Mais de 150 pessoas, entre produtores, lideranças rurais, representantes das indústrias e de outros elos da cadeia produtiva do leite do Paraná lotaram o auditório da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), em Curitiba, no dia 21 de novembro, por conta do workshop “Fundamentos de produção e qualidade do leite da Nova Zelândia”. Realizado com apoio do Sistema FAEP/SENAR-PR, o evento teve como objetivo estreitar as relações de parceria entre o Brasil e o país da Oceania, de modo a impulsionar a produção nacional de lácteos dentro de parâmetros de qualidade que permitam que nossos produtos conquistem novos mercados internacionais.
A Nova Zelândia é uma potência mundial no setor de lácteos. O país possui mais vacas de leite do que pessoas. O rebanho leiteiro chega a 5,3 milhões de animais contra uma população de 4,2 milhões. Sua produção anual de 21 bilhões de litros vai quase totalmente para fora, sendo que 96% da produção são exportados para um grupo de 140 países.
Trata-se de um país que já enfrentou os percalços de sanidade e de busca da qualidade dos produtos que hoje o Brasil precisa vencer para colocar seu produto no mercado internacional. De acordo com o embaixador da Nova Zelândia no Brasil, Chris Langley, os dois países ganham com esta parceria, uma vez que ambos são potências mundiais de lácteos. Segundo ele, a embaixada em Brasília tem desenvolvido diversas parcerias neste sentido, como as realizadas com SENAR Nacional, Federação da Agricultura de Goiás e outros órgãos, com objetivo de ajudar pequenos produtores de leite. “Queremos ampliar as parcerias no Brasil, em especial do setor agropecuário do Paraná”, afirmou. “A parceria com FAEP, Seab, Sindileite e Ocepar são fundamentais para que nossas intenções se transformem em realidade”, completou.
Presente na abertura do evento representando o Sistema FAEP/SENAR-PR, o assessor da presidência, Antônio Poloni, destacou a união do setor produtivo paranaense para aproveitar esta oportunidade em uma cadeia que está presente em praticamente todos os municípios do Estado e, principalmente, com grande impacto na realidade socioeconômica paranaense. “O leite é uma cadeia nova no Brasil, que ainda precisa de muita organização. Mas aqui [no Paraná] temos todos os ingredientes para poder crescer: um grande mercado consumidor e um grande mercado produtor”, observou.
Nesse sentido, o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Paraná (Sindileite-PR), Marco Antônio Galassini, destacou as oportunidades neste setor. “O Brasil é o segundo maior consumidor de mussarela para pizza do mundo. O potencial que vemos na economia e no consumo brasileiro de lácteos é muito grande”, avaliou.
O presidente do Sistema Ocepar e anfitrião do evento, Roberto Ricken, destacou a necessidade de o Brasil avançar na questão da sanidade animal para que possa dar um salto na qualidade dos seus produtos lácteos. Neste sentido ele destacou o esforço do Paraná para antecipar a retirada da vacina contra a febre aftosa, tornando-se área livre da doença sem vacinação ainda em 2021.
Workshop
O evento contou com palestras de grandes especialistas da cadeia de lácteos de renome nacional e internacional. Um deles foi o secretário estadual de Agricultura e Pesca de Santa Catarina e atual coordenador da Aliança Láctea Sul Brasileira, Airton Spies, que tratou das “Perspectivas e desafios da produção de leite no Sul do Brasil”. Segundo ele, temos muito a aprender com a Nova Zelândia. “É ela que dá as cartas no mercado internacional de leite”, pontuou.
Segundo Spies, vem ocorrendo um deslocamento da produção leiteira no Brasil em direção ao Sul. Hoje os três Estados da região respondem por 38% da produção brasileira. “Em 2025 seremos responsáveis por 50% do leite do Brasil, teremos uma Nova Zelândia inteira no Sul do Brasil”, afirma. Hoje a região produz 13 bilhões de litros anuais e possui 150 mil produtores. No entanto, do outro lado temos apenas 15% do consumo. Nos últimos 20 anos a produção brasileira aumentou 4%, enquanto que a demanda cresceu apenas 2%. Desta forma o caminho natural é exportar o excedente. “Senão vamos nos afogar em leite”, sentencia.
Para isso, é preciso qualidade e competitividade. Isso envolve questão de manejo, estrutura e logística. “Rodamos muito para pegar pouco leite. Essa desorganização gera custos”, observa Spies. Esse processo irá tirar do segmento aqueles produtores que não melhorarem seus resultados, sem significar êxodo rural ou desemprego. “Vamos perder produtores de leite, mas vão se abrir inúmeras oportunidades para gente que fornece pastagem, transporta leite, industrializa”, avalia. “Se tentarmos proteger a ineficiência, vamos perder o setor como um todo, porque lá fora estão fazendo o dever de casa”, finalizou.
Em diversas palestras ao longo do dia ficou evidente que o modelo neozelandês tem como grandes pilares de sucesso nesta área, o bom manejo das pastagens e o cuidado com a qualidade do leite.
No que se refere à sanidade dos animais, o diretor da QCONZ América Latina, Bernard Woodcoock, contou a trajetória da empresa da Nova Zelândia, que trouxe para o continente sul-americano sua expertise no controle de qualidade da produção. “A realidade que o Brasil enfrenta hoje na área da sanidade é a mesma que a Nova Zelândia enfrentou na década de 1980”, disse.
Ainda, sobre o aproveitamento de pastagens, Ernesto Coser Neto, do grupo Tru-Test apresentou a palestra “O uso de novas tecnologias de manejo de pastagens: a experiência neozelandesa aplicada à realidade brasileira”, na qual explanou sobre a diferença de mentalidade existente entre os produtores brasileiros e seus concorrentes do outro lado do mundo. “Lá existe pesquisa sobre pastagem, genética e manejo. Eles tratam pastagem com o mesmo cuidado que nós tratamos nossa produção de grãos”, exemplificou.
Ao longo do dia, diversos especialistas observam que o Brasil, por ter áreas com grande insolação, muita água e muito espaço para pastagens, tem todas as condições para despontar como um dos líderes mundiais do setor de lácteos. Porém, é preciso eliminar gargalos como o alto custo de produção, logística defasada e problemas com a qualidade do produto. Felizmente, a partir deste diagnóstico, o primeiro passo já foi dado.
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Fonte: Sistema FAEP