A manutenção das máquinas agrícolas e o uso de sementes, fertilizantes e agrotóxicos no cultivo de arroz são os principais itens que compõem os custos de produção deste cereal no principal estado produtor: o Rio Grande do Sul. Estudo realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revela que a participação expressiva do maquinário nos gastos se deve ao uso em solos úmidos ou alagados, condição que propicia maior desgaste, e à alta abrasividade do arroz em casca, que provoca a degradação dos equipamentos de colheita e secagem.
O trabalho, intitulado “Evolução dos custos de produção e rentabilidade do arroz irrigado gaúcho nos anos-safra 2006/2007 a 2016/2017″, mostra que as máquinas representam 20,67%, 18,13% e 19,78% dos custos de produção em Cachoeira do Sul, Itaqui/Uruguaiana e Pelotas, respectivamente. Já sementes, fertilizantes e agrotóxicos correspondem a 28,71% dos custos em Cachoeira do Sul, 33,02% em Itaqui/Uruguaiana e 26,24% em Pelotas.
Na análise de rentabilidade, o estudo revela que a partir da safra 2012/2013 os indicadores foram positivos nas localidades analisadas. De acordo com o superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, Aroldo de Oliveira Neto, os preços recebidos pelos produtores têm relação direta com a localização geográfica da produção, com a logística e com o comportamento da produtividade.
- A receita bruta positiva do produtor também está relacionada com os resultados na implementação dos novos pacotes tecnológicos. O aumento nos custos operacionais é compensado pelo incremento da sua lucratividade – ressalta.
Para a escolha das cidades analisadas o estudo considerou, principalmente, as diferenças regionais quanto a clima, solo, condições mercadológicas e logística. Foram eleitas as localidades de Uruguaiana, representando a Fronteira-Oeste; Cachoeira do Sul como representante da Depressão Central do Estado; Pelotas, representando a zona Sul; e Santo Antônio da Patrulha, representando a Planície Costeira Externa do Estado. Em função do período em análise, foram levados em conta três municípios: Cachoeira do Sul, Itaqui/Uruguaiana e Pelotas.
A inclusão de dados nacionais no trabalho posiciona o Brasil como sexto maior produtor mundial de arroz em casca, com 1,78% da produção do planeta. O País é também o maior mercado consumidor fora da Ásia e o 18º do mundo em relação à produtividade média. Nos dois maiores estados produtores brasileiros, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a produtividade gira em torno de 7 mil kg por hectare.
Brasil está entre os 10 países com a maior área irrigada
O Brasil está entre os 10 países com a maior área irrigada do planeta, mostra estudo feito pela Agência Nacional de Águas (ANA). De acordo com o Atlas Irrigação: uso da água na agricultura irrigada, atualmente o País tem 6,95 milhões de hectares que produzem alimentos utilizando diferentes técnicas de irrigação. A pesquisa, lançada ontem mostra ainda que o montante é apenas 20% da área potencial para a atividade.
De acordo com o levantamento, a região Sudeste apresenta 2.709.342 hectares irrigados; a Sul, 1.696.233; a Norte, 194.002 ha; a Nordeste, 1.171.159; e a Centro-Oeste, 1.183.974. O estudo da ANA destaca quatro métodos de irrigação como os principais no País: por superfície, subterrânea, por aspersão e localizada, especialmente usadas no agronegócio.
- Em que pese a diversidade, é possível extrair alguns padrões de larga escala entre métodos/sistemas e culturas, tais como a forte correlação entre a inundação e o arroz; entre o gotejamento, o café e a fruticultura; entre a aspersão convencional com carretéis enroladores (hidro roll) e a cana-de-açúcar; e entre os pivôs centrais e a produção de outros grãos, em especial algodão, feijão, milho e soja – diz o estudo.
Segundo o atlas, entre os principais cultivos irrigados no País, como arroz, cana-de-açúcar, culturas em pivôs centrais (método no qual a água é aspergida por cima da plantação utilizando-se uma tubulação suspensa), a exemplo do feijão, milho e da soja, e demais culturas e sistemas, “reitera-se a concentração do arroz no Sul e Tocantins; da cana no litoral nordestino e no Centro-Sul (São Paulo, Sul-Sudoeste de Goiás, Triângulo Mineiro); dos pivôs centrais na região Central (em especial Goiás, Minas Gerais e Bahia); e das demais culturas e sistemas no Espírito Santo, Mato Grosso, Paraná e nos estados no Semiárido (em especial áreas de perímetros públicos)”.
De acordo com a agência reguladora, a irrigação contribui para a estabilidade e o aumento da oferta de alimentos
- e o consequente aumento da segurança alimentar e nutricional da população brasileira. Tomate, arroz, pimentão, cebola, batata, alho, frutas e verduras são exemplos de alimentos produzidos sob alto percentual de irrigação – diz o atlas.
O estudo ressalta que, embora o crescimento da irrigação resulte, em geral, no aumento do uso da água, a atividade contribui para “o aumento da produtividade, a redução de custos unitários, a atenuação de riscos climáticos/meteorológicos e a otimização de insumos e equipamentos.” Conforme a ANA, o atlas ajuda no dimensionamento e nas estimativas de demandas da água, auxiliando na elaboração dos planos de Recursos Hídricos, nos estudos de Bacias Críticas e de demandas de Água. A pesquisa “é de fundamental importância para a estimativa de uso da água e para a atualização dos balanços hídricos, subsidiando a tomada de decisão e as análises de risco com vistas à segurança da agricultura irrigada e à garantia dos usos múltiplos da água”.
O levantamento reafirma a necessidade do uso da irrigação, especialmente em regiões afetadas pela escassez contínua de água, como no Semiárido.
- Uma parte importante da agricultura só se viabiliza mediante a aplicação artificial de água. Em regiões afetadas por escassez em períodos específicos do ano, como na região Central do País (entre maio e setembro), diversas culturas viabilizam-se apenas com a aplicação suplementar de água nesses meses, embora a produção possa ocorrer normalmente no período chuvoso – acrescenta o estudo.
Para a agência, o aprimoramento das informações relativas ao uso da água na agricultura, auxilia o Poder Público a tomar decisões mais efetivas a respeito do uso racional da água, reduzindo o mau uso.
Fonte: Jornal do Comércio