A estiagem no outono e no inverno e alguns temporais com ventos fortes prejudicaram as lavouras de milho e reduziu a qualidade da silagem, principal alimento do gado de leite. “Nós tivemos uma seca bastante complicada na região, o que complicou nossa vida em dois aspectos, na qualidade as silagem e também na quebra da produção de aveia, que são os principais alimentos utilizados nessa época. A falta de chuva fez com que o milho não se desenvolvesse como deveria e já depois de desenvolvido na minha lavoura o vento derrubou boa parte da planta, então a qualidade da silagem ficou bem menor do que o ideal e por isso temos que investir mais em milho e farelo de soja, aí nosso custo também aumenta”, explica o produtor de leite Cézar Luiz Dondoni.
Mas se o custo aumentou, o preço também subiu. O valor médio pago ao produtor na região faz com que a atividade se sustente: “Estamos recebendo em média R$ 1,65 por litro. Não é o preço ideal, mas está melhor do que há cerca de um mês, quando o que recebíamos mal cobria os gastos”, afirma Dondoni.
Reação de mercado
Mas o mercado do leite deve passar por mudanças nas próximas semanas. “Historicamente, os melhores preços pagos ao produtor são no inverno, que é quando a produção diminui e o consumo aumenta. Mas este ano ainda tivemos outros fatores, como o reflexo da greve dos caminhoneiros, em que a falta de alimento para os animais diminuiu a produção e a oferta, o que consequentemente aumentou os preços e o produtor pode esperar uma nova reação no preço. A situação no geral para o produtor melhora, com a entressafra se aproximando, o preço do milho baixa, e o custo dele também”, explica o zootecnista Guilherme Souza Dias, do sistema Faep e Senar.
Na prateleira
O aumento para o produtor vai direto para as gôndolas. “Os reflexos do aumento, é claro, vão chegar ao consumidor final. Tanto no litro do leite como nos derivados. Já que o cálculo para o preço de venda é feito com base em diversos condicionantes e o que é pago ao produtor é menos de um quarto do valor final”, esclarece Guilherme Souza Dias.
Panorama da região
Para o produtor Cézar Luiz Dondoni, a época é de recuperação, já que em 2017 as contas dificilmente fechavam no azul. “Ano passado foi um ano difícil para a atividade, fechávamos no vermelho em muitos meses e por conta disso alguns colegas até pararam com a atividade, desfazendo-se do plantel. Então agora, mesmo com o custo mais alto, esse aumento das últimas semanas vem colaborando para que possamos recuperar o prejuízo acumulado”, explica Dondoni.
De acordo com um levantamento realizado pela Faep (Federação de Agricultura do Estado do Paraná) em parceria com sindicatos e produtores da região oeste, tomando como base o ano de 2017, o preço pago pelo litro de leite ao consumidor não cobria o custo total da produção. O levantamento de custo da propriedade modal [aquela utilizada como modelo base para os cálculos] é dividido em três: custo operacional efetivo (o valor que o produtor desembolsa por litro); custo operacional (que leva em conta a depreciação da propriedade); e custo total (que leva em conta os dois anteriores e o poder de reserva para manutenções).
“Na região de Cascavel o levantamento apontou que o preço médio pago ao produtor que em 2017 foi de R$ 1,19, enquanto o custo efetivo médio foi de R$ 0,83 e o total para o produtor de R$ 1,01. Mostrando, assim, que a manutenção da atividade é preocupante na região, já que a margem média do produtor é muito baixa”, explica o zootecnista Guilherme Souza Dias.
Dados da Faep mostram o Paraná como terceiro maior produtor de leite, contribuindo com 10% da produção nacional. O Estado conta com 114 mil produtores, 99.573 inseridos no mercado, os demais produzem para consumo. A atividade ocupa o quarto lugar no Estado em termos de geração de valor bruto da produção, abaixo apenas dos produtos soja, frango de corte e milho.
Fonte: O Paraná.
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