A defesa dos produtores de leite gaúchos será um dos focos principais das ações da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) em 2018, quando a entidade completará 55 anos de fundação. Presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva assumiu neste ano também o comando do Instituto Gaúcho do Leite (IGL), entidade que ele tenta reerguer.
Criado em 2013, o IGL enfrentou diferentes problemas entre 2016 e 2017 – incluindo o envolvimento de um dos dirigentes nas Operações Leite Compensado e a atual ausência de recursos destinados pelo Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio Grande do Sul (Fundoleite) para manter a entidade.
- Precisamos de um instituto que agregue dados sobre o setor e esperamos, em breve, contar com Sinditat e Farsul para reforçar o IGL – diz Joel.
O instituto, hoje, não conta com nenhum repasse fixo de recursos para se manter e opera com o que tinha disponível em caixa até o fim do convênio com o Fundoleite, ainda em 2016. A defesa do setor lácteo como uma das prioridades da Fetag se justifica pela relevância da cultura do leite dentro das 378 mil propriedades rurais familiares no Estado. Desse total, cerca de 65 mil têm algum tipo de atividade leiteira, com produção ou agroindústria.
Joel negocia, ainda, com três indústrias instaladas no Rio Grande do Sul as multinacionais Lactalis e Nestlé, e a CCGL novos modelos de contrato e remuneração aos produtores de leite. Já com o governo do Estado, a Fetag tenta que sejam adotadas cláusulas que limitem a importação de leite, especialmente do Uruguai, por parte das empresas que recebem incentivos fiscais – como é o caso das três indústrias citadas pelo presidente da entidade, que contam com Fundopem-RS.
- Indústrias que recebem algum tipo de incentivo do governo deveriam ter limitação para importação de matéria-prima, valorizando a produtor gaúcho. É o que estamos negociando com o governo do Estado, entre outros tópicos – defende Joel.
A preocupação é reflexo da crise enfrenta pelo setor, que neste ano retirou das famílias produtoras quase R$ 14 mil de renda devido à queda nos preços, de mais 20% no caso do valor pago ao produtor, de acordo com estimativas da Fetag. O baque nas receitas pode ser ainda maior, já que o cálculo da entidade é sobre um valor médio de R$ 0,93.
– Mas há produtor que não tem conseguido nem R$ 0,70 – afirma o presidente da federação.
Na área de grãos, a preocupação maior é com os efeitos do La Niña no Estado ao mesmo tempo em que avança o plantio de soja sobre outras culturas. Joel alerta que a aposta elevada feita pelos produtores no atual plantio de soja, em detrimento do milho, por exemplo, coloca em risco a economia de muitas cidades.
- A soja é um grão bastante sensível ao clima, e há previsão de pouca chuva no período da floração. Podemos enfrentar muitas perdas e um grave crise em 2018 – alerta o presidente da Fetag.
Boa parte dos agricultores começará o ano mais descapitalizada. A Fetag estima que 2017 esteja encerrando com uma queda média de 26,93% na receita dos produtores, com redução generalizada em todas as culturas. Na soja, a retração dos ganhos em relação a 2016 é de cerca de 15%; no milho, 31%; no arroz, próximo de 28%; e no feijão, 45%.
- Vale lembrar que o produtor perdeu 26% da receita, o custo da cesta básica caiu menos de 6%. Para variar, produtor e consumidor pagam a conta, e os ganhos ficam com atravessadores – critica o dirigente.
Fonte: Jornal do Comércio