A greve dos caminhoneiros teve grande impacto nos resultados da balança comercial brasileira. Nas duas últimas semanas de maio – dos dias 21 a 31 – o volume médio diário das exportações recuou 36%. Segundo os dados divulgados na última sexta-feira (01) pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), na terceira semana de maio (dias 14 a 20), o valor exportado era em média de R$ 1,047 bilhão.
Na quarta semana (21 a 27 de maio), com o início da greve, o valor ficou em R$ 699 milhões, apresentando uma queda de 33,23%. Na quinta semana (28 a 31 de maio), ficou em R$ 642 milhões, recuo de 38,68%. Já o superávit comercial caiu de R$ 1,128 bilhão registrados na primeira semana do mês para US$ 745 milhões na quarta, e na quinta somou US$ 548 milhões. Os dois últimos resultados abaixo de US$ 1 bilhão indicam impacto da greve dos caminhoneiros na balança do País.
Segundo a coordenadora dos Cursos de Graduação em Administração, Processos Gerencias e Gestão Financeira da Faculdade Fipecafi, Luciana Machado, a paralisação afetou principalmente a exportação de produtos manufaturados, que apresentaram queda de 17,3% em comparação com o mês de abril. “Vários produtos não chegaram aos portos, fazendo com que as transportadoras ficassem com estoques lotados. Enquanto outros produtos, como commodities, poderiam ter suas entregas remarcadas, os produtos manufaturados sofreram maior impacto, pois ao não embarcarem no prazo geravam cancelamentos”, explica.
Para o professor de economia Ulisses Ruiz de Gamboa, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, além da greve, a queda nas exportações ainda foi acentuada pela crise cambial enfrentada pela Argentina. Segundo os dados do Mdic, a exportação para o país decresceu 15,4%, puxada principalmente pela venda de automóveis de passageiros e veículos de carga. “A Argentina é o maior comprador de manufaturados do Brasil, e irá demorar a se recuperar após essa mudança cambial”, afirma.
“Além de ser o principal destino do comércio automotivo e manufaturado, as exportações para a Argentina ainda contam com a dependência do modal rodoviário, transporte então afetado pela greve dos caminhoneiros”, explica o sócio-diretor da Barral M Jorge Consultores Associados e ex-secretário do comércio exterior, Welber Barral.Segundo os especialistas ouvidos pelo DCI, os efeitos da greve dos caminhoneiros ainda deverão ser sentidos nos números da balança comercial do mês de junho. Além disso, o cenário internacional deverá ter grande influência nos resultados dos próximos meses.
“Devemos esperar novas oscilações do dólar, o que fará com que as importações continuem enfraquecidas. Somado a isso temos o cenário de incerteza com os desdobramentos da crise econômica e do resultado das eleições no País”, comenta Luciana Machado.
“Com o crescimento do comércio mundial e suas implicações e a redução do Reintegra [programa que devolve parte dos tributos pagos pelos exportadores e que foi cortado pelo governo para bancar parte da conta da redução de impostos sobre o diesel] é provável que o Brasil deva repetir os resultados do ano passado”, indica Welber Barral.
“A economia mundial continua crescendo, mas com muitas incertezas, como a guerra comercial do presidente americano Donald Trump e o atual preço do petróleo, que podem afetar o comércio. Apesar disso, a expectativa é de crescimento nas exportações e de uma recuperação das importações no longo prazo”, diz Ulisses Ruiz de Gamboa.
Principais resultados
De acordo com as informações do Mdic, a balança comercial brasileira teve um superávit de US$ 5,981 bilhões em maio. O saldo comercial é resultado de exportações de US$ 19,241 bilhões (crescimento de 1,9% pela média diária) e de importações de US$ 13,260 bilhões (aumento de 14,5% também pela média diária).
No acumulado de janeiro a maio, o superávit comercial somou US$ 26,155 bilhões, valor 9,9% inferior em comparação ao mesmo período de 2017 (US$ 29,026 bilhões).No ano, o superávit soma US$ 26,155 bilhões. A previsão do governo federal para 2018 é que o saldo da balança comercial brasileira alcance um valor acima de US$ 50 bilhões.
Fonte: DCI.
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