A redução média de 30% nos preços internacionais das commodities agrícolas tem favorecido países asiáticos, como a China, na formação de estoques reguladores. Com isso, no momento em que houver uma reversão de cenário e os valores subirem, eles podem optar por consumir o produto estocado.Esse cenário preocupa, pois atingiria diretamente grandes exportadores como o Brasil. A avaliação foi feita ontem (3) pelo sócio diretor da Agroconsult, André Pessôa, durante coletiva de imprensa do 14º Congresso Brasileiro do Agronegócio.
Algumas commodities estão sendo muito estocadas na China, como o algodão. Os estoques de milho [daquele país] já chegam a 90 milhões de toneladas. Isso serve de alerta para o nosso mercado , afirma o executivo. A opção de consumir os grãos que já estão no país pode ser uma medida aplicada para evitar a inflação. Nesta hipótese, mesmo em um momento de escassez de produto no mercado internacional, a volatilidade dos indicadores pode ser reduzida e até os picos de alta de preços serão mais baixos.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que no primeiro semestre deste ano o complexo soja faturou US$ 15,9 bilhões, queda de 20,9% em relação ao mesmo período de 2014. O volume cresceu 3,2%, para 40,2 milhões de toneladas, mas o preço médio teve retração de 23,4%. Entre janeiro e junho, só a China respondeu pela receita de US$ 9,6 bilhões do setor, recuo de 21% no comparativo anual.
Déficit de armazenagem
Diante deste cenário, os executivos da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) ressaltam o déficit de armazenagem para grãos no País. Segundo a entidade, cerca de 30% da produção fica estocada nas propriedades brasileiras. Nos Estados Unidos, principal concorrente no segmento, acontece o inverso e o percentual salta para 70%. O entrave faz com que o País fique dependente do movimento de preços internacionais, sem a possibilidade de espera por preços melhores.
O custo de logística está alto, mas os investimentos em armazenagem precisam ser feitos para conseguirmos valores melhores por head , enfatizam os diretores.
Uma saída que tem sido amplamente aplicada é a comercialização antecipada da safra. Pessôa diz que o travamento de preços, em geral, é fixado em moeda norte-americana, fazendo com que a expectativa de receita em reais seja superada. A maior parte dos produtores comercializa em dólar pela alta volatilidade do câmbio , comenta.
ILPF
Outro ponto de destaque durante o congresso foi a integração lavoura-pecuária-floresta (ILFP). Considerado um dos maiores especialistas no sistema, Paulo Herrmann, presidente da John Deere no Brasil, destacou que a meta é chegar em 2020 com um total de 10 milhões de hectares cultivados com esse sistema. Além das vantagens econômicas e de manejo do solo, o sistema também tem um enorme apelo ambiental, lembra.
Fonte: DCI