A grosso modo, metade do peso de um boi abatido vira carne e a outra metade vira subprodutos. É o que se conhece por rendimento de carcaça. De maneira simplificada, conforme a Scot Consultoria, “a carcaça é composta pelo bovino abatido, sem cabeça, cauda, mocotós e couro”. “Diante disso, o rendimento é definido como a relação entre o peso da carcaça e o peso vivo do bovino abatido”. Quando esse rendimento começa a aumentar para 53-54%, os pecuaristas se sobressaem à média nacional e faturam mais com a venda para os frigoríficos. Mas tem gente que hoje já está atingindo mais de 60% de rendimento, um índice mais que invejável.
A receita vem de Cascavel, no Paraná, da fazenda de Piotre Laginski. “Têm animais que já atingiram até 67% de rendimento de carcaça. Hoje nossa média é de 59%”, revela o produtor. Para alcançar tamanha eficiência, o pecuarista apostou em recria a pasto e engorda em confinamento do Canchim, uma raça sintética produzida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que leva em seu DNA 5/8 de sangue do Charolês e 3/8 do Nelore.
Laginski explica que apostou no sistema há cerca de três anos por perceber que em uma pequena parcela da fazenda, poderia faturar mais em relação ao cultivo exclusivo de grãos. “No começo a gente acreditava, e agora confirmamos, que a pecuária nesse sistema de confinamento poderia ser mais rentável do que os grãos. É mais rentável por área”, comenta.
O pecuarista comenta que o segredo do sucesso começou com a escolha da raça. “Nós queríamos um animal que se adaptasse à região. Pesquisamos, fizemos vários testes, com várias cruzas, até chegar ao Canchim. É um animal de grande rusticidade e alta eficiência em ganho de peso. O seu desempenho é superior a outras raças, e ele se adaptou muito bem ao clima e ao solo da nossa região”, comenta. Outras características positivas da raça também incentivaram Laginski a optar pela raça. “A mãe produz muito leite, tem uma excelente habilidade materna, é muito dócil”, pontua. “É uma raça de fácil manejo”, amplia.
No começo, explica, eram 285 matrizes, mas os planos são ampliar a atividade. “Hoje já são 365 matrizes, mas queremos aumentar para 450 no ano que vem e chegar a 600 em 2019”, diz o produtor paranaense. “Queremos diminuir a compra de bezerros”, justifica.
As crias acompanham as matrizes a pasto até os sete meses, quando são confinadas para engorda. O produtor destaca, porém, que esses primeiros sete meses são fundamentais para o desenvolvimento na fase seguinte. “O animal precisa ganhar peso nesses sete meses que fica pastoreando, por isso cuidamos muito do manejo de pastagens”, destaca. O principal alimento na fazenda é a aveia, bastante adaptada à região.
Confinamento
Confinado, o Canchim começa a mostrar seu valor. Em um tempo relativamente curto, atinge os 550 quilos e está pronto para o abate. O nutricionista Paulo Bernardo Warken explica que o controle da dieta é fundamental para que Lagisnki atija tais níveis de rendimento. “É preciso muita dedicação, mas especialmente controle das dietas. Só uma dieta adequada vai refletir em desempenho”, aponta. A alimentação com silagem, grão úmido, farelo de soja e núcleo mineral proteico é rica em massa e grãos, comenta Laginski.
Uma das vantagens do Canchim, no modelo de confinamento, assegura o jovem produtor, é que ele atinge peso de abate em menos tempo. “É mais rentável porque atinge o peso cerca de 550-600 quilos em 16 meses. É um tempo relativamente bom, mas nosso objetivo é mais arrojado. Em dois anos, queremos estar abatendo os animais com 14 meses”, conta o produtor rural.
De acordo com o nutricionista Paulo Warken, o animal atinge esse peso nesse tempo porque tem bom desempenho especialmente na largura de garupa e de quartos traseiros.
Cooperativa e Grãos
Laginski faz parte de uma cooperativa que auxilia na venda, garantindo, de acordo com ele, “R$ 13 a mais por arroba”. “Não fosse a cooperativa não seria tão bom. Na verdade seria um desastre”, aposta. De acordo com ele, o associativismo permite o acesso a mais mercados e barganha melhores preços para os produtores.
Apesar de dedicar os maiores esforços à atividade, Piotre quer encontrar um número ideal para trabalhar com pecuária e agricultura. “Queremos chegar a 70% da área com agricultura e 30% com pecuária. Isso é o ideal para nós”, comenta. As três fazendas – o Canchim fica em apenas uma – juntas somam 648 alqueires, incluindo áreas preservadas. Em uma segunda fazenda, o produtor cria a raça Purunã. Em novembro, de acordo com Piotre, a carne passa a integrar o cardápio da rede de restaurantes Madero, que tem a carne de qualidade como principal destaque.
Genética
Os bovinos que se sobressaem aos demais, explica o produtor paranaense, são encaminhados para a comercialização. “Estamos investindo para vender genética também. Os melhores animais são separados. A maior parte vai para o abate, mas também trabalhamos com genética, tanto do Canchim quanto do Purunã”, articula.
Em sua visão, Laginski aponta em um ano bom para os negócios. Estamos nos estruturando bem e acredito que vamos começar a colher mais os frutos em 2018. Estamos motivados”, acentua. “Tivemos uma mudança de pensamento, visando obter maior produtividade por área, e estamos tendo um ótimo desempenho. O ano que vem vai ser excelente”, assinala o pecuarista.
Fonte: Canal do Produtor