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TRIGO ENFRENTA PREOCUPAÇÕES

Após uma safra de qualidade afetada por chuvas em 2018, os moinhos brasileiros terão o desafio de atender a um mercado brasileiro que exigirá uma farinha com menor nível de microtoxinas em 2019, conforme nova regra do governo, disseram integrantes da indústria nesta sexta-feira.

As pesadas chuvas que atingiram a safra de trigo dos principais produtores do Brasil —Paraná e Rio Grande do Sul— facilitaram a proliferação de doenças fúngicas como a giberela, que por sua vez afetam a qualidade do cereal por elevar o nível de microtoxinas no grão.

Em função da quebra de safra e do maior volume do cereal de menor qualidade, o Brasil deverá elevar as importações em mais de 10 por cento no próximo ano, estimou um executivo da Bunge nesta sexta-feira.

Pela nova regra da Anvisa, produtos derivados de trigo deverão ter o total de microtoxina (DON, consequência da giberela) reduzido para 750 microgramas por quilo em 2019, ante 1.000 microgramas/kg anteriormente, segundo documento da associação da indústria Abitrigo, um desafio adicional depois de uma safra “chuvada”.

Uma vez que a indústria moageira não tem controle sobre a produção no campo, está se movimentando para pedir uma mudança ou um adiamento da nova regra da Anvisa.

“Caso contrário, pode gerar um desequilíbrio no mercado. Imagina se não puder comprar o trigo, por causa da microtoxina, vai aumentar a importação… isso pode distorcer o mercado, e a indústria não pode ficar com este ônus”, disse o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo, Christian Saigh, durante evento realizado pela associação.

Ele destacou que a quantidade de microtoxinas no trigo depende das condições de produção no campo, e que a indústria não consegue corrigir essa questão com a eventual adição de produtos químicos.

Dessa forma, ele pediu que o setor produtivo, que tem demonstrado força junto ao novo governo, una-se à indústria moageira para tentar flexibilizar a regra por ora.

Caso contrário, disse ele, a importação de trigo deverá aumentar no ano que vem “pelo menos 10 por cento”, podendo alcançar 7 milhões de toneladas, mesma estimativa feita pela Bunge no mesmo evento.

Já o diretor de suprimentos da Correcta Alimentos, Mauricio Ghiraldelli, disse que quando o mercado absorver melhor as informações sobre a quebra de safra e problemas de qualidade do produto nacional, “o preço do trigo brasileiro poderá até superar o importado”.

“Ninguém percebeu o tipo do problema que o Brasil está tendo”, declarou o executivo da Correcta, indústria de alimentos especializada na moagem de trigo e soja.

Presente no evento, o vice-presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo, José Carlos Veríssimo, avalia que a importação de trigo poderá aumentar em cerca de 500 mil toneladas, diante da quebra de safra, embora tenha destacado que as exportações do produto de menor qualidade também devam subir.

Ele lembrou que 500 mil toneladas de trigo de menor qualidade do Brasil já estão comprometidas para vendas externas, e que o volume exportado desse produto, que tem mercado em países da Ásia e África, deve aumentar.

Alguns países não têm os mesmos níveis de exigência de qualidade do Brasil.

Por conta da quebra de qualidade, um bom volume da produção de trigo ainda deverá ser destinado para ração.

No caso dos produtos para ração, em geral, a microtoxina DON é rapidamente absorvida pelo trato gastrintestinal de alguns animais, o que não acontece com os humanos, para quem pode causar vômito e diarreia, entre outros problemas, dependendo do nível ingerido.



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