O Plano Estratégico do Programa Nacional de Febre Aftosa (Pnefa), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, quer tornar todo o Brasil área livre da doença sem vacinação até 2023. Por enquanto, Santa Catarina é o único estado que detém tal condição. O Rio Grande do Sul, que é zona livre com vacinação, suspenderia as campanhas de imunização do rebanho em 2021, mas decidiu acelerar o processo, visando alcançar o novo status, de “estado livre sem vacinação”, em 2019, seguindo os passos do Paraná, que já trabalha pela mudança.
O secretário da Agricultura, Ernani Polo, afirma que a ideia é discutir ações que venham a intensificar o controle das fronteiras em conjunto com o setor privado e o Ministério da Agricultura. Entre as medidas já em andamento ele cita o georreferenciamento das propriedades e a construção de um almoxarifado central,em Cachoeira do Sul, que irá abrigar equipamentos para atendimentos de emergência na área de sanidade animal. Durante a semana, o Estado anunciou ainda que irá chamar 30 veterinários aprovados em concurso para trabalhar nas inspetorias veterinárias, com foco nas regiões de fronteira.
Uma auditoria para avaliar a condição sanitária do Estado já foi solicitada ao Mapa e deve ocorrer em 2018. Polo ressalva que isso não significa que a vacinação será suspensa necessariamente a partir de 2019.
- O que solicitamos é uma auditoria para avaliar o nosso serviço e a implementação do plano. A partir dessa auditoria vamos tomar a decisão – explica.
Apesar disso, há uma preocupação com relação ao possível avanço de status dos paranaenses, que também manifestaram interesse em antecipar o processo.
- Se o Paraná avançar e nós ficarmos para trás, a tragédia é imensa – afirma Polo, referindo-se aos nicho de mercado que poderão ser explorados por aquele estado, em especial na venda de carne suína.
Outro assunto que deverá voltar à mesa de discussão é a rastreabilidade do rebanho bovino gaúcho. De acordo com Polo, a identificação será discutida no âmbito do recém-criado Observatório da Carne.
- É um caminho natural – avalia.
O superintendente do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul, Bernardo Todeschini, sustenta que vacinar ou deixar de vacinar não altera a necessidade de recursos destinados ao controle sanitário. Mas observa que a retirada permite que os recursos destinados à imunização sejam direcionados a outras áreas, como a vigilância por barreiras móveis ou em pontos de risco. E ressalta, ainda, que a suspensão da vacinação não muda a chance de a aftosa entrar no Estado.
- A vacina não é um repelente – esclarece.
Para o superintendente, pensamentos equivocados sobre o tema podem levar a descuidos em procedimentos normais de vigilância, mesmo onde há vacinação. Por isso, Todeschini reitera que o controle de fronteiras deve ser reforçado, com vacinação ou não.
Sobre o posicionamento dos países vizinhos, Todeschini observa que o Uruguai já está praticamente dentro do seu limite de exportação de carne bovina, enquanto que a Argentina, desde o corralito, em 2001, não recuperou sua posição no mercado mundial. Embora exporte volumes pequenos de carne bovina, o Rio Grande do Sul é um grande vendedor de carne suína ao exterior. Este é um segmento que pode vir a ser beneficiado com a abertura e a diversificação de mercados.
- Se vacinamos bovinos, isso significa que temos medo de que exista a febre aftosa aqui dentro, ou que tenhamos alguma incapacidade de controle. Isso, de certa maneira, vale para os suínos também – explica o superintendente, referindo-se à sinalização de sanidade que a retirada da vacinação dá ao mundo.
Fonte: Correio do Povo