O ano de 2017 entrou para a história como o ano em que os alimentos caíram de preço. Foi a maior queda em quase 40 anos, desde que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) começou a ser apurado em 1980.De janeiro a outubro, os itens usados para o preparo de refeições em casa caíram, em média, 4,57%, segundo a medida oficial da inflação.
O recorde se explica, em boa parte, pelo clima excepcional que levou o País a colher uma supersafra. Mas a crise também ajudou a derrubar a inflação da comida: com menos renda, o consumidor brecou aumentos.
Como a trajetória de queda deve persistir nos dados de novembro e dezembro, a previsão é de que o preço dos alimentos termine o ano com queda superior a 5%. Se as projeções de consultorias se confirmarem, 2017 deve registrar a maior retração de preços da comida no domicílio desde 1980, afirma o economista da LCA Consultores, Fabio Romão. Até hoje, o único resultado anual negativo nesta categoria ocorreu em 2006, de – 0,13%, e beirou a estabilidade.
O recuo recorde registrado este ano tem aliviado especialmente o bolso das famílias de menor renda, que recebem até R$ 4.685 por mês e gastam 22% para preparar a refeição em casa. É uma fatia do orçamento muito maior do que nas famílias mais abastadas que empenham na alimentação no domicílio 16%, aponta a economista do IBGE, Denise Cordovil.
- A queda dos preços dos alimentos é um alívio para os mais pobres, mas muitos não conseguem perceber porque o desemprego está muito elevado – observa o economista Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, André Braz.
De toda forma, ele pondera que a situação para esses brasileiros seria pior se a inflação estivesse em níveis mais elevados.
Feijão com arroz
- Muitos itens da alimentação básica do brasileiro caíram neste ano – diz Romão.
O feijão recuou mais de 35%, de janeiro a outubro, depois de ter mais que dobrado de preço no mesmo período do ano passado. O arroz caiu quase 10% neste ano. De janeiro a outubro de 2016 tinha subido 16%, mostra o levantamento feito pelo economista da LCA.
Mais da metade dos 153 subitens que compõem o grupo alimentação no domicílio no IPCA tiveram queda de preço nesse período. As carnes ficaram 4% mais baratas neste ano até outubro. É um resultado importante comparado às altas de 9% e 2% registradas nos mesmos meses de 2015 e 2016, respectivamente, diz Romão.
Na avaliação de economistas, o movimento de queda no preço da comida, que é o grupo que mais pesa no IPCA, é decisivo para que o índice de inflação fique abaixo de 3% este ano.
Apesar do alívio provocado pela queda dos preços dos alimentos, Márcio Milan, economista da Tendências Consultoria Integrada, destaca que os reajustes dos combustíveis e da energia estão “comendo” uma parte desse ganho. Ele lembra que, depois da comida, gastos com tarifas são os que mais pesam no orçamento das famílias de menor renda.
- Se não fosse a alta dos preços administrados, a inflação geral seria menor ainda – afirma Milan.
Para um IPCA de 3% previsto para este ano pela consultoria, os preços que não são regulados pelo governo devem subir 1,3% e as tarifas, 8,1%. Sem a forte pressão das tarifas, a inflação geral ficaria entre 1,5% e 2%, calcula o economista.
Varejo
A queda nos preços dos alimentos tem reflexos também para o comércio varejista. Na análise do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes, o recuo dos alimentos deverá garantir uma retomada mais vigorosa do comércio como um todo, uma vez que os hiper e supermercados respondem pela maior fatia anual das vendas do varejo brasileiro.
- De cada R$100 faturados no varejo, R$30 advém dos hiper e supermercados – diz Bentes.
Para 2018, a expectativa é de que a queda nos preços dos alimentos não se repita com a mesma intensidade e as cotações voltem a subir, mas sem uma disparada.
- Esse céu de brigadeiro não vai durar para sempre – diz Romão.
Ele observa que os preços de produtos importantes, que recentemente atingiram valores mínimos históricos, estão aumentando e vão chegar ao consumidor.
Fonte: Gazeta do Povo