Banana. A maioria das pessoas gosta e consome. Porém, mal sabem o trabalho que dá para produzir aquela fruta bonita, disposta nas gôndolas dos supermercados, que colhida ainda verde chega amarela ao ponto de venda, e neste intervalo de tempo pode ser atacada por muitas pragas e doenças, tanto na pré como na pós-colheita. O ambiente é desafiador para os produtores e para os pesquisadores.
Segundo o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA), Miguel Angel Dita Rodriguez, lotado na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), estima-se que a bananicultura empregue mais de 300 mil trabalhadores de maneira direta ou indireta no estado de São Paulo. Entre os fatores que limitam a cultura no estado está a fusariose da bananeira (FB), também conhecida como mal-do-Panamá.
Pensando nisso, e principalmente em melhorar o manejo, e assim a vida dos produtores de banana, a Embrapa está propondo um novo projeto de pesquisa (2019-2021), que busca novas formas de controle da fusariose, uma das principais doenças desta cultura, e que causa enormes prejuízos. Além dela, há também a sigatoka amarela e a negra, e pragas como a broca e nematoides.
Em 10 de outubro foi realizado na Embrapa Meio Ambiente um seminário para propor e discutir um novo projeto. Sob a coordenação de Rodriguez, o encontro reuniu pesquisadores da Embrapa e de instituições parcerias, como IAC (Instituto Agronômico) e produtores de duas regiões cultivadas com banana no estado de São Paulo: Aguaí e Vale do Ribeira.
Na ocasião foram apresentados resultados de experimentos e pesquisas realizadas durante dois anos (agosto 2015 a julho 2107) nas regiões citadas derivados de projetos concluídos e como será o novo projeto “Fusariose da bananeira: identificação de fatores de predisposição e alternativas para o manejo da doença”. Além disso, discutiu-se também novas iniciativas em busca da sustentabilidade do setor, propostas de atuação da pesquisa e manejo da fusariose, além de outras doenças, como a sigatoka (Mycosphaerella musicola ou Mycosphaerella fijiensis), e pragas, como a broca (Cosmopolites sordidus).
Inicialmente, o novo projeto está proposto para se iniciar no estado de São Paulo, e visando principalmente a questão da fusariose, com a parceria inicial de produtores da região do Vale do Ribeira, Aguaí e São Bento do Sapucaí, mas espera-se que os resultados gerados possam ajudar aos produtores de todo o Brasil.
Projeto aglutina diversas áreas de pesquisa
De acordo com Rodriguez, o principal objetivo é verificar o papel de fatores bióticos, abióticos e suas interações na predisposição à fusariose e identificar alternativas para o manejo sustentável da doença. “Neste novo projeto nós vamos identificar os fatores associados ao aumento ou diminuição da intensidade da fusariose; obtenção de métodos, práticas e tecnologias para o manejo de fatores de predisposição à FB; além de integração de práticas para reduzir perdas causadas pela doença”, explica o pesquisador.
No seminário Rodriguez apresentou as diretrizes, os objetivos e resultados esperados do projeto “Identificação de fatores de predisposição para a Fusariose da bananeira e alternativas para seu manejo”, e também discorreu sobre o panorama das pesquisas com bananeira em SP, desenvolvidas pela Embrapa, IAC, APTA, Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral). Falou também sobre o papel dos nematoides e ervas daninhas.
Os resultados do experimento implantado em Aguaí foi apresentado pelo analista da Embrapa Meio Ambiente Henrique Vieira. Ele destacou a importância da saúde da planta por meio do manejo da saúde do solo, além da alternativa de plantio de variedades de bananeira para o Planalto Paulista, que sejam resistentes ao frio e a algumas doenças, como a BRS Princesa (tipo maça).
O pesquisador do IAC Luiz Teixeira falou sobre os parâmetros de solo como fatores de predisposição à doença, enfatizando o efeito do pH do solo e fontes de Nitrogênio. Ele salientou a relação entre os atributos físicos dos solos, como densidade e resistência de penetração das raízes da planta com a incidência da fusariose.
Já a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Jeanne Marinho Prado apresentou uma avaliação sobre o papel das brocas na dispersão e transmissão do Fusarium oxysporum f. sp. cubense, agente causal da fusariose, e alternativas de manejo, contribuindo para uma estratégia de manejo integrado da broca-da-bananeira e da fusariose. Para ela é “preciso entender o papel da broca na intensidade da fusariose”. O projeto também prevê estabelecer uma coleção de micro-organismos benéficos com potencial para o manejo desse inseto.
O papel do microbioma do solo e uso da metagenômica pra entender melhor a possível relação com a fusariose foi tema da apresentação da pesquisadora da Embrapa Informática (Campinas, SP) Poliana Fernanda Giachetto. Para ela, “o sucesso do manejo da FB depende do conhecimento de fatores de predisposição à doença”. Poliana explica que a metagenômica permite a identificação de micro-organismos que não são cultivados em laboratório, por meio da análise de fragmentos de DNA obtidos de uma amostra do ambiente, no caso o solo.
No caso do projeto em questão, Poliana vai usar a técnica para identificar diferenças na estrutura e composição da comunidade microbiana entre solos possuem alta intensidade da doenças e solos com baixa ou nula incidência, questionando assim se áreas sadias possuem um microbioma mais “rico” e diverso do que áreas doentes, e como as práticas de manejo do solo afetam este microbioma. Pretende assim associar micro-organismos específicos com o status de saúde do solo.
O pesquisador Geraldo Stachetti, também da Embrapa Meio Ambiente, falou sobre como o Sistema Multicritério de Indicadores para Avaliação de Impactos e Adoção de Boas Práticas de Manejo (BPM) para a convivência com a fusariose da bananeira pode ajudar a gerar dados mais confiáveis para a pesquisa.
Para ele é primordial “desenhar uma estratégia integrada baseada em BPM, que permita reduzir o impacto de fatores de predisposição à FB e aumentar a produtividade em bananeira”.
Stachetti comentou que os estudos utilizados pela Embrapa para avaliar os impactos causados pelas técnicas de controle do HLB dos citros, utilizando análise multicritério (método Ambitec-Agro), de acordo com verificação realizada com grupos de consultores técnicos que atuam na citricultura, poderão ser utilizados também para verificar e validar as técnicas de controle da fusariose em banana. O objetivo do sistema, explica o pesquisador, “é o de prover uma avaliação simples e de baixo custo dos impactos socioambientais de inovações tecnológicas e atividades rurais introduzidas em determinado sistema de produção”.
Fonte: Embrapa