Um grande consórcio de pesquisa para a cana-de-açúcar e outras culturas ligadas ao mercado de energias renováveis vai reunir cientistas de 22 instituições públicas. Trata-se do Programa Plurianual Integrado de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em Cana-de-açúcar (Pluricana). Liderado pela Embrapa e executado com recursos de cerca de R$13 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Pluricana é o maior consórcio já criado para o estudo científico da cana-de-açúcar e agrega ações que vão desde a introdução e quarentena de plantas até o melhoramento genético convencional e assistido, passando por sistemas de produção e biologia avançada.
Além da cana-de-açúcar, o Programa irá buscar soluções para a cogeração de energia com culturas como Arundo donax (cana-gigante), capim-elefante, casca de coco-verde e sorgo sacarino.
- É um projeto fantástico que procura abarcar a temática da cana em toda a sua cadeia, propondo melhorias genéticas, repositório de mudas e aproveitamento do bagaço para a produção de etanol de segunda geração, por exemplo – explica Wanderley de Souza, diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep.
Segundo ele, esse grande consórcio de instituições, ao agregar parceiros em diversos pontos do Brasil, deverá acelerar a capacidade de pesquisa e desenvolvimento nessa área. Ao final do processo, o Pluricana deverá aprimorar a produção de cana-de-açúcar no País e expandir sua aplicação no dia a dia. O cientista acredita que, por causa da grande dimensão do projeto, o trabalho deverá gerar desdobramentos também em outras áreas do conhecimento.
O Pluricana está organizado em nove grandes temas de interesse nacional, segundo explica o coordenador do projeto, Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia.
- A área de melhoramento genético, por exemplo, fornecerá anualmente ao setor variedades cada vez mais adaptadas e produtivas – prevê o cientista informando que a coordenação dessa área de pesquisa está a cargo da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) e do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas (SP).
Já o grupo que trabalha com fixação biológica de nitrogênio (FBN) terá o papel de empregar bactérias diazotróficas capazes de fixar esse elemento no solo. Desse modo, o microrganismo será usado como insumo biológico capaz de suprir, total ou parcialmente, as necessidades de nitrogênio da cana-de-açúcar.
O projeto contempla ainda ações na produção de sorgo sacarino e de sorgo biomassa, bem como fitossanidade dessa cultura, da cana-de-açúcar e de capim-elefante. Prevê, também, recursos para ampliação e manutenção das estações de cruzamento da Ridesa e do IAC.
De acordo com Molinari, a iniciativa do Pluricana vai beneficiar o avanço das pesquisas públicas com cana-de-açúcar e outras biomassas agroenergéticas. Ele destaca que o projeto será executado em diversos pontos do Brasil por pesquisadores de sete Unidades da Embrapa (Agrobiologia, Agroenergia, Cerrados, Clima Temperado, Informática Agropecuária, Milho e Sorgo e Tabuleiros Costeiros) e de outras importantes instituições: Ridesa, IAC, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).
- É um projeto que beneficia todos os grupos que trabalham com melhoramento genético da cana na esfera de instituições oficiais – diz Marcos Landell, diretor do Centro de Cana do IAC em Ribeirão Preto (SP). Landell ressaltou também que, nos próximos 15 anos, deverá ocorrer um aumento de 50% na área ocupada pela canavicultura, expansão que deve se dar, basicamente, nas regiões de pastagens. – São áreas restritivas que precisam ser viabilizadas por meio de seleção de variedades regionais e isso envolverá a ação dos programas de melhoramento genético – prevê.
Geraldo Veríssimo, coordenador do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e diretor da Ridesa, acredita que cultivares de cana-de-açúcar desenvolvidas com o apoio dessa rede trarão maiores rendimentos agroindustriais para os canaviais brasileiros. Essas cultivares serão desenvolvidas com características de tolerância a pragas e doenças e maior eficiência no uso da água. Com isso, espera-se um aumento considerável da produtividade dos canaviais refletido em uma maior rentabilidade para o setor sucroalcooleiro energético.
Parceria
O coordenador da Agência Paulista de Tecnologia de Agronegócios (APTA), Orlando Castro, destacou a importância da cooperação interinstitucional.
- Reunir diversas instituições de pesquisa, com expertises diferentes em torno de um projeto, é um exercício extremamente positivo e que deve ser ampliado para outras áreas – acredita.
Para o coordenador da APTA, o trabalho conjunto é mais eficiente pois otimiza esforços e promove mais resultados para financiadores e sociedade.
- Essa integração permite compartilharmos infraestrutura de pesquisa, evitar duplicidade de ações e compartilhar conhecimentos. É uma relação em que todos ganham – diz.
O projeto, que terá duração de dois anos e meio, foi escolhido pela Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) como piloto para testar a nova versão de seu sistema de gestão informatizado (Agrega), conta Molinari.
- Fomos escolhidos devido à complexidade de gestão da rede e instituições parceiras envolvidas – destacou. – Acredito que este modelo em rede vai ser útil para trabalharmos no Pluricana, aliados a vários centros de pesquisa. Já temos essa experiência de trabalhar em rede na Ridesa, com dez universidades, e a interação entre essas instituições públicas tem gerado resultados excelentes – ressalta Veríssimo.
Segundo o pesquisador da Embrapa Clima Temperado Sérgio Delmar, responsável pelo grupo de melhoramento genético, a concretização dessa ampla parceria se dará pela formação dos grupos de pesquisa.
- Integrá-los é nosso principal desafio para atingir o objetivo maior que é um grande programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em cana-de-açúcar conduzido por esta rede de instituições públicas de alta competência – afirma o cientista.
- Com a formação dessa rede, podemos garantir nossos projetos por muitos anos, gerando ciência, tecnologia e formação de recursos humanos. Sentimos fortemente a união entre parceiros e a vontade de vencer obstáculos – salienta Delmar. – Temos muitas oportunidades com a rede para responder às demandas e oferecer novas tecnologias ao setor sucroalcooleiro energético – ressalta. O diretor da Ridesa reforça: – as pesquisas proporcionarão resultados significativos e promoverão a elevação dos rendimentos do setor sucroenergético brasileiro. -
Fonte: Embrapa