O projeto era ambicioso. Fazer com que o Paraná alcançasse, no mínimo, 100 mil hectares de canola para dar início à produção de biocombustível – hoje, o grão é matéria prima apenas para óleo de cozinha no estado. Porém, diversos “efeitos colaterais” fizeram com que a chamada “soja de inverno” não caísse nas graças do setor produtivo, que ainda aposta no trigo e cevada no período frio do ano.
Sem adesão dos produtores, a cultura praticamente não saiu do lugar no Paraná. De acordo com dados Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a canola ocupa área de 8,1 mil hectares na safra atual, apenas 1,8 mil hectares a mais que o registrado na temporada 2008/09 (6,3 mil). O ápice da “soja de inverno” nos últimos dez anos foi na safra 2012/13, quando atingiu 15,5 mil hectares.
- A geada de 2013 pegou a canola no período de floração. Os problemas foram sérios, assim como as perdas. O produtor não se manteve e os vizinhos não copiaram, coisa bastante comum na agricultura – explica o agrônomo Carlos Hugo Godinho, da Seab. No ano seguinte, o grão ocupou apenas 5,7 mil hectares.
- Aqui na região [da Cooperativa Witmarsum] não tinha nada de canola no ano passado por causa do frio que derrubou a produtividade em 2013. Como o trigo não foi bem no ano passado, alguns voltaram. Mas o pessoal está desmotivado – relembra Rogério Dyck, agrônomo da empresa sediada em Palmeira, nos Campos Gerais.
O desinteresse dos produtores em relação à oleaginosa se explica por um conjunto de fatores que impactam na produção e, consequentemente, no bolso. Não há no mercado uma grande variedade de produtos químicos registrados para o uso nas lavouras, o que torna o manejo difícil e aumenta os riscos de doenças.
Além disso, o investimento em tecnologia e novas cultivares não é expressivo, bem abaixo do que ocorre com a soja e o milho. Assim, as lavouras não se desenvolvem de forma uniforme, com o ponto de maturação da planta desigual. A colheita acaba sendo dificultada e a produtividade reduzida, ainda mais em um estado com grande incidência de geadas.
- Ainda tem a questão de a canola trazer o mofo branco, doença que pode passar para soja. Isso coloca mais um obstáculo na escolha da cultura como opção de rotação – afirma Godinho.
Resistência
Diante do cenário adverso, encontrar campos cobertos com as flores amarelas se tornou tarefa difícil no Paraná. Poucos agricultores ainda apostam na canola como cultura de inverno. O produtor Ewald Wiens decidiu “separar” 7,7 hectares da área de 25 hectares em Palmeira, nos Campos Gerais, para a “soja de inverno”.
- O objetivo é ter uma renda extra no inverno, ao invés de plantar aveia para adubo verde. Mas para isso preciso colher 2 mil quilos por hectare e vender, no mínimo, a R$ 60 a saca. O custo com semente é muito alto”, ressalta. “Um amigo que plantou também mostrou uma variedade nova que produz mais – complementa.
O plantio foi realizado na primeira quinzena de maio. Apesar das chuvas ao longo do mês de julho, o desenvolvimento da lavoura “vai bem”.
- Se o resultado for positivo, penso em ampliar a área no próximo ano. Inclusive, alguns vizinho podem voltar também – diz Wiens.
14,5 toneladas
De canola devem ser produzidos no Paraná na atual safra, conforma projeção do Deral. A cultura foi bem implantada e, até o momento, o clima tem colaborado pra germinação satisfatória das lavouras.
1,788 kg/ha
Essa é a estimativa de produtividade para o estado nesta temporada. Caso ocorra, será o melhor desempenho das lavouras de canola do esta.
Fonte: Gazeta do Povo