feijão

ÁGUA NO FEIJÃO

A sequência de dias chuvosos por todo o Paraná, que atravessou o Natal e o Ano Novo, não fez bem à primeira safra de feijão no estado. Na principal região produtora, nos Campos Gerais, cerca de 25% das lavouras estão atualmente em condições ruins, justamente no momento crítico de maturação e colheita dos grãos.

Cautelosa, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab) diz que apenas agora, com solo mais seco, irá a campo para ouvir produtores, cooperativas e assistência técnica e avaliar a extensão das perdas em termos de produtividade e qualidade do produto. Mas o próprio relatório semanal do Departamento de Economia Rural, da Seab, adianta que o índice de lavouras em más condições chega a 30% em Campo Mourão e Pato Branco, e 25% na região de Ponta Grossa. O Paraná é o principal produtor de feijão no país e responde por 22,5% da produção nacional, segundo o IBGE.

- Como o feijão tem um mercado extremamente especulativo, qualquer notícia que for dada agora quanto à extensão das perdas de produtividade e qualidade pode prejudicar tanto o produtor como o consumidor. Nos próximos dias estaremos fazendo essa avaliação – afirma Francisco Simioni, diretor do Deral.

Temor é que excesso de chuvas se prolongue pelas próximas semanas

O mercado, no entanto, já reagiu aos estragos da chuva, com os preços ao produtor subindo até 30% em relação aos valores praticados antes do Natal e chegando a R$ 110 a saca de 60 kg do feijão carioca, em Ponta Grossa.

Cobertor curto

Na avaliação de Marcelo Lüders, do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), a alta do feijão carioca – que domina 65% do mercado brasileiro – só deve ser percebida pelo consumidor a partir dos meses de fevereiro e março, quando a oferta da safra nova já não for tão grande.

- A entressafra será em abril e maio. Quando ocorre uma perda como essa, o cobertor fica mais curto, e o volume acaba não sendo suficiente para cobrir toda a demanda – pondera.

Por outro lado, diz Lüders, a recuperação atual dos preços ocorre ainda sobre uma base muito baixa, próxima ao mínimo estabelecido pelo governo, de R$ 82,96 para o feijão carioca e R$ 76,50 para o feijão preto.

- O Ministério da Agricultura, inclusive, já sabia do problema dos preços baixos e ia solicitar recursos ao Ministério da Fazenda para garantir os preços mínimos. Mas agora não será necessário, diante desta situação de perdas por causa do clima – aponta Lüders.

Uma prática comum da colheita, no Paraná, é cortar o pé de feijão e deixar os grãos secarem alguns dias ao sol, antes de fazer a debulha. Em várias propriedades, foi nesse momento que a chuva dos últimos dias se abateu, impedindo o recolhimento dos grãos, que acabam germinando ou ficando “chuvados” (com excesso de umidade).

- O que preocupa, é que o pessoal do clima está apontando algo como 20 dias de chuva durante o mês de janeiro, o que seria terrível para a produção paranaense, porque cerca de 70% será colhido entre janeiro e fevereiro. Se continuar a chover, daí sim a situação poderá ser muito grave – conclui o diretor do Ibrafe.

O excesso de chuva trouxe também algum atraso ao desenvolvimento das principais culturas da safra de verão no Paraná, milho e soja, que mesmo assim encontram-se 88% e 86% em boas condições, respectivamente. Não houve estragos que não possam ser recuperados, segundo Simioni, do Deral.

- A chuva forte provocou erosão e lixiviação da adubação em algumas áreas, arrebentou curva de nível e fez sulcos na plantação. Mas dentro de uma normalidade de clima, seguindo as orientações da assistência técnica e fazendo os tratos culturais, os produtores podem recuperar tranquilamente essas lavouras. -

Fonte: Gazeta do Povo



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