Os desafios para garantir água para a agricultura e para a produção de alimentos foram tema de debate na manhã desta terça-feira (20) no 8º Fórum Mundial da Água, que está sendo realizado em Brasília. O foco principal do debate foram as tecnologias que apoiam o aumento da produtividade agrícola, o uso eficiente da água na produção agrícola e alimentar e o gerenciamento hídrico em toda a cadeia alimentar. “O importante é que temos capacidade e instrumentos”, disse o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, em mensagem gravada especialmente para esse debate. Métodos modernos de irrigação foram citados como importante caminho para solucionar a equação entre eficiência hídrica e a necessidade de produção de alimentos, em todo o mundo.
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, destacou que o Brasil, de forma geral, conta com boa oferta de água, não apenas das chuvas, mas também de rios e fontes subterrâneas. Mas o ministro ressaltou que o Brasil tem ampliado cada vez mais os cuidados com a gestão hídrica, com atuações fortes na preservação e na conservação dos solos e da água. “Há uma legislação bastante dura. Todos os produtores rurais têm de proteger as margens dos rios. O exemplo do Brasil deve ser observado para todo o mundo”, defendeu Maggi. Ele lembrou, ainda, das inovações tecnológicas que permitiram ao Brasil aumentar a produtividade do campo nas últimas décadas – e um dos destaques é a irrigação.
“Quando estamos buscando a segurança alimentar e hídrica ao mesmo tempo, não estamos rompendo as barreiras da sustentabilidade”, afirmou a diretora-executiva do International Water Management Institute (IWMI) Claudia Sadoff. Com essa afirmação, ela lembrou que água e produção de alimentos são assuntos que não podem ser tratados separadamente, mas de forma conjunta. O IWMI é uma instituição que trabalha com foco na pesquisa para o desenvolvimento de novas abordagens para os principais desafios relacionados à água, visando um futuro seguro na área alimentar. “É preciso haver decisões conscientes sobre onde, quando e como usar a água”, afirmou. A diretora ressaltou que “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável” é o segundo dos 17 objetivos para transformar o mundo, conforme a Agenda 2030 proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Claudia ressaltou que um dos principais desafios enfrentados atualmente envolve a administração das megacidades (com mais de dez milhões de habitantes). Administrar os desafios de acesso à água e de segurança alimentar para cidades tão grandes representa um enorme desafio, destacou a diretora, seja qual for a localização ou o seu clima. Um dos grandes problemas, destacou, é a grande geração de resíduos. “Isso precisa mudar”, disse. Diante disso, ela defendeu que é necessário estruturar um sistema de economia circular, ou seja, que considere critérios de reciclagem e sustentabilidade. Citou como exemplo a possibilidade de geração de biogás a partir dos resíduos urbanos.
Um bom exemplo do bom uso da água, com critérios tecnológicos, é o avanço da irrigação nas últimas décadas, disse a ministra de Agricultura e Meio Ambiente da Espanha, Isabel García Tejerina. Ela explicou que desde a virada do milênio houve forte migração do sistema tradicional para os métodos localizados de irrigação, envolvendo 1,5 milhão de hectares espanhóis. Segundo Isabel, tais mudanças garantiram economia de 10% do consumo de água nessas áreas – mantida a produtividade – desde 2004. “Contamos com os nossos agricultores como principais aliados”, disse a ministra. Isabel afirmou que o futuro da irrigação é promissor, sempre no caminho da maior eficiência e da sustentabilidade das fontes de água e do solo.
Potencial brasileiro
O presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Celestino Zanella, destacou que o Brasil tem 6,95 milhões de hectares de área cultivada irrigada, ocupando o sexto lugar no ranking mundial, e que há espaço para ampliações, dentro de critérios de melhor eficiência hídrica. Os líderes mundiais em área irrigada são a China e a Índia, com cerca de 70 milhões de hectares cada, seguidos dos EUA (26,7 milhões de hectares), do Paquistão (20,0 milhões de hectares) e do Irã (8,7 milhões de hectares), segundo dados do Atlas Irrigação da Agência Nacional de Águas (ANA). O estudo da agência cita que “a agricultura irrigada é bastante dinâmica e diversificada” no Brasil, mas lembra que “a irrigação ainda é pequena frente ao potencial estimado do País”. O potencial de expansão é estimado em 76,2 milhões de hectares.
No debate da manhã desta terça-feira, Zanella citou exemplos de técnicas utilizadas no oeste baiano que já resultaram em maior eficiência hídrica nas lavouras: plantio direto, curvas de nível, bacias de contenção, preservação de veredas, proteção da mata ciliar e prevenção de incêndios.
Exemplos como os das lavouras do oeste baiano tornam o Brasil um agente de extrema importância global na discussão do nexo “natureza/água/alimentos”, destacou o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Antônio Lopes. Ele lembrou que o País destina apenas 30% de terras para lavoura, pecuária e florestas plantadas e é exemplo de produtividade e conservação. O presidente da Embrapa citou, entre outros pontos, a importância do zoneamento climático, que permite a expansão dos cultivos em locais apropriados. Lopes destacou que o futuro envolve, sem qualquer dúvida, a produção de baixo impacto, com o uso cuidadoso dos insumos, como o solo e a água.
Fonte: Revista Globo Rural