famílias já afeta a suinocultura ao manter os valores do produto em queda, ante 2014, mesmo após uma recente melhora nas exportações.
- O desafio de colocar na cabeça do consumidor que é possível migrar o consumo de bovino para o suíno é cada vez maior. Quando se fala em proteína barata todo mundo pensa no frango, mas com o preço pago em um quilo de boi você pode comprar três quilos de suíno – afirma o vice-presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Mauro Gobbi.
Na prática, o impacto pode ser mensurado pelos valores atuais do animal vivo. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que, na última terça-feira (18) a média de preços para São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina fechou em R$ 3,44, R$ 3,63 e R$ 3,06 por quilo, respectivamente. No mesmo período do ano passado, estes valores eram de R$ 4,34, R$ 4,22 e R$ 3,57.
O analista de mercado do Cepea, Augusto Maia, enfatiza que o setor vem sofrendo com a crise econômica, visto que a carne suína tem um consumo menor que a de frango e de boi, por uma questão cultural.
- Vemos menor volume sendo adquirido pelo atacado e varejo. A crise vem tirando o poder de compra da população – diz.
Em contrapartida, o analista acredita que a exportação está fazendo a “parte dela” para a movimentação do mercado.
Lá fora
- A Rússia segue como carro chefe das exportações brasileiras de carne suína e tem aumentado seus embarques em 2015, o que vem compensando a retração notada em alguns mercados, como Hong Kong e Cingapura – destaca o vice-presidente de suínos na Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Rui Eduardo Saldanha Vargas.
Ao todo, foram exportadas para os russos 34,5 mil toneladas de carne suína só em julho deste ano, desempenho 51,1% superior ao registrado em junho e 143,2% maior em relação a julho de 2014. Em receita, os embarques atingiram no mês US$ 108,3 milhões, um incremento de 49,9% em relação ao mês anterior e de 59,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Com isso, as exportações totais (todos os produtos e destinos) registraram, em julho, crescimento de 50,2% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a 61,5 mil toneladas. Em receita, houve crescimento de 13,3%, com o total de US$ 157,9 milhões.
Com o saldo histórico de julho (o maior dos últimos cinco anos), o setor reverteu as perdas acumuladas no ano e agora registra elevação de 2,6% nos volumes embarcados entre janeiro e julho de 2015 na comparação com o mesmo período do ano passado, com um total de 290,7 mil toneladas exportadas. No entanto, em receita, houve queda de 16%, com US$ 711,1 milhões.
Temor
Maia alerta para a centralização das vendas da suinocultura brasileira. Cerca de 81,3% da carne embarcada no 1º semestre tiveram apenas quatro destinos: Rússia, Hong Kong, Angola e Cingapura. Foi o maior percentual enviado para apenas quatro países desde 2003, quando chegou a 86,3%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
- Se um desses países deixar de comprar, teremos problemas para escoar essa produção – disse ele.
Fonte: DCI