O tabelamento dos fretes rodoviários irá causar consequências graves para a sociedade brasileira, como o aumento na inflação, desabastecimento, redução na produção de alimentos, diminuição da renda do transportador e da oferta de postos de trabalho e possível queda no volume de exportações. Essa lista de problemas terá que ser enfrentada pelos brasileiros caso continue em vigor preços tabelados para custos logísticos, conforme aponta a nota técnica produzida pelos especialistas José Vicente Caixeta Filho e Thiago Guilherme Péra, ambos do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG), da Universidade de São Paulo (USP).
“Tabelar o preço dos fretes não é solução para alavancar os transportadores, pois pode piorar a situação do resto da economia”, aponta Caixeta.
Sobre o aspecto da inflação, o documento aponta que a tabela de fretes irá acarretar no aumento de custo de transporte, que posteriormente será repassado para o consumidor final, contribuindo diretamente para a alta dos preços de alimentos e produtos.
Ainda, o aumento no frete irá encarecer insumos necessários à produção agropecuária. Ou seja, com o produtor menos capitalizado e o fertilizante mais caro, inevitavelmente haverá queda na produção de alimentos já na próxima safra. “A redução da oferta na produção de grãos pode gerar uma situação de rearranjo comercial interno em muitas regiões do país, com consequente aumento de preços, o que acaba desencadeando um efeito cascata de repasse ao consumidor final, gerando maior inflação de alimentos”, ressalta Caixeta.
A tabela de fretes também terá desdobramentos negativos para os próprios caminhoneiros. A insegurança jurídica causada pela medida já trouxe desaceleração no mercado de grãos nas últimas semanas e até mesmo a paralisação total dos negócios em alguns locais. “No médio prazo, com o aumento dos preços de fretes em decorrência do tabelamento, os embarcadores (donos da carga) poderão investir na aquisição de veículos para realizar as suas operações de transporte, contribuindo para reduzir a demanda de serviços de transporte terceirizados”, aponta Péra.
Outro fator preocupante envolve a geração de emprego, num momento que o Brasil já registra consecutivas quedas na geração de postos de trabalhos. A crise dos fretes rodoviários pode piorar ainda mais esse cenário, na análise dos pesquisadores. “A situação criada pelo tabelamento já tem se configurado como um redutor no número de serviços de transportes pelo país, devido à paralisação dos negócios na agricultura, inibindo a criação de novos empregos e podendo até colocar em risco a manutenção de postos de trabalho tradicionais da atividade”, enfatizam os pesquisadores da ESALQ-LOG.
Por fim, as exportações, importante mola propulsora da economia brasileira, principalmente em meio à pior crise da história do país, também irão sofrer um duro golpe. “O aumento do preço do frete encarece ainda mais o chamado ‘custo Brasil’ e reduz a competitividade das exportações do agronegócio, responsáveis pela geração de divisas significativas. O aumento do preço do frete reduz a vantagem comparativa em relação aos outros países, pois representa uma parcela significativa do preço de comercialização”, indica o estudo.
Soluções
Os especialistas apontam medidas que podem minimizar os impasses vividos pelo setor logístico, como a redução dos impostos sobre transportes, das tarifas de pedágio e dos preços dos combustíveis, além de promover uma renovação efetiva da frota brasileira.
Mais do que isso, na avaliação dos profissionais, é preciso uma agenda de Estado para infraestrutura de transportes e logística. “Temos de nos comprometer com essa tão esperada agenda para a logística, estabelecendo metas para a construção de ferrovias e dutovias, viabilizando o transporte fluvial e por cabotagem, além de privilegiar a melhoria da qualidade das estradas”, pontua o estudo.
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Fonte: Sistema FAEP