Uma oferta de aquisição da empresa de agroquímicos Monsanto pela suíça Syngenta enfrentaria forte resistência no Brasil caso seguisse adiante, apontam fazendeiros e advogados, criando um obstáculo que poderia atrasar ou forçar maiores concessões ao possível acordo de US$ 45 bilhões.
Grande parte do foco da opinião pública ficou em torno de potenciais problemas antitruste nos Estados Unidos e na União Europeia, mas os desafios também podem surgir de potências agrícolas emergentes como Brasil e China.
Particularmente o Brasil, segundo maior mercado para a Monsanto e a Syngenta, é crucial para as duas companhias. Como um dos poucos países do mundo com terras disponíveis para expandir o agronegócio, o Brasil deve superar os Estados Unidos como maior produtor de soja nos próximos anos, enquanto seu clima tropical o torna um enorme consumidor de pesticidas.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pode levar até um ano, máximo de tempo permitido, para analisar um potencial acordo, aponta Marcio de Carvalho Bueno, advogado especializado em questões antitruste do escritório TozziniFreire Advogados.
O escritório brasileiro da Syngenta, que já está mostrando sinais de resistência a uma oferta, classificou a ideia de resolver questões antitruste com a venda do negócio de sementes e de ativos químicos sobrepostos como “muito simplista” e disse que “vender o negócio de sementes da Syngenta desmantelaria nossa estratégia integrada em mercados emergentes como o Brasil.”
A porta-voz da Monsanto Sara Miller aponta que a empresa espera
- Um meticuloso processo regulatório global, mas permanece confiante de sua capacidade de obter todas as aprovações globais necessárias. Os fazendeiros são a prioridade número um da empresa – informou.
A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja MT) também encara com preocupação o possível acordo. O presidente da entidade, Ricardo Tomczyk, afirmou a agência Reuters temer que haja uma distroção tanto no mercado de defensivos quanto no de sementes, onde as duas empresas detém participação expressiva.
Pressão norte-americana
Nos Estados Unidos grupos de fazendeiros e consumidores também estão se opondo veementemente ao negócio.
- Nós nos oporemos a isso agressivamente. Isso iria reduzir a competição em um mercado já altamente concentrado – argumenta Roger Johnson, presidente da União Nacional dos Fazendeiros (NFU, na sigla em inglês).
Além disso, o grupo de defesa dos consumidores Food & Water Watch está realizando uma análise de mercado para fundamentar suas objeções, a serem apresentadas ao Departamento de Justiça, caso o negócio avance.
Fonte: Gazeta do Povo