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Segregação de trigo aumenta faturamento em toda a cadeia produtiva

A variedade de biscoitos, massas, pães e inúmeros outros alimentos que levam trigo em sua composição é um fenômeno de encher os olhos e juntar água na boca das pessoas no supermercado. O que as letras miúdas dos rótulos não mostram no detalhamento dos ingredientes, no entanto, é que para se preparar cada produto há um tipo de trigo específico. Na verdade, na maior parte dos casos, um mix feito de vários deles. Para chegar às indústrias e panificadoras para se transformarem em guloseimas, essas variedades passam por um processo de segregação. E levar essa separação à cadeia produtiva, que envolve planejamento do plantio à colheita, e do transporte ao processamento, exige muito trabalho.

Um exemplo de como a segregação do trigo gera diferenciais aos envolvidos na cadeia produtiva vem da região Centro-Sul do Paraná. O produtor Andreas Keller Júnior cultiva uma variedade específica em sua propriedade no município de Pinhão e recebe entre 5% a 10% a mais por saca em relação à média praticada no mercado. “A própria cooperativa já indica as variedades que são mais apropriadas para os clientes que vão comprar a farinha na fábrica do moinho. Tendo a qualidade exigida pela indústria, é algo vantajoso também financeiramente, além de diversificar
um pouco os cultivos e diluir o risco”, enumera.

Andreas Keller Júnior, produtor rural, aposta em variedades selecionadas de trigo e consegue aumentar sua rentabilidade

Andreas Keller Júnior, produtor rural, aposta em variedades selecionadas de trigo e consegue aumentar sua rentabilidade | Fotos: Fernando Santos

Outro produtor que aposta em variedades específicas para a indústria e consegue se beneficiar do bônus é Cristian Abt, com área no Distrito de Entre Rios. “Eu tenho trigo melhorador, usado para fazer mix em diversas misturas de farinhas. Cada indústria tem uma política, dependendo da necessidade de determinado tipo de trigo. Aqui na cooperativa, o trigo melhorador tem bonificação. Eu escolhi esse porque no campo é relativamente bom e também, se conseguir uma boa produção, a rentabilidade é um pouco maior devido à bonificação”, revela.

A Agrária, cooperativa a que os produtores são vinculados, mantém a Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa), que há décadas fomenta o cultivo de cereais de inverno na região, cujo clima é ideal para diversas cultivares. Juliano Luiz Almeida, pesquisador da Fapa, lembra que a prática da segregação começou com a cevada, há cerca de 20 anos e só depois no trigo. “Você não pode plantar duas ou três cultivares de cevada e misturar. Então a cooperativa já tinha essa tradição de segregar. E depois que começamos a cultivar trigos específicos, para nichos específicos, vimos que tínhamos que aplicar a mesma política de segregação”, lembra.

O pesquisador cita o exemplo da segregação dos grãos de trigo para se fazer biscoitos. “Trata-se de um grão completamente diferente do para fazer pão. É um trigo muito mais mole, com teor de proteína mais baixo e moagem diferente. A partir do momento que começamos a receber e moer esse trigo em separado, começou a transferir esses ganhos de tecnologias para o mercado. Foi uma concretização do objetivo do campo, passando pelo moinho e chegando até os nossos clientes”, aponta.

Soluções aos produtores

A prova de que a segregação de trigo vem ganhando importância é o fato de diversas empresas oferecerem soluções para diferentes variedades aos produtores. Durante a WinterShow 2018, no Distrito de Entre Rios, em Guarapuava, realizada de 16 a 18 de outubro, mais de 3 mil pessoas passaram por estandes de 67 expositores, entre companhias de defensivos agrícolas, fertilizantes, novas tecnologias em automação nas propriedades, tratores. A programação também contou com palestras em temas como manejo e controle de pragas e doenças, planejamento econômico e compactação de solos.

O gerente de novos negócios da Biotrigo Genética, Jorge Stachoviack, reforça que as necessidades e expectativas da indústria são por trigos de qualidade. Segundo ele, se esses materiais específicos forem misturados com outros, perdem seu valor. “Essa separação é importante para que se agregue valor para o produtor rural, e mantenha para a indústria. A segregação é um passo inevitável
para que possamos evoluir no mercado e na cadeia do trigo. Segregar e trabalhar em mercados específicos significa mais dinheiro no bolso do produtor”, ressalta.

Jorge Stachoviack, gerente de novos negócios da Biotrigo Genética: segregação do trigo começa na seleção genética

Jorge Stachoviack, gerente de novos negócios da Biotrigo Genética: segregação do trigo começa na seleção genética | Fotos: Fernando Santos

Para Marcelo Ferri, consultor de desenvolvimento de mercado da Bayer, a disponibilidade de diversas variedades é uma preocupação no radar de empresas fornecedoras de insumos para a agricultura. “Hoje, os produtores têm uma gama de opções de variedades, cada uma com característica diferente em relação à resistência de doenças. O produtor, quando vai fazer o plantio dessas variedades, precisa ter consciência, a partir da orientação do técnico, os cuidados necessários”, alerta.

As novas tecnologias, também presentes na WinterShow, são outras ferramentas para ajudar nesse novo momento do trigo, como a estação meteorológica compacta, que permite identificar as variáveis climáticas e monitorar remotamente pelo celular. “Existem inúmeras variedades específicas para cada característica ambiental. É preciso municiar o produtor com informações,
em tempo real, relativas a aspectos climáticos para que decida qual variedade é mais adequada para uso na propriedade”, explica.

FAEP atua pela segregação do trigo no Estado

Há anos, por meio da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas, a FAEP debate a necessidade de se investir na segregação do trigo. Para Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico Econômico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR, isso é fundamental para a evolução da cadeia como um todo. “Talvez, o trigo seja a cultura mais complexa em termos de qualidade, pois há muitos fatores que interferem no processo de panificação, na moagem, do que as culturas de verão. Então é um ponto fundamental para o produtor conseguir um diferencial de preço”, diz.

A FAEP atua em projetos para incentivar a segregação do trigo e promover o reconhecimento da qualidade das cultivares e os parâmetros que compõem os produtos finais. “O setor moageiro já se mostrou disposto a caminhar nesse sentido junto com os produtores rurais que têm uma vantagem direta na remuneração fazendo esse tipo de ação. Os próprios órgãos públicos também estão sendo envolvidos. Temos muito a avançar, mas a partir da coesão das ideias, acreditamos que vamos desenvolver a triticultura no Paraná”, resume Ana Paula.

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Ainda, produtores e lideranças rurais do Paraná debateram os desafios do setor agrícola durante a reunião da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP, no dia 18, na sede do Sindicato Rural de Guarapuava. Este foi o primeiro encontro do grupo promovido este ano fora da sede da Federação, em Curitiba. O local foi definido a pedido dos produtores, para facilitar a logística e também propiciar a participação no WinterShow, a mais importante feira técnica de cereais de inverno do Brasil.

Tipos de trigo segregados na Agrária

– Básico: utilizado principalmente na fabricação de biscoitos;
– Melhorador: um dos usos mais populares é para a fabricação de panetones e pães industriais;
– Pão: base para a preparação de pães comuns;
– Em desenvolvimento: trigos em fase de testes para que sejam categorizados.

Texto: Antonio C. Senkovski

Confira a versão impressa no Boletim Informativo.

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Fonte: Sistema FAEP



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