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Incertezas travam a logística da safra brasileira

As incertezas em relação à política e à economia brasileiras, que afetam diretamente o custo dos financiamentos, além de aumentarem a burocracia dos bancos, tornam nebuloso o horizonte para quem deseja investir em obras de infraestrutura no país. Foi o que mostrou o 5° Fórum Caminhos da Safra, que encerrou a série de reportagens realizadas por Globo Rural sobre infraestrutura e logística no agronegócio.

O evento reuniu em São Paulo mais de 100 especialistas no segmento e mostrou que o déficit de armazenagem da produção agrícola é um exemplo claro desse quadro. Apesar do gradual aumento no número de silos construídos no último ano, o país teve um dos maiores déficits de armazenagem recentes: 77 milhões de toneladas. A colheita foi de quase 240 milhões de toneladas, contra uma capacidade estática de pouco mais de 161 milhões de toneladas. O descompasso entre produção e estocagem é um quarto maior que o registrado no último ano de recorde da colheita, ocorrido na temporada 2014/2015, quando os produtores brasileiros colheram das lavouras 207 milhões de toneladas de grãos e a capacidade estática nacional era de cerca de 150 milhões de toneladas.

Para o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Carvalho, as frequentes mudanças nas taxas de juros praticadas no país estão entre os maiores entraves ao investimento. “Hoje, quem pega crédito no banco a 8% ao ano corre alto risco de algum tempo depois ver a taxa de juros caindo a 6% ao ano. Como lidar com isso? Já estamos a caminho do fim do ano e, se o clima for bom, teremos outra supersafra. Não temos ideia do que vai acontecer no ambiente econômico e político”, destacou.

Investidores que participaram do fórum afirmaram ter dinheiro próprio e disposição para investir na infraestrutura do país, mas, sem segurança para realizar bons negócios, acabam postergando a decisão.

O coordenador do grupo de armazenagem na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Implementos (Abimaq), João Tadeu Vino, apontou a necessidade de aumento da capacidade de armazenamento do país: 6 milhões de toneladas por ano. “Assim não teríamos a dificuldade que temos hoje. Não temos como crescer de 10 milhões a 15 milhões de toneladas por ano, porque nem teríamos condições de ter obra civil para isso”, disse. Para o executivo, também é preciso ter um planejamento de longo prazo, para dar segurança aos investimentos. “É um absurdo ainda termos um plano safra anual.”


Consultor de Logística Luiz Antonio Fayet

O consultor de logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antonio Fayet, diz que o país faz um “abortamento de oportunidades” ao não dar atenção para importantes empreendimentos que agilizariam o escoamento da produção agrícola e reduziriam os custos do setor, que é a base da economia. O Arco Norte é um exemplo disso. “Por ano, o Brasil perde mais de US$ 1 bilhão ao enviar grãos do norte de Mato Grosso para o Sul ou Sudeste em vez de enviar para o extremo norte”, ressalta Luiz Fayet.

Cinco anos de estrada
Em 2017, o Caminhos da Safra completou cinco anos de estrada. O projeto idealizado por Globo Rural faz um diagnóstico da logística de escoamento da produção agrícola brasileira, percorrendo as principais rotas entre fazendas e portos, de norte a sul do país.

Neste ano, a série de reportagens começou pela BR-163, principal eixo de escoamento da safra, e se estendeu ao extremo norte. As equipes estiveram pela primeira vez na região de Belém (PA) e Macapá (AP) para conferir o andamento de novas e antigas obras de terminais portuários na região. A penúltima reportagem da série trouxe um detalhamento sobre as vantagens e desvantagens da logística na Argentina, segundo maior produtor de grãos da América do Sul. A série de reportagens dura oito meses e é encerrada com o Fórum Caminhos da Safra. As matérias são publicadas nas páginas e no site da revista.

Fonte: Canal do Produtor



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