O Brasil deve embarcar de 2% a 3% mais carnes de frango e suína no próximo ano, em meio a uma esperada recuperação de mercados e incremento de produção, após um 2018 marcado por vendas menores e abaixo do esperado, disse nesta quinta-feira (13) a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
De acordo com o diretor-executivo da entidade, Ricardo Santin, a alta nas vendas incorporaria uma potencial expansão em regiões como Japão, Coreia do Sul e China, que estão mais abertos aos produtos brasileiros.
Além disso, a própria produção nacional de carne de frango deve aumentar em 1,4% em 2019, para 13,2 milhões de toneladas, graças a um maior alojamento de matrizes, enquanto a suína tende a crescer até 3%, para 3,7 milhões.
Peste na China
O avanço nos embarques, contudo, não leva em conta a lacuna de oferta deixada na China por causa dos surtos de peste suína africana.
“A exportação pode ser ainda maior”, avaliou Santin após coletiva da ABPA, em São Paulo.
Ele citou estudo que mostra que ao menos 4 milhões de toneladas de carne suína foram “perdidas” na China em virtude de abates relacionados à doença e que tal volume terá de ser preenchido por outras proteínas para se atender a demanda local.
Frango
A associação prevê que os embarques de carne de frango do Brasil fechem 2018 com queda de 5,1%, em torno de 4,1 milhões de toneladas, depois de indústrias sofrerem com produção em baixa, greve de caminhoneiros, “burocracias internas” e restrições em alguns mercados.
Em meados do ano, a ABPA estimava que as vendas cairiam entre 2% e 3%.
“Tivemos outros problemas… Muitos deles decorrentes de burocracias internas, adequação de produtos em alguns países e diminuição de produção”, afirmou o diretor-executivo da ABPA, Ricardo Santin, durante coletiva de imprensa em São Paulo.
As “burocracias internas” seriam basicamente as relacionadas à fiscalização em plantas produtoras, comentou.
Conforme ele, restrições em alguns mercados importadores da proteína nacional também responderam pela retração. Ele citou barreiras comerciais no Egito, alteração de critérios de abate na Arábia Saudita e o próprio embargo da União Europeia a 20 exportadoras, sobretudo de unidades da gigante BRF.
Só na Arábia Saudita a perda de exportação foi de 100 mil toneladas em 2018. Apesar disso, frisou o executivo, o Brasil segue como líder global no fornecimento do produto.
A ABPA estima que a produção de carne de frango neste ano caia 1,7%, para 12,82 milhões de toneladas.
Quanto à carne suína, a ABPA estimou que as exportações brasileiras cairão 8% em 2018, para 640 mil toneladas, com a produção recuando 3,2%, para 3,63 milhões.
Esse setor, em específico, foi muito prejudicado no ano pelo embargo russo, suspenso em novembro.
Relações internacionais
A ABPA avaliou que a disputa comercial entre Estados Unidos e China neste ano foi favorável ao Brasil, com mais vendas ao gigante asiático, embora não a ponto de impedir a quedas nas exportações.
“A guerra comercial, em alguns momentos, gerou oportunidades… Hoje somos uma oportunidade para a China, eles nos veem como um fornecedor confiável de proteínas”, comentou o presidente da ABPA, Francisco Turra.
Com efeito, os envios de carne de frango do Brasil à China aumentaram 10% no acumulado do ano até novembro, ao passo que os de carne suína saltaram 250%.
Em paralelo, Turra também disse ser contra a transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém, algo já prometido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. O receio da ABPA é de perda de mercado no mundo arábe, que não vê com bons olhos a potencial alteração de local.
“Uma coisa é falar como candidato, outra coisa é falar como presidente eleito, com equipe… Não se pode afetar as relações”, afirmou Turra, destacando que já houve encontro com a futura ministra da Agricultura, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), para se tratar da questão — na ocasião, a própria ABPA sugeriu a criação de um consulado ou centro cultural em Jerusalém, não uma embaixada.
Ele também defendeu o fim do estabelecimento do fretes mínimos para transporte de mercadorias e melhoria de infraestrutura no país.
Nesse sentido, Turra anunciou um novo projeto, chamado “500K”, que visa levar o país a embarcar uma média mensal de 500 mil toneladas de carnes suína e de frango até 2020, frente 394 mil atualmente. O aumento se daria também com um trabalho de conquista e expansão de mercados.
Fonte: Reuters