Os franceses pretendem levantar essa questão no Conselho Europeu, que reunirá os líderes do continente nesta semana em Bruxelas. Deverão propor que as negociações ocorram num cronograma diferente. E que a questão de segurança alimentar seja incluída nas discussões.
A ideia de adiar o fim das negociações foi levantada pelo presidente da França, Emmanuel Macron. Num evento com produtores agrícolas, ele afirmou que não é a favor de correr para fechar o acordo em dezembro – uma meta que havia sido aceita pelos dois lados da negociação. Agora, já se admite reservadamente que dificilmente será cumprida.
- Nós queremos o acordo – afirmou o embaixador. – Mas não a qualquer preço. -
Depois de ressalvar, como ponto positivo, que os problemas da Carne Fraca foram levantados pelo próprio governo brasileiro, Miraillet disse que “nada” foi feito a respeito. E que essa é uma questão que preocupa o consumidor europeu.
Fontes do lado brasileiro classificaram o movimento da França como uma manobra protelatória, reflexo das tradicionais pressões dos produtores agrícolas locais sobre o governo. Elas avaliam que a proposta francesa tem pouca chance de prosperar, porque ela é apoiada por um grupo pequeno de países. Para modificar o mandato negociador, é preciso que haja consenso dos 28 países-membros do bloco europeu.
Se a União Europeia abrir discussões sobre o mandato negociador, o Mercosul fará o mesmo, dizem fontes. Isso, na prática, jogará o fim das negociações, que se arrastam desde 1999, para uma data indefinida.
A carne brasileira, explicam, só ingressa na União Europeia se estiver de acordo com as regras sanitárias que ela aplica a seus fornecedores do mundo inteiro. Do contrário, a carga é rejeitada. E não é possível ao bloco europeu estabelecer regras diferentes só para o Mercosul.
Proposta
Mercosul e União Europeia terão outra rodada de negociações entre 6 e 10 de novembro. O lado sul-americano espera uma nova oferta para o comércio de carne e etanol. Os números propostos há duas semanas foram considerados muito ruins, praticamente uma provocação. A pressão francesa pode ser um complicador para a Comissão Europeia propor cotas anuais maiores do que as 70 mil toneladas de carne e 600 mil toneladas de etanol colocadas sobre a mesa. O Mercosul esperava no mínimo 100 mil toneladas de carne e 1 milhão de toneladas de etanol.
– A oferta pode piorar – diz o embaixador. – Não temos o tira bom e o tira mau. Somos todos maus. -
Fonte: Gazeta do Povo