A herança familiar e o conhecimento cotidiano não são mais suficientes para assegurar o bom desempenho dos negócios rurais. É preciso aprender novas técnicas e aplicar tecnologias inovadoras. Focado nessas perspectivas, o Sindicato Rural de Quixadá (Sinrual) juntamente com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (Sebrae) estão promovendo uma série de cursos, começando pela bovinocultura, segmento tão forte na região como a ovinocaprinocultura.
Pequenos e médios produtores, inclusive da agricultura familiar, resolveram abraçar essa oportunidade. Além da sala de aula, eles estão indo ao campo, e conhecendo novos modelos de gerenciamento e também os segredos de aperfeiçoamento das produções. “A bovinocultura foi a primeira delas”, explicou o presidente do Sinrural, Francisco Fausto Nobre Fernandes. Ele demonstrou o exemplo da Fazenda Itaguassu, pertencente ao agropecuarista Júnior Carneiro.
Banho e dormitório
A empresa rural, que tem como sua atividade principal a produção de leite bovino, é considerada, juntamente com a Fazenda Equador, de padrão inovador no Nordeste. Os números do rebanho não são revelados, e nem a produção leiteira diária, mas, a contar pela organização e as técnicas utilizadas, dentre elas o resfriamento corporal dos animais com banho de chuveiro, de 20 a 30 minutos antes da ordenha, é uma demonstração.
Até uma espécie de dormitório, com direito a cama especial, de areia, demonstra os cuidados com o rebanho, tudo para aumentar a produção leiteira. O resultado é observado no desempenho por animal, superior pelo menos 30% em relação à criação nos padrões convencionais. O tipo de ração para cada fase e até mesmo o acompanhamento eletrônico das vacas nos ciclos de cio são outras técnicas e tecnologias utilizadas na Fazenda, explica o gerente Wilson Nobre.
A última novidade trazida por Júnior Carneiro, a tornozeleira eletrônica, é similar à utilizada para o monitoramento de presidiários em liberdade vigiada. Todavia, nas vacas, o equipamento tem outra finalidade: é possível acompanhar em tempo real qual o período ideal para ocorrer a nova inseminação do animal. “O sinal dispara no computador”, acrescenta o gerente.
Na fazenda vizinha, a Equador, as crias, os bezerros, ganharam um “berçário”, onde recebem cuidados especiais. Na criação tradicional, os donos dos animais costumam deixar as crias até 30 dias mamando. Esse hábito é considerado um atraso e, praticamente, não traz nenhum benefício para os animais. Com esse outro modelo, os bezerros crescem mais rápido e não afetam a produção.
Conforme o presidente do Sinrural, Fausto Fernandes, essas são apenas algumas demonstrações dos avanços na criação dos animais e na produção de leite. Os resultados são significativos, garante. Por meio desses conhecimentos, o pequeno criador tem como produzir mais com um menor número no seu rebanho. Com os cursos, a resistência em manter hábitos antigos deverá diminuir, avalia.
Essa também é a expectativa quanto ao cultivo da palma forrageira, a única silagem viva, mesmo em época de estiagem prolongada. Utilizando os procedimentos corretos, ensinados no curso, se tornará um excelente complemento alimentar. A silagem dos grãos umidificados é outra técnica. Melhora a digestão e o animal aproveita 100% dos nutrientes, explica o médico veterinário Sílvio Gouveia. Ele trabalha em uma empresa de Minas Gerais que presta assistência técnica às duas fazendas.
Formação continuada
Tratorista, manejo sanitário, inseminação artificial e até a promoção social estão no pacote de conhecimentos da formação promovida pelo Senar, vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), com o Sebrae.
A Formação Profissional Rural (FPR) tem esses objetivos: qualificar, aperfeiçoar, atualizar o produtor rural e o trabalhador rural e suas famílias, de acordo com as necessidades apresentadas pelo grupo. A assistência técnica e gerencial são fundamentais nesse processo, promovido por meio do programa Sertão Empreendedor, do Senar.
Em pouco mais de 60 dias de curso, com aulas presenciais na sede do Sebrae e as visitas de campo, já é possível notar a mudança de comportamento dos 21 participantes. Perceberam a importância dos novos conhecimentos e de como saber aplica-los, todavia, há necessidade de mais técnicos no campo. Eles são o suporte para a boa aplicação desses conhecimentos, acrescenta Fausto Fernandes.
Fonte: Canal do Produtor