O presidente eleito, Jair Bolsonaro, já mencionou a possibilidade de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Essa medida desagrada países muçulmanos e já se falou até em represálias comerciais porque o Brasil é grande exportador de carne de frango para esses países.
Essa carne é chamada de halal, pois segue princípios do Islã tanto na produção quanto no abate. Em árabe, a palavra significa legal, permitido. E os muçulmanos só podem consumir alimentos que foram produzidos seguindo esse ritual islâmico.
De janeiro a setembro deste ano, a cada 100 quilos de carne de frango exportados pelo Brasil, 49 foram para países islâmicos. A Arábia Saudita é o principal destino, responde por 14% das vendas. O setor já movimentou mais de US$ 2 bilhões.
“O mundo islâmico para nós avicultores, é o principal destino. Fazemos exportações para lá há mais de 30 anos”, conta Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “As dificuldades são as menores possíveis e o mercado tem crescido de forma gradual, mas tem crescido sempre”, emenda.
As exigências do Islã
Em um frigorífico em Pato Branco, Sudoeste do Paraná, toda a produção segue as normas do alcorão sagrado. A reportagem acompanhou todo o processo seguido na unidade.
Para ter a certificação, é preciso cumprir exigências em toda a cadeia produtiva, desde o bem-estar animal das matrizes que vão por ovo, dos pintinhos e do frango de corte, até os rituais religiosos.
Dos mil funcionários do frigorífico, 15 são muçulmanos treinados para o abate halal. São os chamados sangradores, que trabalham em um ambiente escuro, para não agitar as aves.
“Os requisitos mais importantes são verificar e se certificar de que as aves estejam vivas, apresentando vitais, e fazer a degola da forma que manda o Islã”, explica Mourad el Moutaqi, supervisor do abate halal da unidade.
“Uma delas (as exigências) é que os sangradores sejam muçulmanos praticantes. A segundo é fazer a degola cortando as jugulares, as veias e artérias, para poder fazer o sangramento correto da ave, escoando o sangue para que o alimento seja próprio para a consumação”, completa.
Os sangradores muçulmanos devem seguir à risca a religião. Por isso eles têm uma sala no frigorífico para fazer as orações do dia.
“Cinco vezes por dia a gente tem que fazer a oração dele, a oração é importante na vida da gente”, diz o sangrador Abdellah Chakiri, que veio do Marrocos.
O brasileiro Jorge José Camargo se converteu ao islamismo há 25 anos e chegou a morar na Arábia Saudita. Ele também é um dos habilitados a trabalhar como sangrador.
“O meu trabalho é um trabalho religioso. Nós sangradores islâmicos matamos o frango e mencionamos o nome de Allah, o nome de Deus. ‘Bismilah, Allaho Akbar’, significa ‘em nome de Deus, Deus é grandioso'”, explica.
Outra exigência é que na hora da sangria os frangos estejam com o peito virado para a Meca, na Arábia Saudita, a cidade sagrada dos muçulmanos. Para isso, a indústria teve que construir uma nova calha de sangria.
O frigorífico abate 130 mil frangos por dia. Metade da produção vai para o Oriente Médio, e a outra metade se divide entre mercado interno e outros países da Europa e Ásia. O Brasil é o maior exportador de frango halal do mundo.
Fonte: Globo Rural