O Agronegócio em 2030, a importância de aprender e ter vigor nas realizações e os agricultores que não vão permanecer diante dos avanços tecnológicos. Quem fala sobre esses temas é o escritor e professor, José Luiz Tejon Megido. O comentarista da rádio CBN de São Paulo e uma das principais autoridades em marketing do Agronegócio conversou com a equipe do Portal Agronovas. Confira!
AGRONOVAS – Em suas palestras o senhor afirma que o futuro não é mais resultado do presente. Como chegou a essa constatação?
TEJON – A mudança é tão grande no comportamento humano, na ciência, na tecnologia que a gente tem que ir ao futuro e passar a agir no presente. Então é o presente que virou resultado do futuro. Se você trabalhar hoje só com a visão do presente, você está trabalhando atrasado, você está trabalhando com o reflexo do que já passou. Antigamente o mundo mudava muito lentamente. Agora, nós temos um monte de coisas pelo planeta inteiro, que estão com soluções e pesquisas daquilo que será o mundo em 2040, 2050. Então nós temos que compreender isso, mergulharmos e procurarmos esses saberes e conhecimentos, e identificar como aplicamos parte deste conhecimento no que estamos fazendo hoje. Caso contrário, nós não nos preparamos para ir adiante. A jornada ao futuro, é com ela que aprenderemos.
AGRONOVAS – Nesta jornada ao futuro, como o senhor projeta o agronegócio em 2030?
TEJON – Aprendemos a produzir com larga escala e muita inteligência no ambiente tropical, que há 30, 40 anos atrás ninguém acreditava que seria possível produzir o que produzimos neste ambiente. Aprendemos a fazer duas safras, estamos aprendendo a fazer integração lavoura-pecuária-floresta e se nós olharmos o que podemos crescer na produtividade e o que podemos crescer em áreas de pastagens degradadas e, principalmente, o que podemos crescer nesta visão de integração lavoura-pecuária, nós temos aí para 2030 uma potencialidade para chegarmos ou até ultrapassarmos 400 milhões de toneladas de grãos – o dobro que fazemos hoje.
AGRONOVAS – Qual é o perfil do produtor do futuro, do agricultor de 2030?
TEJON – É aquele produtor que tem vontade de aprender e fazer muito bem feito o uso deste conhecimento e, lógico, tem aí aspectos de empreendedorismo, coragem, ousadia, uma pessoa com vigor de realização, porque você pode ser uma pessoa que aprende, mas não realiza. Então é um empreendedor, apaixonado pelas coisas do campo, por este tipo de negócio, mas que tenha a sua cabeça aberta para aprender e cria sucessores, sucessores da própria família ou atrair jovens para trabalhar com ele neste campo da nova gestão.
AGRONOVAS – E como é esse aprender? Em suas palestras o senhor dá o exemplo de aprender com quem faz melhor.
TEJON – Como professor eu vejo isso nas classes: o aluno é ruim em matemática, então ele começa a conversar e aprender com o aluno que é bom em matemática. Ele passa a ser, não tão bom quanto, porque pode não ter a vocação, mas ele fica bem melhor. Então, nós somos resultado das pessoas que nós admiramos. Se eu sou mais ou menos em produtividade média e eu pegar na minha região os três melhores e perguntar para eles, olhar, ver como eles fazem. Talvez eu nunca vire o melhor, porque os melhores têm vocação muito grande, mas eu de nota 5, passo a ter a nota 7, nota 8. É uma dica muito simples: procure aprender com esse melhor que você vai evoluir.
AGRONOVAS - O senhor faz uma afirmação preocupante: 70% dos produtores brasileiros não vão para o futuro. Por quê?
TEJON – 70% de tudo! Você precisa ter um nível de engajamento e vontade muito grande de mexer e aprender com essas novas tecnologias. Se você não tem essa vontade e essa vocação, você não conseguirá. A melhor coisa que você tem a fazer se você não tem alguém que saiba ir por este caminho: produtividade acima de 70, 80 sacas por hectare de soja, milho para 12 mil quilos por hectare, se você não consegue esses resultados, numa visão de sustentabilidade e numa propriedade muito bem administrada e gerida, ou você arruma alguém que faz ou você procure sair da atividade antes que você seja mal sucedido. Esses indicadores vêm de pesquisa no mundo inteiro, de uma velha pesquisa de Pareto que dizia que 20% das pessoas realizam 80% dos resultados e, mais recentemente, com Daniel Goleman que estudou e concluiu que 11% das pessoas estão muito a frente, 19% acompanham essas 11%, 50% é turista passando um tempo no planeta, ou seja, pessoa distraída que não está focada e 20% é cara que só reclama e ele chama de terrorista detonando tudo. E precisamos lutar contra esse número que está presente na agricultura e em toda a sociedade – esses 70% que não caminham, que não vão ao futuro e se transformam num peso social, psicológico gigantesco. Vamos chegar em 10 bilhões de pessoas e eu não consigo sustentar o planeta com 7 bilhões de pessoas que não consigam estudar, aprender, evoluir. A grande luta da humanidade é essa. No campo, produtores que não fizerem parte do time que mais se aprimora, não conseguirão vencer as exigências de qualidade, de sustentabilidade, de custos. É importante entender também que não é somente dentro da porteira, ele tem que participar de associativismo, de entidades de classe. Não se luta mais sozinho no mundo, você tem que estar participando de grupos associativos que representem a categoria para as coisas maiores, além de ser muito bom como gestor, você precisa ser um ser humano ativo, participativo e protagonista na sociedade.