As importações brasileiras de fertilizantes, atrasadas neste ano devido ao cenário de custos mais elevados, deverão enfrentar um gargalo logístico nos portos neste semestre, ameaçando a entrega aos agricultores que deixaram para comprar o insumo pouco antes do plantio da safra de verão, em setembro.
A avaliação é da consultoria INTL FCStone, para quem a capacidade brasileira de importação de fertilizantes é insuficiente para atender a demanda pelo produto nos próximos meses, ainda que o consumo seja menor neste ano, em meio a juros mais elevados e desvalorização do real que encarece os produtos importados.
O Brasil, embora seja uma potência agrícola global, importa cerca de três quartos de sua necessidade anual de fertilizantes. No segundo semestre, os negócios tradicionalmente envolvem maiores volumes do que no primeiro.
A analista de fertilizantes da FCStone, Mony Belon, disse à Reuters ser “bem possível” que aqueles que deixaram para comprar o fertilizante na boca da safra, de última hora, fiquem sem receber o produto, por conta do atraso nas importações e dos problemas logísticos.
- Conforme está muito atrasada (a importação), mesmo prevendo redução da demanda, ela (a demanda) vai ser superior à capacidade de importação – disse Mony, lembrando que a venda de fertilizantes ao consumidor final recuou quase 10% no primeiro semestre, ante o mesmo período de 2014.
A FCStone estima que as vendas de fertilizantes vão se recuperar neste segundo semestre ante o primeiro, mas ainda assim devem cair 5% ante o recorde de mais de 32 milhões de toneladas de 2014.
A consultoria estima a necessidade de importação mensal de fertilizantes para julho, agosto e setembro entre 2,7 milhões e 3,3 milhões de toneladas, “já acima da capacidade portuária brasileira”.
- Pode haver uma queda maior que os 5% (projetados para o ano) em função do problema logístico – acrescentou a analista.
Segundo ela, a eventual falta do produto para abastecer os agricultores pode intensificar a redução esperada da demanda.
Além do custo mais alto dos fertilizantes devido ao câmbio, os preços dos produtos agrícolas não estão mostrando o mesmo brilho que elevou a rentabilidade dos agricultores nos últimos anos.
A analista ressaltou que a relação de troca entre adubo e importantes produtos, como soja e milho, está mais desfavorável ao agricultor neste ano.
No primeiro semestre de 2015, a relação de troca de fertilizante por soja ficou 36,8 por cento mais custosa para o agricultor do que no ano passado. Para o milho, a alta foi de 21,9%.
A consultora lembrou que desde o início do ano as importações estão mais lentas, já que o setor iniciou o ano com estoques mais elevados e também por atrasos nas compras de agricultores menos capitalizados.
- Os distribuidores com estoques altos acabaram não importando mais produtos com uma folga maior de tempo… e como tem deficiência de armazenagem não importaram com antecedência em momento de menor demanda – disse.
CLIMA
O clima chuvoso também está afetando as operações em Paranaguá (PR), principal porto de desembarque de fertilizantes no Brasil.
- Os dados de ‘line up’ (de navios) de fertilizantes da semana anterior mostraram um forte aumento no tempo de espera nos portos, e as condições climáticas desfavoráveis têm feito a atividade de desembarque ser paralisada frequentemente – disse a FCStone.
Segundo a analista, há em Paranaguá mais de 1 milhão de toneladas de fertilizantes em espera para o desembarque, após dias de desembarques suspensos diante das chuvas intensas.
E a perspectiva é de que a região siga apresentando volume de chuvas acima da média este ano, o que pode gerar novas paralisações, acrescentou Mony.
Fonte: Reuters