Em crise já há algum tempo, a cultura do arroz no Rio Grande do Sul deve ver, nesta safra 2018/2019, sua área encolher. Dos 1,078 milhão de hectares plantados na temporada passada, segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a intenção de plantio neste ano é de 1,007 milhão de hectares, queda de 6,53%. A redução, porém, não é o único contratempo ao setor orizícola.
O clima, com chuvas relativamente constantes, tem atrasado a semeadura e, junto com a falta de capital de giro dos produtores, pode derrubar a produtividade. Segundo o presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros do Estado (Federarroz), Henrique Dornelles, a situação preocupa os produtores. “Ano passado já foi atrasado, e esse ano está ainda pior do que no ano passado”, afirma o presidente.
De acordo com o Informativo Conjuntural da Emater, divulgado nesta quinta-feira (18) a área plantada em nível estadual chega a 25% do total previsto. O percentual não atinge a média para o período, que é de 28%. “Sempre há uma janela boa em agosto para o preparo antecipado que, esse ano, não foi muito favorável”, acrescenta o diretor técnico do Irga, Maurício Fischer.
Para Dornelles, o motivo é o clima chuvoso, que impossibilita a semeadura. “E semana que vem a previsão é de chuva de novo”, complementa o presidente da Federarroz. Fischer argumenta que até agora, pelo menos, as chuvas não vieram na intensidade inicialmente prevista, com sequência de até quatro dias chuvosos consecutivos, o que dificultaria ainda mais a semeadura.
O diretor técnico do Irga acrescenta que o tempo está correndo, pois as melhores produtividades são obtidas com arroz plantado no mês de outubro. “A semeadura tem que ser feita no máximo até 15 de novembro.
O clima tem que nos ajudar”, afirma Fischer. Outro motivo de preocupação é a falta de caixa dos produtores, descapitalizados com os preços baixos da última safra. A estimativa é de que apenas 25% dos agricultores esteja dentro do crédito oficial, com o restante utilizando como fontes indústria, fornecedores ou mesmo crédito pessoal.
“Temos muitos produtores com endividamento, o que torna proibitivo continuar. O arroz exige muito capital de giro e, quem não está com saúde financeira, fatalmente acaba abandonando a cultura”, afirma Dornelles, que vê as áreas sendo ocupadas com soja, pecuária ou mesmo abandonadas.
Nos últimos quatro anos, a média de área tradicionalmente de arroz direcionada à soja foi de 270 mil hectares, segundo Fischer. A rotação entre as duas culturas é recomendada agronomicamente e, nesse ano, com a situação econômica, deve ganhar ainda mais terreno. “Não temos acompanhamento ainda, mas a expectativa é de que passe dos 300 mil hectares”, afirma o diretor do Irga. Fischer acrescenta que a área abandonada tende a ser aquela mais complicada, que exige maiores recursos para ser produtiva.
“Com isso, podemos até ter a expectativa de que a média de produtividade melhore, e a rentabilidade também”, comenta o diretor técnico, ressaltando, porém, que, sem dinheiro, é provável que os produtores reduzam o nível tecnológico nas lavouras. No ano passado, a produtividade chegou a 7.949 quilos por hectare, a maior já registrada no Estado, segundo o Irga. Dornelles conta, entretanto, que o clima contribuiu de forma surpreendente. “Tivemos um pico de radiação solar, um período de radiação solar fora do normal, e cremos que dificilmente isso se repita nesse ano”, afirma o presidente da Federarroz.
Por conta disso, Dornelles prevê que a produtividade convirja para perto dos 7,5 mil kg/ha, mas não descarta que alcance apenas 7,3 mil kg/ha, o que levaria a produção total para perto das 7,3 milhões de toneladas. Se confirmada, a safra seria mais de um milhão de toneladas menor do que a safra passada, quando foram colhidas pouco mais de 8,4 milhões de toneladas no Estado.
“Um milhão de toneladas é tudo o que o Brasil importa do Mercosul, é uma queda extremamente importante”, afirma Dornelles.
Fonte: Jornal do Comércio