A conta da guerra comercial entre Estados Unidos e China começou a aparecer. O governo americano anunciou um pacote de US$ 12 bilhões de ajuda a agricultores do país, a serem aplicados em pagamentos diretos, compra de alimentos para programas de ajuda e promoção de novos mercados para produtos da agropecuária americana.
A decisão foi comunicada na terça-feira (24/7) pelo chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Sonny Perdue. Segundo ele, são medidas de curto prazo adotadas pelo governo Donald Trump, em resposta ao que chamou de retaliações injustas baseadas em tarifas ilegais de outros países.
“Produtores rurais americanos têm sido tratados injustamente pelas políticas comerciais ilegais da China”, disse Perdue, em nota. “O USDA não ficará parado enquanto eles sofrem com tarifas de outros países”, acrescentou o secretário de Agricultura.
Com o pacote, Trump se volta para parlamentares e lideranças de estados onde a agropecuária tem papel relevante e que tiveram contribuição decisiva na eleição presidencial de 2016, quando ele foi eleito. Os Estados Unidos estão em ano de eleições legislativas e, dois anos atrás, no pleito presidencial, o republicano foi dominante em regiões como o meio-oeste do país, onde está boa parte da produção local de soja e milho.
“Várias disputas importantes para o Senado ocorrerão em Estados fortes na agricultura, como Missouri, Dakota do Norte e Indiana. O que sair das eleições em novembro poderá determinar o controle do Senado no ano que vem”, destacou o jornal americano The Washington Post, em reportagem sobre o pacote.
Desde o início da guerra comercial, representantes de produtores têm reclamado dos seus efeitos sobre preços de produtos e custos de produção. Na bolsa de Chicago (CBOT), os preços da soja, que há três meses estiveram próximos de US$ 11 por bushel, estão entre US$ 8,50 e US$ 8,70 nos contratos de prazo mais curto.
“Agricultores e pecuaristas estão entre os americanos mais patriotas, mas ir à bancarrota não deveria ser uma consequência da nossa dedicação”, disse, em audiência recente no Congresso, Scott VandeWal, agricultor na Dakota do Sul e presidente do American Farm Bureau Federation, segundo o site americano AgWeb. Desde maio, segundo ele, os preços da soja caíram 20%.
Na mesma ocasião, a presidente da Associação dos Produtores de Grãos de Montana avaliou que a política de Trump não apenas depreciou produtos. Segundo Michelle Erickson-Jones o custo para comprar um silo para 25 mil bushels de grãos aumentou 12% com a alta do preço do aço, outro produto afetado pelas decisões do presidente na área comercial.
Na Dakota do Sul, Donald Trump venceu Hillary Clinton obtendo 61% dos votos. Em Montana, o republicano superou a democrata obtendo 56% da votação.
A política tarifária do presidente colocou os Estados Unidos em rota de colisão, principalmente, com México, Canadá, União Europeia e China, com efeitos sobre o mercado global. Em resposta, esses países impuseram retaliações que atingiram produtos em que o país está entre os principais players internacionais, como soja, milho e carne suína.
Para o jornal americano The New York Times, ao anunciar o pacote de ajuda ao setor agrícola, Donald Trump indica de que a guerra comercial vai continuar. “Ignorando as preocupações de produtores rurais, parlamentares e até de alguns de seus apoiadores”, pontua a reportagem.
Em editorial, o jornal classifica o movimento como desesperado – “o último em uma série de decisões econômicas incoerentes” – e avalia que não cumprirá o objetivo de reverter os danos ao setor agropecuário.
“Então agora Trump quer proteger agricultores da guerra comercial de Trump?”, questiona a publicação, no título do artigo.
Ao The Washington Post, Rand Paul, senador republicano do Estado do Kentucky, deu uma declaração que, segundo o jornal, “ecoa” o posicionamento de “muitos republicanos”. “Se as tarifas estão punindo agricultores americanos, a resposta não é beneficiar os agricultores. É remover as tarifas.”
“Produtores americanos não querem ser pagos por perder. Querem vencer fornecendo alimentos para o mundo”, acrescentou, segundo o jornal, Ben Sasse, senador, também republicano, do Nebraska.
Fonte: Revista Globo Rural.
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Fonte: Sistema FAEP