Se grão de soja fosse ouro, hoje o garimpo nos Campos Gerais do Paraná estaria seriamente ameaçado. E a culpa não seria da falta do metal, mas sim do método de exploração.
Na região, muitos produtores vêm abdicando de fazer a rotação de cultura, ou seja, o cultivo de soja está se tornando tão intenso que a redução da área de milho cultivado no verão, neste ano, chegou a 42%, segundo dados do Deral. Sem essa variação, o solo não tem o tempo de recuperação necessário e a produtividade fica, ano a ano, mais ameaçada.
A situação acontece, basicamente, por dois motivos: a soja está com preço razoavelmente bom e o milho, que em 2016 bateu em R$ 60 a saca, neste ano chegou a valer menos de R$ 15.
- Os Campos Gerais estão todos voltados para soja. Com pouco milho, precisamos importar do Norte do Paraná e do Mato Grosso para abastecer as fábricas de ração. Está partindo, praticamente, para uma monocultura forçada – relata Marcio Copacheski, gerente de negócios da Castrolanda Sementes.
Copacheski destaca que, para a Safra 2017-18, entre os 850 cooperados, a redução de plantio de milho foi de 29%, com crescimento de 15% para a soja e 5% para o feijão.
- São quase 90 mil hectares de soja, 20 mil de feijão e 19 mil de milho, grande parte para silagem – conta.
Cartilha
O gerente conta que a expectativa de produtividade para a próxima safra é boa, mas dificilmente repetirá o feito da safra anterior, quando houve recorde de produção no Brasil.
- Estamos entrando em um ano de La Niña, tivemos estiagem recentemente. Quem plantou milho já em setembro, teve problemas – conta.
Quem seguiu a cartilha e plantou entre o fim de outubro e o início de novembro deve ter bons resultados, segundo Copacheski. Com rotação de cultivo, melhor ainda. Este é o caso do holandês Jan Haasje, que mora há 40 anos na região. Além de fazer a rotação, ele tem um método no qual ‘planta milho e colhe suíno’. Com 40% dos 800 hectares dedicados ao cereal, ele evita a perda de dinheiro utilizando o grão para a ração animal.
- Tenho 850 matrizes [leitoas reprodutoras] – revela o agricultor, que diz saber de casos de produtores que estão há sete anos sem realizar a rotação.
Ciente da importância de colocar as sementes na terra no período adequado, Haasje conta que semeou na última semana de outubro e diz que é preciso ter paciência se o preço não for o esperado.
- Nós agricultores estamos muito mimados. As commodities explodiram de uns anos para cá e devemos ter um período de ajustes, a não ser que aconteça um novo e forte crescimento da economia global, vamos crescer de maneira mais acomodada – prevê o agricultor holandês, que também planta feijão.
Fonte: Gazeta do Povo